terça-feira, janeiro 9

David Bowie Day – January, 8th

Fãs do mundo inteiro comemoram esse dia que passou como feriado internacional. Ou mais.

Pra algumas pessoas o nascimento do Sr. David Jones representa mais que o do Sr. JC. Talvez esse seja o meu caso.

Há 20 anos atrás ele entrou na minha vida como Jareth, o Rei dos Duendes que leva os irmãos chatos para o além e se apaixona por ti. Durante a adolescência houve um período de latência previsível no qual nos separamos (sem mencionar o que ele fez de 87 até o início dos anos 90, a idade das trevas). Há 10 anos atrás eu adoeci irremediavelmente. Comprava o álbum Outside, como já relatei a historinha por aqui várias vezes, e depois disso David Bowie se tornou meu amigo, amante, profeta, psiquiatra, exemplo, guru, e por aí vai. Deus.

Na mesma época surgia a Bowie Net, o seu provedor próprio, no qual eu era associada e tinha informações até da cor da cueca que ele usava no dia, tendo coletâneas minhas publicadas no site e respostas do próprio para algumas das minhas perguntas inquietantes (nada interessante pra outras pessoas, por ex. “David, what do you wonder about Peter Hammill’s works e blá blá blá”). Depois de um tempo o Plano Real mostrou a que veio e o sonho de 1 dólar = 1 real acabou, assim como a minha assinatura. Hoje a Bowie Net é uma mega rede com milhões de usuários, e particularmente, eu não pagaria os 64 bucks anuais pra me decepcionar. No início éramos 20, e os que ficaram da época hoje são redatores do site e têm ingressos grátis pra qualquer apresentação. Maldito Brasil e seus problemas econômicos.

Eu havia esquecido, da mesma forma que esqueço os aniversários de todo mundo, menos o meu e o do meu filho (e o da minha mãe, que é no mesmo dia que o dele). Mas a internet é linda e nos deu o Orkut.

Há algum tempo atrás eu descobri que no Rio de Janeiro vários fãs se reúnem e fecham o dia 8 inteiro (da meia noite e um até onze e cinqüenta e nove) de um estúdio pra ficar fazendo jam sessions, bebendo vinho, fumando Marlboro e tocando....hmmm....Bowie. O tempo todo. Já tentei organizar algo parecido por aqui, mas nunca dá certo, faltam músicos e falta organização. Someday, someday.

ELE sempre está presente. E mais do que isso, com a ajuda da Assistência, sempre que acontece algo “that really matters” na minha vida, é só prestar atenção na trilha sonora, que ELE está lá, fazendo sinal de positivo. Garanto que é completamente involuntário e até assustador de vez em quando.

Não sei mais o que falar sobre isso. Minha vida não seria a mesma sem ELE.

Parabéns, London Boy, Karma Man, Madman, Superman, Starman, Ziggy, Aladin, Dory, Bitch, Duke, Sweet Thing, Hot Tramp, Angel, Hero, Dog, Alien, DJ, Nathan, Daddy, Dreamer, Earthling… Enfim, que você tenha a eternidade toda, Wild Eyed Boy.

Keep Swinging!

*

Pra encerrar (óbvio que não consigo parar por aqui sem falar de nenhuma música), fiz um exercício bem conhecido pelos nerds. Botei todos os álbuns no shuffle enquanto escrevia aqui, o que deu uma seleção caótica de 13 músicas, e vou comentá-las brevemente.

01. Dodo / 1984

A primeira eu tive escolher, então introduzo com essa versão especialíssima, ao vivo, que está na edição de aniversário do Diamond Dogs como bonus track. Em todo o trabalho do Bowie, encontramos milhares de referências, mas o Diamond é uma prova concreta do que Orwell fez com a cabeça dele. 1984 é um show de letra e composição. O medley com Dodo só a deixa mais forte ainda. Me lembra os bons tempos de discotecagens intocáveis na Funhouse.

02. We Are Hungry Men

Bowie mod, cabelinho e terninho, tentando imitar a negrada, tem coisas maravilhosas nesse disco (Deram Anthology), mas essa não é das minhas preferidas, mas o refrão já dá o tom: “we are not your friends, we don´t give a damn for what you´re saying, we´re here to live our lives!”

03. The Voyeur of Utter Destruction (As Beauty)

Outside. Falo demais desse disco, então não vou me alongar. Ela só é a melhor do álbum. Começo a ouvir o crescendo e as borboletas do estômago já ficam todas abusadas.

04. Jean Genie

Também não super faz minha cabeça at all. Mas representa um dos melhores álbuns da história da música (The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars). E no clipe vale conferir a estonteante Cyrinda Foxe, a groupie que mais faturou nos anos 70.

05. Sufragette City

Mesmo álbum, mesmo estilo, mesmo Ziggy enlouquecido.

06. Always Crashing On The Same Car

Uma balada dessas do tipo “a história da minha vida”. Não dá pra ficar imune. Quando se ouve o riff do refrão, é necessário afastar todas as giletes da casa. Fora o fato de figurar o Low, disco da trilogia Berlin, junto com Heroes e Lodger, que pra muitos, é insuperável.

07. China Girl

“I feel tragic like i´m Marlon Brando”. Oh My…sem comentários. Quem escreve isso sabe o que está dizendo.

08. Moonage Daydream

Muito culpada no cartório. Logo no início, quando estava chafurdando tudo sobre o trabalho do Homem, assisti o filme (Ziggy Stardust... – The motion picture). Moonage começa com riffão e um sussurro: “aah...uuuuuuh....uuuuuuuh....”, e abre numa declaração “I´M AN ALLIGATOR, I´M A MAMMA PAPPA COMMING FOR YOU!”, o choque foi sem igual, as pessoas na platéia transtornadas, fazendo coreografias no refrão (“keep your ‘letric eye on me babe / put your raygun to my head / press your spaceface close to my love / freakout in a moonage daydream...oooh yeah”), chorando, e aquele ser no palco, transando com todo mundo através da voz. Elvis? Nah. Beatles? Nah. Mick Jagger? Quase. Era uma persona, além do homem, ele não era real, era muito melhor. E Ziggy Stardust se apresentou pra mim.

09. Sorrow

E lá pelas tantas ele lança um disco só de covers. Pros puristas, é certo que ele arrasou com muitas obras definitivas, mas Sorrow, é uma graça. Brega pra caramba, quase um Cauby Peixoto hetero (ou não). Mas é trimmassa. Está no Pin Ups.

10. Breaking Glass

Também do Low. Todo aquele visual artê pós moderno, menos de 2 minutos de música. Textura forte nas guitarras. Sobre a Berlin Era vale lembrar que Bowie se preocupava demais com texturas, arranjos, etc. Tudo tinha que ser “visível”, "palpável”.

11. New Killer Star

Estrela maior do último disco, Reality. Como sempre o cara usa de um oportunismo sem igual pra gravar. O Reality é o Bowie tentando ser moderninho, uma das lendas da produção é que ele escreveu todas as canções ouvindo Song 2 do Blur. Não tem nada a ver, mas a gente nota aqui e acolá os ares de Albarn e Coxon. Nessa faixa mesmo, escute com atenção e pense naquela caixinha de leite bonitinha. :)

12. Changes

Feliz por ela ter dado o ar da cara. A personificação do homem. Ch-ch-ch-ch-changes!

13. Perfect Day

Hahaha! Então lembra o que eu falei lá em cima. Versão com vários artistas, na qual o Lou (Reed) destinou as melhores linhas (linhas? ãhn? Ãhn? Hahaha) ao nosso aniversariante.

Just a perfect day, you make me forget myself.

*suspira*

segunda-feira, janeiro 8


Black is the color of my true love’s hair é uma canção antiga, de origem celta. Uma das coisas mais perfeitas que já tive a alegria de ouvir. E é cantada por diversas vozes ao longo dos tempos, masculinas e femininas, o que dá uma riqueza sem igual à composição, porque é transposta liricamente para os gêneros de acordo com a ocasião, quando um homem canta, fala sobre ela, quando uma mulher, sobre ele.

As versões mais conhecidas (e mais fortes) ficam por conta de mulheres. E QUE mulheres! Se por acaso você já ouviu falar de “Black is the color...” possivelmente foi por causa de Nina Simone, já podia se bastar por aí! Judy Collins canta o original com a letra completa em sua maestria. Tem ainda a absurda e urgente versão do Twilight Singers, projeto do Greg Dulli, vocalista da extinta Afghan Whigs (Seattle 90s). A minha preferida, e a primeira que ouvi na vida, lá nos idos de 1997, é de Nnenna Freelon, jazzie de primeiríssima, de sair sacolejando pelo assoalho.

As letras cantam sobre o amor dedicado, idealizado, despretensioso. Pra interpretá-lo já basta a adoração. Nada melhor do que adorar. Sem nada em troca, pode até, veja, ser nebuloso, obscuro. Black is the color.

*

I write to you in a few little lines
I´ve suffered death ten thousand times


De noite, quando tudo fica quieto, ela acorda.

Não que não estivesse acordada antes, mas é quando o sol se põe que ela consegue respirar. O cheiro do sereno invade a casa que ficou fechada o dia todo, o fogão é ligado pra esquentar alguma coisa, as crianças dormem. Os livros que parecem empoeirados na estante começam a brilhar, as roupas parecem mais exuberantes, o som se espalha no cômodo, maquiagem em cima da cama. Maria vai sair.

As luzes sobre a cabeça, ela gira, gira, gira, roda errante, errando pela pista e não entende nada. Não entende porque não consegue viver sem aquilo, sem “a música batendo na barriga”*, sem o relógio que separa o que vai tocar, sem as pessoas que abraça sem sentido. Ela precisa ver, o estímulo visual traz a temperança.

Um dia esse moço, Júlio, lhe ofereceu bebida, ela nem ligou. Pra variar, estava cansada do emaranhado de faces sem história. Continuou rodando, rodando, atrás de quem lhe parecia acolhedor. Não aconteceu. A firmeza que se tem quando passa o colorido início de romance, apesar de surtir conforto, vai ficando cada vez mais dura, óbvia, vai perdendo substância, mesmo estando cheia de intimidade e afeição.

Júlio continuava lá, de olhinhos brilhantes, dizendo tudo que tinha que ser ouvido. Riso franco, concreto. The purest eyes, and the strongest hands. I love the ground on where he stands. É quando se abre espaço, se fornece a oportunidade e as chances pra alguém, que esse alguém consegue ser o que é. Maria o deixou se mostrar, e se gabar, e acreditar que tudo é possível.

Nem precisou fazer nada, ele a seduzia por dois, e por dois ressurgiu em muitos e deixou todas as memórias pra trás. Maria não conseguia decifrar os códigos, tampouco o ritmo em que aquilo acontecia. Ela se deixou levar. His lips are like some rosey fair.

Os egos imponentes deslizaram, direita, esquerda, e repetidamente. And he and I will be as one.

Ele não era de muitas palavras. Olhava, sentia, constatava. Tudo mais fácil pra ele que pros outros rapazes, que tinham que se esforçar pra adquirir a coragem necessária pra se aproximar de alguém que lhe era valoroso. Os rapazes nessa idéia não sabiam transpor absolutamente nada pra esfera palpável, essa era a realidade.

É bem claro que esse transpor não significava nada muito profundo. Uma vez que na linguagem masculina o que importa é mais uma conquista, e se sentir um pouco menos solitário. Alguém que te dê um sorriso, um afago, um olhar de reciprocidade. Ao menos por alguns minutos ou horas. E após, a necessidade de ser um Casanova orgulhoso se manifesta.

If he on earth no more I did see…

As faces ruborizavam-se conforme o ímpeto do amor se fazia crescente. Ela fechava os olhos e se imaginava verdadeira rapisódia, ele, sentia o cheiro dela e visualizava a própria ninfa arfante de Chipre.

Eis então que remetem a um ninho, e o ninho se pressupõe casto, insigne. Não tem luzes piscando, nem a música ensurdecedora, nem os olhares dos passantes e juízes de coisa nenhuma. E os signos se pressupõem benfazejos, promissores.

Ai de ti se pensares o contrário, mas até agora só enxergo os pródigos buscando a liberdade!

Manifesta a balbúrdia atonal, dos diferentes sons, desencontrados suspiros e gemidos num baile de lamentos sobre o que é a vida. O que é o vingar da existência parca e pôr os pés no chão e respirar com vontade.

O solo que grita é pelo sentir de novo, renascer do torpor que a amargura reservou, assumir a sensação nata do prazer que é dividir.

Maria entreabriu os olhos, enxergou o vazio sereno. Não o vazio do abandono. Mas as possibilidades. A tábula rasa pra escrever o momento seguinte e os conseqüentes. The winter is passed and the leaves are green.

Julio mergulhou nas madeixas negras e perfumadas e desejou sonhar por ali mesmo. Pelo menos por enquanto.

Tho’ a finest face, and the neatest hands…


*I´m alive
Vivo muito vivo
Feel the sound of music
Banging in my belly belly belly

Nine out of ten – Caetano Veloso
*

You Tube

Judy Collins (não é das melhores, mas o vídeo tem a letra, qu não vai se encontrar em outro lugar, na íntegra)

Twilight Singers (aproveite e assista o Conjure Me do Afghan que é uma delícia)

quinta-feira, janeiro 4

There´s no place like home. (ou this town called malice, fazendo dancinhas)

Cheguei, e estou satisfeita com o ar que respiro, meu quarto e minhas roupas. E meus sapatos novos, claro, principalmente um rosa cintilante. Minha mãe diz que não é um calçado, é uma fantasia.

Tenho que falar sobre aquisições. Realmente não entendo o consumismo desenfreado que atinge as pessoas quando vão pra São Paulo, comprei algumas coisas, sim. Mas me foquei num sebo que fez muito mais minha alegria do que uma calça jeans nova ou cintos de estampas animais.

A Inconstante – Guy de Maupassant – 10,00

Eu comecei a gostar do Guy no ano passado. Ele conseguiu deixar de lado as revoluções na França e botou a cabeça pra funcionar. Enquanto Zola “germinava” críticas sociais ele falava sobre os problemas das pessoas. Sempre mais importante, e muito mais interessante.

As Noites Revolucionárias – Restif de La Bretonne – 20,00

Quem é um pouquinho revolucionário sabe que Bretonne é um grande nome. Quem gosta de Vitor Ramil sabe que Bretonne é imprescindível. Neste volume ele relata a revolução vista da janela de casa, ou da porta de um boteco. O público pelo privado, adoro.

História da Comuna de 1871 – Prosper / Lissagaray – 20,00

Esse já é mais científico. E sim, eu adoro o processo revolucionário francês. Do início ao fim. É o que fez com que a França se tornasse a melhor nação do mundo. Precisamos de exemplos. A Comuna de Paris é o melhor exemplo de governo ideal já visto em prática.

O Vampiro Armand – Anne Rice – 15,00

Er....eu coleciono.

Decameron – Boccaccio – 15,00

Edição da Abril, em dois volumes, capa dura e impressão dourada. Dá pra resistir?

À Procura dos Mundos Perdidos – Henry-Paul Eydoux – 25,00

Well, ele é considerado a bíblia dos arqueólogos. Tá um pouco amarelado, mas isso só dá mais charme ainda. O maior achado da temporada.

Crazy Cock – Henry Miller – 10,00

Primeiro escrito do homem. Sem maiores apresentações, certo?

*

Enquanto isso, as outras mulheres da família usaram o mesmo dinheiro pra comprar um sutiã.

Ainda sobre livros, terminei o Uma Longa Queda. Na boa, é chato pra caramba. Eu não cheguei a ler o Hi-Fi, mas tenho quase certeza que se for o mesmo tipo de narrativa eu não agüentarei, mesmo com as músicas todas. Nick, você falhou comigo, você é medíocre demais. Acho que é você quem tinha que ter se jogado do Topper´s House.

terça-feira, janeiro 2

Hoje o céu finalmente está cinza, como deveria ser em São Paulo.

O que eu tenho a dizer sobre o ano novo. Bem, ontem eu não tomei banho e dormi quase o dia todo. Não saí, não bebi todas, não dei vexame. Simplesmente estava cansada.

Sinto que rolou a abstinência da febre litorânea. Os últimos finais de ano aconteceram todos à beira da praia, e embora eu não esteja feliz de assumir isso, estou sentindo falta. Da insolação às 7 da manhã, da pele queimada e principalmente da água. A “síndrome de peixe grande”, sabe. A água me faz muita falta, e a do chuveiro não serve. Percebi que meu corpo estava acostumado com esse ritual de revitalização só agora, e talvez seja esse um dos agravantes para que eu não ache graça nenhuma em São Paulo. Lembrando agora, os momentos que desencadearam uma cadência de sorrisos na minha cara foram as corridinhas na garoa.

De repente vou dar mais um par de saídas por aqui. Até a Pinacoteca ver uma exposição de material Mochica (pré-colombianos), e me arriscar a sair outra noite, sem ânimo nenhum.

Me dou conta também que não fiz nenhuma resolução especial. As coisas estão tão legais que não precisei pensar em mudar nada. Só voltar pro boxe, mas era algo esperado, pois só parei por motivos estruturais.

Talvez eu deixe o cabelo crescer de novo...E leia um Dostoievsky.

***

Das coisas escritas antes de 2007.

Dez_2006 – Angatuba – SP

Depois de muitos anos, aqui de novo. Cidade pertinho do fim do mundo, terra da família do João Gordo (não que isso mude algum fato, é só pra ilustrar). Meu habitat nos finais de semana de 1991 a 1994.

Hoje se organizou uma mega festa de aniversário pra minha vó, que celebra 74 anos aturando uma trupe de 6 filhos (e cônjuges), 10 netos, 1 bisneto genético e 1 “torto”, como ela diz. Era uma festa surpresa. Não preciso dizer que quase mataram a velhinha.

Essa casa cheira à adolescência, a minha. A cidade toda, na verdade. Território que eu desbravei, sozinha, acompanhada por muitos, ou por alguns mais especiais. Foi aqui que eu aprendi todas as coisas boas e ruins da juventude. A noite, a cerveja, o som alto, os beijos no meio do mato, um primeiro namoradinho...

Era um baile desses de interior, com uma banda dessas de interior. Já tava de saco cheio de ouvir axé e música sertaneja. Eu tinha 11 anos e gostava do Mike Patton.

Até que vi esse cara, ele era lindo. Olhos amendoados, boca suculenta (ok, com 11 anos eu não usava o termo “suculento”), cabelo bagunçado (os Strokes ainda brincavam de Comandos em Ação), o homem perfeito.

Claro que alguém conhecia ele, todo mundo se conhece aqui. Fomos apresentados. Uma menina rebelde de 11 anos, um “country boy” de 16, esperávamos uma luz. Que não surgiu, é claro, então ele me chamou pra dançar. “Evidências”, do Chitãzinho e Xororó...

Por algum motivo, eu gosto dela até hoje. Acho uma boa música.

Mas olha! Ele era músico! Tocava teclado numa banda cover de U2 e outras coisas desse naipe. Foi nessa época que eu comecei a tocar também, não imagino o porquê.

Porém esse lance de banda era só nos fins de semana, nos dias úteis ele administrava uma fábrica de farinha de milho.

Nunca tive fantasias com mecânicos imundos, mas ainda lembro perfeitamente do James sem camisa e todo enfarinhado, com as bochechas rosadas de vergonha.

O James era lindo. Esse era o nome dele.

A gente se falava pelo telefone, e se via no final de semana, até que, aos poucos eu fui deixando, deixando, e deixando de ir pro interior. Então rolou a ligação do “não dá mais”. A gente chorou, pelo que eu lembro.

O tempo passou, eu voltei pra Angatuba, ele tava namorando uma menina da cidade. Fui de novo, conheci a garota, e até demos algumas risadas juntas. Com direito a ele me puxar de canto em algum momento e dizer: “ela não sabe de nada, não conte, ok?”. E eu consenti, mesmo achando ele mais lindo que nunca, com os cabelos bem longos, com ares de vampiro de Nova Orleans.

(essa deve ter sido a primeira vez que fui solidária com um ex....GOSH...será que eu nunca vou parar com isso?)

Na terceira vez, soube que ela estava grávida. Veja, esse lance de ficar grávida antes dos 20 anos ainda não havia acontecido no meu círculo social. Decidi não encontrá-lo mais. This game, you loose.

De qualquer forma, é só botar os pés nessa cidadezinha que eu penso nele. Será que ele é feliz? Está casado? Dormindo agarradinho com o filho?

Não tinha nada pra fazer, e a única coisa pra ler era a mini-lista telefônica de 10 mil habitantes.

Está lá: ...JAMES..., endereço tal, telefone tal. E o endereço da fábrica de farinha de milho também, ainda com o mesmo número de telefone que eu ligava há 15 anos atrás.

Ainda tenho amanhã pra pensar no que fazer.
*

O Amanhã, narrado depois de 3 dias.

A fábrica ficava na rua da minha vó, então eu fui até o mercadinho pra comprar iogurte pro Vince, com o propósito de passar ali em frente.

Tinha uma criança sentada na escadinha da porta, mas muito velha pra poder ser o filho dele, então ignorei. Lá dentro, um peão que não tinha jeito nenhum de fazer parte da família, os meninos eram muito bonitos (eu devo dizer que algum tempo depois eu tive uns flertes com o irmão dele, que era outro sex symbol da cidade, embora muito, mas muito mais sem vergonha e sem talento).

Eu não entrei, nem fui perguntar por ele, nem liguei, nem nada. Só mencionei o nome pra minha tia, que era amiga dele, mas ela também, morando em outra cidade, nunca mais havia ouvido falar do James. Assim como o marido dela, que também participava das nossas noites loucas no interior, e até me relatou a vida inteira de um outro caso que eu tive por lá.

Me despedi de todo mundo, dei um abração na vó, porque nunca sei se ela vai estar lá da próxima vez. Entrei no carro. Tinha uns 5 pacotes de Farinha Bom Jesus ali no banco.

segunda-feira, dezembro 25

Cá estamos nós.

Se foi o Natal, tão rápido quanto uma criança rasgando um papel de presente.

A família se reuniu em peso. E quando eu digo em peso, significa todo o clã. Como eu esperava. Crianças berrando, pessoas bêbadas, outras bravas com as pessoas bêbadas, até cachorro latindo...just like in the movies.

Estou feliz...

Mas sentindo uma saudade imensa daqueles que foram minha família nos últimos tempos.

Mas comendo muita coisa gostosa, o que me impede de beber e saborear minha embriaguez tântrica.

Mas não encontrando uma brecha pra sair e me esgotar numa noitada.

Bastante estranhamento. Da vida comum.

Boris me tirou no amigo secreto, pegadinha da Assistência, e me deu Uma Longa Queda, do Hornby. Tentarei esgotá-lo antes do ano novo, simbolicamente. Vale dizer que eu dei o Axis:Bold as Love, do Hendrix, pro meu amigo secreto. Nem o conhecia, mas não tem como haver outro presente melhor pra quem não conhecemos.

Aqui perto de casa tem mil sebos, dos quais eu pesquei uma seleção de contos do Decameron, do Boccaccio, pra ler na temporada paulista também. Fora os de poesia que roubei de mamãe. Quintana e Fernando Pessoa.

E tá tudo assim. Vou fazer um random pra fechar.



Canção de Inverno

O vento assovia de frio
Nas ruas da minha cidade
Enquanto a rosa-dos-ventos
Eternamente despeta-la-se

Invoco um tom quente e vivo
- o lacre de um envelope? –
E a névoa, então, de um outro século
No seu frio manto envolve-me

Sinto-me naquela antiga Londres
Onde eu queria ter andado
Nos tempos de Sherlock – o Lógico
E de Oscar – pobre Mágico...


Me lembro desse outro Mário
Entre as ruínas de Cartago,
Mas só me indago: - Aonde irão
Morar os nossos fantasmas?!

E o vento, que anda perdido
Nas ruas novas da Cidade,
Ainda procura, em vão,
Ler os antigos cartazes...


(Quintana)

sexta-feira, dezembro 22



Vida em SP

A única coisa daqui que me agrada é que a madrugada tem barulho, e me sinto uma cidadã normal.

Algumas programações se encaminham, mas só de pensar em sair no formigueiro já me dá uma tristeza.

Porto Alegre, eu te amo.


domingo, dezembro 17

gone.

embarco pra São Paulo amanhã. férias de tudo e amor da família, o melhor.

e para tal, Guillemots.

"mas o mundo não acabou. ainda."

nada é igual, as pessoas não são mais as mesmas, o lugar não é mais o mesmo. mas comemorar 2 anos de Beco é uma epifania. talvez porque isso acene que daqui a dois meses haverá os 2 anos da Róque Town, e isso me deixa feliz.

ontem mesmo estava falando em matar a Róque Town, tal qual o Sr. Ziggy Stardust: "this is not only the last show of the tour, but this is the last show we will ever do". mas não, já voltei atrás, e o Rocky vai até o VI, nós ainda estamos no II. A revanche do século.

lembrando que em janeiro tem a clássica Sex Town. como diriam os Insanus, prevejo chinelagem.

A versão nova de Annie Let´s Not Wait é a nova Bizarre Love Triangle, anote aí e me agradeça depois.

e nas ruas de São Paulo, Fyfe Dangerfeld grita:

get me a doctor
get me a doctor
who will get rid of my bones

get me a lover
get me a lover
who will leave my head alone

get me a soldier
get me a soldier
who will fight me in this war

get me an exit
i need an exit
i need a window or door

thrown across water
thrown across water
thrown across water like a stone

get me a lawyer
get me a lawyer
who will sue the world for me

get me a person
get me a person
get me a person who isn't me

cuz i'm getting tired
i'm getting tired of my stupid face

cuz i don't belong here
i don't belong here
don't belong in this horse race

sexta-feira, dezembro 15

O analfabetismo político que me compete é conhecido por muitos à minha volta. Mas de vez em quando nem eu consigo ignorar.

Como assim, dobrar o salário, meus camaradas? Como assim? É uma forma de mostrar pro povo que ele realmente é passivo e ignorante?

Cada vez mais eu temo a semelhança com a Paris da segunda metade de XVIII.

Robespierre, tô aguardando.

A lista dos filhos da puta aqui.

E as melhores observações aqui.

terça-feira, dezembro 12


ilustrando
Chagdud Gonpa Khadro Ling - 09.12.2006

segunda-feira, dezembro 11

acredito no coração

Falando sobre outras coisas. Há alguns posts atrás eu jurei que nunca mais entraria numa sanga budista. Não só entrei, como fui até a CONCRETA FORTALEZA do budismo tibetano no Brazil, o bom e velho “gompá” (agora sob o nome de Chagdud Gonpa Khadro Ling, que na minha “época” ainda era Rinponchet, mas o velhinho sábio se foi em 2002
).

Me “animei” a ir pra lá por causa da cerimônia em homenagem ao querido Gabriel Pillar, “dono” do Insanus, que se foi há uma semana num acidente ridículo e filho da puta.

A cerimônia a que me refiro consiste em acender várias, muitas lamparinas (que na verdade são uns potinhos dourados com óleo inflamável e um pavio) para que o ser consiga se elevar e para que nós consigamos transmitir o amor e compaixão que possuímos pelo ente desencarnado, pela família e pelo mundo (tudo no budismo é generalizado, menos a hierarquia luxuosa).

Foi muito bonito, todos que foram se emocionaram bastante. E pra mostrar que uma cerimônia de “passagem” pode ser muito mais legal que a da velha e caquética Igreja Católica Apostólica Romana, a Lama Khadro (sim! o guru máximo nessa linha responsável por toda América Latina é uma mulher), depois do ritual convidou a família e os amigos pra um “café” na casa dela. Veja, a casa dela fica dentro do templo, no último andar, lugar onde nenhum ser comum possui acesso. Tiramos devidamente os sapatos, entramos, eu e minha amiga tivemos um olhar de condescendência do tipo “sim, quero ser monja quando crescer”, tamanha beleza do recanto da Lama, e então nos juntamos aos outros numa refestelância de café, suco, vinho do porto, quiche de brócolis, strudel de frutas e por aí vai.

Khadro pediu que todos se acomodassem em círculo e contassem boas histórias do Gabriel. Isso deveria acontecer em TODAS as situações de luto. TODAS. Foi a coisa mais linda que já vi na minha vida. Parentes e amigos falando de como a pessoa era genial, feliz, divertida, interessante. E na única e última intervenção de tristeza (foi questionado porque uma pessoa tão interessante se vai assim, tão breve), Khadro olhou serenamente e respondeu: Well, he´ll be back.

Simples assim, “he´ll be back”. Nem preciso dizer que foi emocionante encher àquelas pessoas de esperança com uma frase de 3 palavras pronunciadas com tanta espontaneidade, certeza e paz. Como brincamos depois, foi nesse momento que respeitamos Khadro como uma grande Lama.

Aliás, a viagem de ida e volta pra lá foi permeada por muitas e muitas piadas. Tenho certeza que ele adorou. Isso é o que eu mais gosto nesse núcleo de amigos, sempre se tem um motivo pra dar uma boa e alta gargalhada, e pelo que vi e sei, Gabriel era um dos mestres na arte.

Depois do café, ainda demos uma volta pelo templo, tivemos a graça suprema de poder ir ao topo do templo, o lugar mais alto da região (impossível descrever, posso apenas me ater ao fato de que na ante-sala da varanda tem um belo notebook, e agradecemos à Sakyamuni pelos budistas que precisam da internet).

E foi dessa forma, adequada, que nos despedimos de uma pessoa incrível.

Ou não, melhor, a despedida oficial foi na Lancheria do Parque, com sucos, junkie food e uma Polar (agora sim, adequado).


*

Da série músicas que repudiava:

Semáforo – Vanguart

Viciei.
“(...) A culpa não é verdadeiramente do público. Este nunca recebeu, em época alguma, uma boa formação. Está constantemente pedindo à Arte que seja popular, que agrade sua falta de gosto, que adule sua vaidade absurda, que lhe diga o que já disseram, que lhe mostre o que já deve estar farto de ver, que o entretenha quando se sentir pesado após ter comido em demasia, e que lhe distraia os pensamentos quando estiver cansado de sua própria estupidez. A Arte nunca deveria aspirar à popularidade, mas o público deve aspirar a se tornar artístico.(...)”

(O.W. – A alma do homem sob o socialismo)

Oscar Wilde elucidando as conclusões a que chego, depois de quase 2 anos lutando pra trazer educação aos ouvidos das pessoas.

É a ele que presto minha homenagem no final desse ano. Que pretendo encerrar com a leitura do De Profundis (e não dormir sobre ele na cama, o que aconteceu na última noite).

Permita-me dizer que Oscar foi o único que falou sobre o meu caminho estar certo, e que não devo desviar a nenhum custo. Nem que tenha que fazer alguns sacrifícios.

A Arte não tem limites, não é uma linha reta e não se pode andar sobre ela. Só produzir, observar e sentir o efeito que ela causa sobre cada um de nós, sem pré-conceitos.

“(...) Ah, mas se a sua vida não tinha qualquer motivação! Uma motivação é um objetivo intelectual e você tinha apenas apetites. Que você era “muito jovem” quando a nossa amizade começou? Mas se o seu mal não era que soubesse tão pouco sobre a vida, mas que soubesse tanto! Ao me conhecer, já havia deixado pra trás o amanhecer da infância com seu delicado viço, sua luz pura e clara, sua alegre inocência tão plena de esperanças. Com passos rápidos e apressados, havia passado do Romance ao Realismo. O esgoto, e tudo o que nele vive, já tinha começado a exercer sobre você o seu fascínio.(...) O verdadeiro tolo, de quem os deuses zombam e a quem tentam destruir, é aquele que não conhece a si próprio. Durante muito tempo eu fui um deles. Você também: deixe de sê-lo. Não tenha medo. O supremo pecado é a superficialidade. Tudo que é realizado é certo.(...)”

(O.W. – De Profundis)

*

Eu ando citando mais e escrevendo menos, é uma verdade. Mas isso faz parte do aprendizado. Observar.

sábado, dezembro 9

This town called malice - The Jam

Better stop dreaming of the quiet life
Cos its the one well never know
And quit running for that runaway bus
Cos those rosey days are few

And
stop apologising for the things youve never done,
Cos time is short and life is cruel
But its up to us to change
This town called malice.

Rows and rows of disused milk floats
Stand dying in the dairy yard
And a hundred lonely housewives clutch empty milk
Bottles to their hearts

Hanging out their old love letters on the line to dry
Its enough to make you stop believing when tears come
Fast and furious
In a town called malice.

Struggle after struggle
year after year
The atmospheres a fine blend of ice
Im almost stone cold dead
In a town called malice.

A whole streets belief in sundays roast beef
Gets dashed against the co-op
To either cut down on beer or the kids new gear
Its a big decision in a town called malice.

The ghost of a steam train
echoes down my track
Its at the moment bound for nowhere
Just going round and round

Playground kids and creaking swings
Lost laughter in the breeze
I could go on for hours and I probably will
But Id sooner put some joy back
In this town called malice.


Eu ignorei o The Jam sem querer por muito tempo. Até rever On the Edge e ouvir essa música e enlouquecer, eis que baixei uma coletânea de 5 discos e estou me refestelando. The Jam, a banda do mês.

Aliás, a fase é total bandas irlandesas, entrei no universo das bandas "THE" com o maior luxo possível, e nada vai contra minhas teorias de bandas "THE". Ouçam The Walls e The Frames (a banda atual do cara do Commitments).

Alguém já mudou sua vida em algumas horas? A minha sim.

segunda-feira, dezembro 4

Said you'd took a big trip
They said you moved away
Happened oh so quietly, they say

Should've took a picture
Something I could keep
Buy a little frame, something cheap
For you
Everyone says hi

Said you sailed a big ship
Said you sailed away
Didn't know the right thing to say

I'd love to get a letter
Like to know what's what
Hope the weather's good and it's not too hot
For you
Everyone says hi

Everyone says hi

Don't stay in a sad place
Where they don't care how you are
Everyone says hi

(db)
Tudo é tão pequeno, escuro, nojento, vazio. Injusto.
Eu tava esperando o fim de semana que vem pra gente se encontrar de novo. Afinal, o que pode acontecer em uma semana? O que pode acontecer em três dias?
Um de nós morre.
E eu fiquei esperando pra te conhecer.
Esperar é a coisa mais imbecil do mundo.

Vou ficar aqui com o seu sorriso, aquele. O último.

Boa noite, babe. Bons sonhos.

domingo, dezembro 3

Só o timing transforma.

Continuando a questão “provar na hora certa”.

Nesse sábado, dia 2 de dezembro, quebrei meu cofrinho pra ver Caetano Veloso nas primeiras filas.

Sempre fui fã, nunca achei que o valor do ingresso valia o meu amor. Mas quando soube que o show de , além de ter as músicas maravilhosas do álbum novo, tinha canções do Transa, não houve dúvidas.

Valeu. Valeu cada moedinha. Um Caetano enorme num palco mínimo, em grande forma, carisma e urgência. Duvido que a Paula Lavigne consiga assistir esse show. No mínimo sairia de fininho pra não ser reconhecida.

Mais uma vez foi confirmado que um artista só escreve grandes obras quando está com o coração partido. Foi preciso o Caê tomar um belo pé na bunda pra mostrar do que ele é capaz.

Não é um show pra quem gosta de ouvir seus temas de novela (isso é pros tiozinhos que dormiam em partes fundamentais do espetáculo). É pra quem gosta do compositor genial, e claro, pra quem tem certeza que o Transa é sua obra definitiva e foi MUITO revisitada sonoramente no álbum novo.

O destaque vai, bem, pra todas!

Tá, de novo. O destaque vai pra ODEIO com um jogo de luz absurdamente cegante, WALY SALOMÃO, muito muito pesada, o arranjo novo e descompassado de SAMPA com muita fumaça no palco, MUSA HÍBRIDA e o momento Caetano de tanga (não, ele não tava de tanga, é só uma figuração), NÃO ME ARREPENDO e sua carga altamente lírica 60´s, segundo um amigo meu “é pra cantar com o pulso firme e alto, igual Geraldo Vandré”, O HERÓI e a porção política do show, complementada com FORA DA ORDEM, cantada aos coros.

Agora as favoritas. NINE OUT OF TEN foi a quarta música e a primeira a fazer “ola” nos meus pêlos do braço, apesar do arranjo gordinho, a versão do “Velô”. Ela agrada e quando suas ancas começam a se deslocar ela acaba, protesto. Um hino de 2.30 mins tem que ser tocado 5 vezes (ela é maior, mas parece isso).

DEUSA URBANA. A minha top 3 do Cê. Nos sets normais ela estava entre as primeiras, e ele não tocava, não tocava, achei que ia ficar sem. Mas não, ela veio (timing) na hora certa. Chorava, enquanto os tiozinhos mais uma vez se apavoravam com o refrão “mucosa roxa, peito cor de rola...”. Cê toda...ai.

ROCKS encerrou o primeiro ato, foi lindo, tive vontade de ligar pro Vico pra ele ouvir (ele adora o “mó ra-ta co-mi-go”), apesar dos tiozinhos mais uma vez atrapalharem deixando o Pepsi Onstage antes da hora, pra sair sem trânsito. Velhos do caralho!

Caetano parecia um menino de 17 anos no palco, tocando num festival colegial com a primeira banda da sua vida. Correndo de um lado pro outro, subindo nos amplificadores (ai), emocionado pra caramba, principalmente nas músicas do Transa, acho que ele não esperava que o público daqui sonhava com essa parte. Talvez esteja sendo limitada só porque estava acompanhada de dois amigos que como eu sonhavam com essa parte, sei lá.

Eu sabia que o BIS abria com YOU DON´T KNOW ME, vi a movimentação, então mais que breve corri pra frente do palco. Era o que a gente queria, era o que ele queria (antes ele havia manifestado a decepção de ver o lugar organizado em assentos). Ele entrou, nos aplaudiu, pegou aquela guitarra foda que eu não lembro o nome (que timbres meu deus! Que timbres!), e começou, começando, igualzinho quando você bota a faixa 1 do disco. “You don´t know me [pianinho..] better never get to know me...(…) Show me from behind the wall, SHOW ME FROM BEHIND THE WALL!!!”. A guitarra faz o solo do vocal da Gal. Um êxtase completo. Gozo, catarse, dê o nome que quiser, porque não tem nome isso que a gente sente nessas horas.

*chora, muito, esconde, chora mais um pouco, e Caê olha e sorri. morre*

Ainda tem reprise de ODEIO, com mais luzes cegantes ainda. O legal é que ele diz “odeio você”, como se estivesse olhando e dizendo “amo você”, só vendo.

Já que o povo não “redava” o pé, rolou mais uma, ANJO. Não sei, mas acho que é nova, porque a banda estava insegura de tocar. Foi bichisse total ele fazendo anjinho no palco, mas igual foi lindo.

Pra mim só faltou It´s a Long Way, do Transa também (e porque não o Transa inteiro?). E Nine Out of Ten mais 4 vezes.

Caetano é LINDO. E foda-se quem faz disso uma piada.

quinta-feira, novembro 30

Hey Jack. Jack!
You´re in my world now.


Eu sempre gostei de pronunciar Jack como a Lucy do Bram Stocker´s Dracula. Não me importa o nome da atriz, importa que ela foi uma Lucy abençoada, e pronunciava o nome do Jack da maneira que nem eu teria resistido se fosse um Jack. E se for pensar mais a respeito, se fosse a Lucy teria escolhido o Jack pra desposar, e não Arthur. O Jack era mil vezes mais humano.

Preciso escrever porque terminei meu primeiro livro do Jack (Kerouac). Foi tão difícil todas as vezes que tentei, e me sentia burra, e apequenada por isso. Vagabundos Iluminados era o romance certo, e mais precisamente, foi lido na hora certa.

Quando comecei O Livro dos Sonhos e On The Road não entendia nada. Estava submersa na literatura diabólica e mundana do Bukowiski e nas viagens alucinógenas do Burroughs. Achei ingenuamente que o Jack seria tão podre e mesquinho como eles. Porque nessa época, era isso que me agradava. Bem, em qualquer época isso me agrada, mas agora estou aberta pra todo o resto.

Só com “Vagabundos” eu pude entender que o Jack é diferente. Que ele, ao contrário dos outros, acredita na vida, e acredita em vivê-la até o fim, do modo mais nobre possível. Sendo uma pessoa boa e não fazendo mal a ninguém.

É certo que os “Vagabundos” contém muita porcaria zen budista alienada, da qual os outsiders yankees dos anos 50 precisavam pra sobreviver naquela terra ingrata. Mas pra minha felicidade, Jack era muito mais “clássico” do que os outros filósofos alternativos. Lendo aquele monte de linhas e constatações e citações de sutras até me deu vontade de sair correndo pra sanga tibetana mais próxima da minha casa. Mas sei que isso não vai me fazer feliz, porque seria só mais um vazio a percorrer.

O melhor do zen budismo é que ele admite a bebida e a putaria. E é por isso que eu não me “afilio” à religião nenhuma. Simplesmente quero fazer o que me dá vontade, respeitando o que acredito. Acho que vou voltar a me embrenhar nessas leituras. Mal elas não fazem.

Tenho inveja de toda essa liberdade que eles podiam desfrutar no auge da “liberdade americana”. Pedir caronas a torto e direito, dormir num saco de penas de pato em qualquer lugar (principalmente às margens de uma estação de trem), se hospedar em hotéis agradáveis por no máximo cinco dólares...

Pois é, meus amigos bardos, no século XXI, a gente não desfruta desse tipo de escapismo. Logo, nunca seremos totalmente rebeldes, e nem seremos totalmente aceitos. É o mal dos nossos tempos, não há onde se encaixar, senão em si mesmos.

Terminei o livro em alguns minutos. E antes mesmo de chegar aos quatro últimos capítulos já sentia que precisava escrever algo a respeito. Me preparei. Comprei um bom vinho (Seleção nacional de Sauvignon, Merlot e Pinot Noir de 2004), fiz uma refeição leve, e deitei sobre as cobertas enquanto meu filho revia pela enésima vez um filme fofinho da Disney.

Tanto ele notou minha concentração, que foi sentar-se ao meu lado, enciumado do meu ritual livro-vinho-marlboro lights, e me fazer declarações de amor. Após umas duas vezes que ele repetiu essa chantagem eu, cansada de deixar o livro de lado pra enchê-lo de apertos e beijinhos, perguntei se ele queria ouvir o que eu estava lendo. A resposta foi afirmativa, então se seguiu todo um capítulo em voz alta, justamente quando Ray está seguindo pro seu último objetivo, servir à guarda florestal numa montanha isolada nas rochosas de Seattle com o objetivo de isolamento e meditação. O nome da montanha? DESOLATION.

Era cheio de descrições de neve, corredeiras, cervos, lebres e ursos. Não preciso dizer que a criança ficou encantada. Por sorte, não era nenhum capítulo de bacanais greco-romanos contemporâneos que esses ditos zen-budistas promoviam.

O filme então termina. O pequeno foi dormir, não sem antes ouvir uma história do universo dele. Dessas cheias de moral, onde o leão subestima o rato e o rato lhe salva a vida no final. Pertinente para o astral da noite.

Não dá pra recomendar o livro gratuitamente, porque foi uma experiência pessoal. Eu precisava dele e ele (Jack) haveria de chegar a mim nesse momento. Mas posso declarar em brados que ninguém deve viver a vida sem ler ao menos um Kerouac. Cada um vai escolher o seu volume especial e intransferível.

Algumas pessoas ficam furiosas quando eu digo que sublinho livros. Eu adoro sublinhar livros, tenho verdadeira paixão por encontrar os meus grifos quando releio, e perceber como aquilo fez e continua fazendo sentido pra mim. E quando empresto, pessoa que lê se questiona o porquê daquilo. Nesse caso não foi diferente. E essa passagem é de um deleite incomum (mais uma vez, extremamente pessoal):

(...) “Ah meu Deus, sociabilidade é só um grande sorriso e um grande sorriso não passa de um monte de dentes, eu gostaria de simplesmente poder ficar aqui e descansar e ser bom.” Mas alguém me levou um pouco de vinho e me fez entrar no clima. (...)

E numa outra, Jack define tudo que sinto hoje, sem montanhas, sem sutras sagrados e com muito pouca meditação:

(...) Eu estava mais feliz do que estivera durante anos e anos, desde a infância, eu me sentia livre e contente e solitário. (...)

A plenitude de compreender que mesmo solitário, mesmo olhando pros lados e não vendo muitas pessoas, você está feliz. É indizível.

Obrigado, Jack.

*

Ah, eu não conseguiria escrever isso tudo sem um jazz. O jazz é a alma de todo livro, toda escalada, toda beberagem de vinho, toda orgia, toda abstinência, toda trilha e toda escalada. O jazz, sem dúvida, é o único ritmo que te faz subir, subir, subir, em qualquer significado que isso possa ter.

O meu parceiro foi Charles Mingus, com as fundamentais Theme for Lester Young (a propósito, já assistiu Round Midnight? Assista. E quando se acostumar com todos os compassos e pausas dessa música, ofereça um strip tease a alguém), Hora Decubitus, Oh Lord! Don´t let them drop that atomic bomb on me, Open Letter to Duke, Body and Soul...

Aaaaah. Charles já iluminou tantas horas da minha vida que podia escrever sua discografia inteira aqui e comentar canção por canção.
Boa madrugada a todos os gatos pardos e solitários do mundo.

quarta-feira, novembro 29

ele é neguinho?

estamos ouvindo Earth, Wind and Fire no repeat há 2 horas. a pedido dele, meu filho. que está sem camisa e descalço requebrando no meio do quarto...

ORGULHO!!!!!

resolvi seguir o mestre hoje e fazer uma incursão pelo lado junkie da vida.

consumi o conteúdo de uma latinha de Pringles Hot & Spicy.

em tempo, eu não como salgadinhos industrializados, a não ser castanha de caju, amendoim e pistache.

a Pringles é a coisa mais horrível do mundo, e aquela farinha que eles chamam de tempero, chega a dar nojo. de longe a Rufles Churrasco é superior, mesmo assim escória. o ideal mesmo são Nachos frescos, de restaurantes especializados.

valeu.

terça-feira, novembro 28

Jeff Buckley´s Day

(ou “mais um?”)

Morning theft
And pretender left
Ungrateful


A dureza às vezes acaba. Você se vê esparramada até o meio da tarde sem vontade de fazer nada e ignorando o mundo lá fora. Nem o lixo você consegue botar fora. Percebe a metáfora?

Tem algo preso na garganta que nunca sai, e a gente se ocupa com tudo que for possível pra não lembrar dele. Mas conforme vamos cumprindo as tarefas ele vai se fazendo presente, presente, presente, até que um dia o que sobrou?

Não adianta correr da própria loucura, da tristeza e da solidão. É só se afastar um pouco dos que criam o cenário perfeito da lisergia pra constatar que continua tudo ali.

Por essas e outras que o Jeff me dá a mão nessas horas. Mas eu não vou me afogar. Vou nadar até o horizonte, e depois até o outro, e o outro. A morte não me derruba porque eu não tenho medo dela, e não acho que ela resolva alguma coisa, muito pelo contrário. Só é o status de um perdedor.

Tem muito perdedor no mundo, ninguém vai notar falta de um. E não quero passar sem ser notada.

Ainda não escrevi minha obra prima definitiva.


(alguém já reparou como ele fala o melhor "I Love You" do mundo?)

sábado, novembro 25


Não sair no fim de semana pode ser bom. Eu só não descobri ainda por que.

Talvez o fim do cansaço justifique, os dias estão lotadíssimos, e de responsabilidades.

Me obrigo a estudar pra última prova do semestre, cultura artística (Renascimento e Barroco). Meu professor é psicopata e faz provas de 35 questões de múltipla escolha. Fácil é? Ahá! Claro que não. Das 35, pelo menos 32 são de imagens, pra classificar de quem é, o título, onde está, de que período e estilo, e por aí vai. Agora definitivamente eu vou virar uma chata das artes (também).

Ficar em casa me faz comer mais e me vestir mal, não agrada. Em contrapartida, estou aqui sentada, quietinha, e rola uma bandinha tocando America no bar da frente e Herbie Hancock no Winamp. Poder da escolha.

Os objetivos pra hoje são: encher os beiços de Brahma Extra, mandar Michelangelo e Caravaggio pra puta que pariu e assistir A Vida de Brian.
*
A imagem: Apolo e Dafne, de Bernini. A história é ótima. Era uma vez Apolo, um deus safado cafajeste que gostava de pegar todas por onde passava. Até conhecer Dafne, uma ninfa baita cú doce que o provocava e provocava e liberar que é bom, nada. Um dia, ela o percebeu pelas redondezas, tirou a roupa e saiu linda, livre e leve e solta pelos campos floridos. Quando capitava o olhar do garanhão, ia até o chão pra sentir o cheirinho do mato, aham. Eis que ele explodiu de tesão acumulado e saiu correndo atrás dela, e ela se picou. O pega-pega durou algumas horas até que, quando Apolo tava quase agarrando a bisca pela cintura, ela apelou. Gritou pro pai, o senhor Peneu, livrá-la daquele praga. O rei, querido, a transformou numa árvore (aqui, há controvérsias, loureiro ou carvalho). Bernini, geniozão, conseguiu captar exatamente o momento de transformação da ninfa. Foda.

quinta-feira, novembro 23

quarta-feira, novembro 22

Hmmm vejamos.

Eu realmente odeio electro, e não é meu odiar corriqueiro, é um ódio sem escrúpulos, sem pudor, deslavado.
Menos “destroy everything you touch” (ladytron), a música da semana. E da minha vida.

Cortei o cabelo, completamente. Chega de parecer mulherzinha demais. Procure a Leeloo d'O Quinto Elemento pra futuras referências da minha franja.
Hoje eu ia tocar numa festa de nome massa, mas não rolou, ficamos conversando de encontros via orkut, e eu perdi feio.
Daí me chapei tudo que não me chapei nos últimos 5 anos.
E roubei o livro da
Natacha Merrit do meu amigo, pra futuras necessidades. (por que ela amarra todos os paus e depila todo mundo? ou será que pergunta antes se são depilados? anyway, as fotos só ganham com isso.)
E comi pão com ovo. Tenho fascinação por pão com ovo frito (gema mole) de madrugada. Só funciona pros solteiros, claro.

Tchau, diarinho.

segunda-feira, novembro 20

""Pode crer." A voz saía de algum lugar distante dentro dele, uma vozinha contida e meiga que tinha medo ou não estava com vontade de se afirmar. Eu tinha comprado um queijo três dias antes, na Cidade do México(...)Ele comeu o queijoe tomou o vinho com gosto e gratidão. Fiquei contente. Lembrei-me do verso no Sutra do Diamante que diz: "Pratique a caridade sem ter em mente nenhuma concepção a respeito da caridade, porque a caridade, apesar de tudo, não passa de uma palavra"."

Então, acho que encontrei o primeiro livro do babe* que vou conseguir ler até o final.

*Kerouac - Os Vagabundos Iluminados

Pra quando você estiver me xingando, e já souber ler direito.

É tarde, a gente acabou de brigar porque você não queria limpar o nariz (de novo). Deu tudo certo, agora tu ta aqui roncando, e eu escrevendo no escuro, com a luz do celular, pra tu não ter que soltar meu braço e acordar de novo.

Eu sei que errei em algum ponto por você não conseguir dormir sozinho. Talvez seja pelo fato de que eu nunca consegui também (dei uma boa enganada dos 11 aos 17).

Isso aqui vai ser uma lamentação só, se prepare.

Desculpa por deixar você cair e entortar o dente da frente aos 2 anos, espero que não tenhamos maiores problemas com isso.

Desculpa por ser histérica quando eu brigo. Eu não sei brigar e só faço isso quando precisa muito.

Desculpa por ter deixado você trancado em casa aquele dia que eu desci pra abrir a porta. Você disse “tudo bem” e eu ignorante acreditei.

O que me lembra de me desculpar por te tratar da mesma forma que trato pessoas de 30 anos.

Desculpa por não ser uma “mãe de parque”. Sabe, eu não gosto de rua, ar fresco, essas coisas. Farei o que puder pra compensar com livros, cinema, shopping e fast food.

E música. Bem, tu pode gostar do que quiser, contanto que tu ame.

Desculpa – e essa é a mais doída de hoje, porque você me reclamou igualmente doído – por não conseguir abandonar minha concentração noctívaga, fazer coisas de madrugada e não conseguir ficar acordada pela manhã. Todo dia, quando vou dormir, peço a Deus pra acordar às 9hs, mas o sono, Morfeu filho da puta, me amordaça, me nocauteia, me enche de boletas. São 5.30hs. Eu sei que amanhã vai ser outro dia desses, mas não consigo, não consigo. Me sinto impotente porque sei que isso dificilmente vai mudar. Espero que tu me entenda um dia.

Desculpa se a mãe arranjou uma porra de trabalho que ela ama e perde preciosos fins de semana contigo. Veja, isso sim é temporário. Daqui uns 10 anos, quando você começar a ir pra noite, eu vou estar sentada numa poltrona lendo Finnegan´s Wake*.

Desculpa se eu não consigo cuidar de você, da casa e da minha vida ao mesmo tempo (como a minha mãe fazia, apesar dela ter aberto mão da vida um pouquinho).

Desculpa por botar pessoas na tua vida, que você vai se apegar e, de repente, do nada, nunca mais ver.

Não. Não peço desculpas por isso. Você tem que se acostumar com a impermanência do mundo e das pessoas.

Desculpa pelo cigarro.

Desculpa por te poupar da violência na TV.

Desculpa por não te dar uma família perfeitinha, se eu fizesse isso, seria hipócrita. Mas como a Lilo diz: “é capenga, mas é boa”.

Tudo isso é só pra dizer desculpa pela minha eventual ausência. Eu tento consertar cada tópico desse no dia a dia. Imagine que vários não estão aí porque eu já superei, ou até mesmo nem me dei conta dos próximos.

Desta que nutre o único amor em que acredita.

Mom.
*eu tenho uma lista de livros que só vou ler depois de velha. esse é um deles.

sábado, novembro 18

uh, los hermanos.

por mais que alguém me ouça falar mal deles, eu vou lá, me escondo num cantinho, e fico chorando.
não consigo evitar, ainda mais com um momento gilete (O vento, Além do que se vê, Último Romance).

afe.

a impressão que eu tenho é que aqui em porto é sempre melhor. pelo menos é o que eles dizem. mas por dizer, muita gente morre na língua.

eu não sei. não foi tão bom quanto das outras vezes, ou tô ficando velha, ou já enjoei das músicas mesmo, excetuando-se as queridas do coração.

faltou uma, até entendo, por ser meio lo fi. mas é minha preferida do 4. sapato novo.

Bem, como vai você?
Levo assim calado de lá tudo que sonhei
um dia
como se a alegria
recolhesse a mão
pra não me alcançar
Poderia até pensar
que foi tudo sonho
ponho meu sapato novo e vou passear
sozinho como der
eu vou até a beira
besteira qualquer
nem choro mais
só levo a saudade morena
é tudo que vale a pena

Na real, essa letra não ilustra nada. A catarse dessa música é a linha melódica. A estrutura é muito parecida com canções medievais. Isso fode, sabe. Fode. Coisa pra quem assistiu Romeu e Julieta do Zefirelli 62937854 vezes, inclusive lembra muito A Time for Us, mas isso é coisa pra neuróticas como eu.

(you tube ilustra tudo: http://www.youtube.com/watch?v=KxxifA2T4Wg)














quinta-feira, novembro 16

Cecilia Ribeiro diz:
Acabamos de chegar de Sorocaba. A Vó Maria (tua bisa faleceu) 98 anos


........

modo "preocupação com outras pessoas" offline. fodam-se.
Socorra - parte 28573687

Como diria Daniel Gildenlöw, “nós sempre seremos muito mais humanos do que desejamos ser”. Então, a gente premedita toda uma situação, e ela vem toda embolada e nebulosa e te apaga e nada do que foi planejado funcionou. Pior do que isso é não decidir qual foi o erro, existem dois possíveis. Sempre existem duas alternativas, Sr. Hyde. Em qualquer uma das duas, o resultado não é favorável, ou seja, são dois lados de um mesmo “monstro”, enquanto o médico nem sabe aonde foi parar.

Não dá pra ser racional por muito tempo. O tempo é curto. A efemeridade é um fato. E lidar com várias pessoas irracionais ao mesmo tempo dá nisso.

Mas tem aquele zumbido que a gente tem que ouvir sempre, independente do resultado. I got to make a change blues, da Memphis Minnie. É forte, pungente e tem poucas palavras.


Now, listen good women
Will you take my advice?
Don´t ever love a man
Coz' he talks sweet at nite



quarta-feira, novembro 15

ele tá bem encaminhado. a gente sabe que ele tá bem encaminhado quando sai rebolando pela casa cantarolando "você foi mó rata comigo, você foi mó rata comigo..."

aproveitar o dia de citações pra outra obra de arte. arrasa caê..

com você eu tenho medo de me apaixonar
eu tenho medo de não me apaixonar
tenho medo dele, tenho medo dela
os dois juntos onde eu não podia entrar

com você eu tenho mesmo de me conformar
eu tenho mesmo de não me conformar
sexo heterodoxo, lapsos de desejo
quando eu vejo o céu desaba sobre nós

mucosa roxa, peito cor de rola
seu beijo, seu texto, seu queixo, seu pêlo,
sua coxa
menina deusa urbana, neta do sol
eu sou você e os meus rivais.

sou só
You move on up, you move on back
Your laser love is like a heart attack
(laser love - marc bolan)

Laser Love está nas paradas por mais de um mês já, eu e Marc estamos nos amando mais do que nunca.

O status da turnê é: acabada. Definitivamente descobri que não posso ser rock star. Essa coisa de passar 5 dias sem dormir, bebendo "às ganha" sem nem sempre saber o que se fez no dia anterior é complicado. Fora os ouvidos...tenho cada vez mais medo de fazer audiometria. Mais tarde faço um diário de bordo, do que eu lembro, claro.

Vão rolar outras, mas com patrocínio, otherwise eu serei presa por roubo a banco, em breve.

**

Hoje parece domingo, física e emocionalmente, um domingo. E o pior calor da semana, deve estar uns 63 graus lá fora.

Amanhã volta tudo ao normal, com o plus de um show do Los Hermanos pra futuras necessidades. Fora show do Ecos Falsos e discotecagem dupla no sábado. Pergunte aí: Daniela, e seu filho, como vai?

É complicado, mas parece que eu realmente estou tendo que tirar meu sustento da noite. E ele tá tendo que entender. Um dia ele vai se orgulhar.

**

No mais cabeça revirada. Coragem, Dani Hyde. E como diz meu amigo:

The truth is like a stranger
Be like you could
All my friends say.

(summer deep - marc e seu bongôzinho)

Pra terminar a chupação de bolas do bolan (uh, péssima), mais uma jóia do Você Entuba, a música que termina TODAS as Róque Town (sem excessões, há quase dois anos).

http://www.youtube.com/watch?v=aOh4ebd4Kvs



quinta-feira, novembro 9

In love with a mask.

Me arrebento de raiva quando assisto em DVD algo que deveria ter visto no cinema. É o caso de V for Vendetta (V de Vingança). Eu sabia que tinha que ser no cinema, eu lembro do dia que vi o cartaz no cinema pela primeira vez, foi em São Paulo no início do ano.

Enfim, só assisti agora. Sem dúvida o filme mais perfeito do ano, senão pra todos, pra mim. Reunindo todas as coisas que prezo numa película, fundamentação e projeções históricas, problemática psicológica dos personagens, londres, cultura pop, romance, londres, takes absurdamente inteligentes (você “enxerga todas as expressões do V. só com a iluminação usada) e claro, londres, de ontem, hoje e amanhã. A “Amídala” tá um pouco over, mas ela pode.

Meu conhecimento em HQ´s é parco, e o pouco que há veio dos nerds que me rodeiam (principalmente o Sr. Boris e o Sr. Zarpelon). Nunca li o Vendetta, mas concluo que é o que eu mais gosto, vou procurar entrar nesse mundo pra ver se ele me entende como no filme. Veja, ele me entende, ele mora na casa que um dia eu terei, com as coisas expostas do jeito que estão.
E a best feature: seguindo a linha de Batman, ele não tem REAIS super poderes, ou melhor, sim, os seus poderes são reais, de fato. Mas ele supera o Batman, primeiro porque mora em Londres, segundo porque é muito mais inteligente e não tem aquela coisa imediatista, de salvar alguém de hora em hora, o objetivo é salvar a liberdade, foda-se se ele se apaixona no meio do caminho.

*cai uma lágrima*

É muito fácil se apaixonar por ele. Estou entregue. E achei genial a sacada dos Wachowski de não ................... .

Bizarro é que justamente hoje um profile fake do V. me adicionou no orkut. A Assistência Divina chegou ao orkut, pense.

***

Estou pesquisando sobre a trilha de Sumé. O advento Zefirina Bomba ("A Outra Trilha de Sumé" - Noisecoregrovecocoenvenenado) e Zé Ramalho (o álbum com Lula Côrtes, Paêbiru) me fizeram cair de interesse por isso de novo.
O fato é que já conhecia a história do Paêbiru (ou Peabiru, whatever) superficialmente. Mas lendo a respeito descobri coisas muito mais relativas a mim do que imaginava. Primeiro que o caminho transcontinental é considerado pela maioria dos especialistas uma ramificação viária das estradas incaicas. Segundo que duas partes delas convergem em Paranapanema, que é a cidade natal da minha vó, da minha bisavó, e da minha tataravó, esta última uma índia pura.

Grandes possibilidades de uma pesquisa sobre o tema se tornar meu primeiro projeto de pesquisa arqueológica.

Se descobrir que tenho descendência Inca me mudo pra Cuzco amanhã.

***

Já ouviu o Cê, do Caê? É foda. E o Lúcio foi “mó rato comigo” ao revelar que Caê está cantando as minhas duas músicas preferidas do Transa, “You Don´t Know Me” e “Nine Out of Ten”. Pagarei milhões de reais por um ingresso desse show.

domingo, novembro 5

Guillemots sempre arrasando...é tão bom apostar certo.

Bad Boyfriend - uma obra de arte sonora.

You’ve got your own girlfriend, so why you gotta look at me for?
You’ve got your own girlfriend, so are you looking at me for?
You’ve got your own girlfriend, so why you gotta look at me for?
I suggest you get your shit and get out of my way

You’ve got your own girlfriend, so why you gotta look at me for?
You’ve got your own girlfriend, so are you looking at me for?
You’ve got your own girlfriend, so why you gotta look at me for?

I suggest you get your shit and get out of my way
You say you look, you look, you look, look at me
You say you look, you look, you look, look at me
You say you look, you look, you look, look at me

Welcome to the jazz cave
Tonight we have
Double bass
Drums
Guitar
Piano
And saxophone, for your pleasure
Everyone welcome
Enjoy

You got me saying, you got me saying
You got me saying things I’ve never said before
You got me saying, you got me saying
You got me saying things I’ve never said before
You got me saying, you got me saying
You got me saying things I’ve never said before
You got me saying, you got me saying
You got me saying things I’ve never said before
You got me saying, you got me saying
You got me saying things I’ve never said before
You got me saying, you got me saying
You got me saying things I’ve never said before

Your face, it looks like death

Looks like
I, I, I
I know you
I don’t wanna know
You are everything

And the pan, and the pan, and the pan, and the pan
(Sex, sex, sex, sex, sex...)
On my knees
Fighting for you
I don’t have a very interesting life
(Sex, sex, sex, sex, sex...)

Oh, yeah

- I like sex
- I like sex more than you like sex
- I like sex in forests
- I bet you I like sex more than you
- I like sex in coal mines
- I like sex in car parks
- I like sex
- Where?
- Everywhere
- In a recording studio?
- Anything
- In the mixing booth?
- Anywhere
- I don’t really mind
- I like sex
- I don’t mind
- I don’t mind
- I do it all the time
- I do it all the time
- Anywhere you want

And it’s always good when you do it in the open air.




sexta-feira, novembro 3



são 5 da manhã e pra variar eu tô com insônia e começando a ficar bêbada e contando as putarias incontáveis com um velho amigo e por sugestão dele resolvi ouvir o Outside depois de muito tempo.

penso: "mas esse álbum merece um conto!". lembro: "mas eu FIZ um conto desse álbum!".

ok, pra quem conhece, o Outside vem com um conto do próprio Deus no encarte , inacabado, e que provavelmente nunca leremos o final. estava lembrando ao meu colega que comprei o Outside na saída do último dia de vestibular da Federal, quando sabia que não ia dar mais, que já era. daí comprei um cd do david bowie, meu band aid eterno. cheguei em casa, almocei, botei o cd, deitei no sofá com o encarte e começou uma viagem sem volta. na verdade a viagem começou quando assisti Labirinto com 7 anos, mas foi aí que ela foi retomada.

O "Quando o amor passa por tua aorta" é um dos meus preferidos, ingênuo, reconheço hoje, mas magnífico. Estou com muita vontade de voltar aos contos, e de repente publicar, incluindo os 3,4 que tem aí pelo blog. E o nome certamente vai ser uma homenagem ao Oscar.

Uma Esfinge Sem Segredos.
já tá amanhecendo....hate it.
ouvindo: the voyeur of utter destruction (obra prima do disco)


quinta-feira, novembro 2

what the fuck do they know

comecei a assistir "quem somos nós"
dormi profundo

quarta-feira, novembro 1

Já que isso aqui virou o "muralzinho da Dani Hyde" vamos lá:

A pesquisa sobre o século XIX me rendeu muitas descobertas e alegrias, principalmente (duh) na literatura. Eu já falei que amo estudar História hoje?

Contos Imperdíveis:

Charles Dickens: The Black Veil
Retrato falado da Londres oitocentista e uma narrativa "chorável".

Wilkie Collins: The Story of a Terribly Strange Bed
Porque os ingleses só se fodem em Paris.

H.G. Wells: The Stolen Bacillus
De que ano é isso mesmo? 2010?

Oscar Wilde : The Sphinx Without a Secret
O Profeta. Ponto.

Bram Stocker: The Judge´s House
Buuuu. Não a toa ele edificou minha vida. Nem só de vampiros viveu Bram Stocker.

Guy de Maupassant: The Necklace
Vai nêga, quer ser mulherzinha? Então toma!

Anton Chekov: The Kiss
(L)

p.s.- não sei se é possível encontrá-los em português, mas digo de antemão que não vale a pena, a forma que esse povo escrevia é "intraduzível" (ok, o francês e o russo me faltaram nesse momento, mas a edição que eu li traz um inglês clássico, o que dá todo um "chalme" - até porque, a melhor língua do mundo é a anglo-saxônica).


Agonia Acadêmica

O que eu sinto falta em textos e livros é o CTRL+F.

Ou, porque eu SOU OBRIGADA a citar a Igreja de São Marcos (em Veneza! [sic]) numa prova sobre a constituição social do Renascimento Italiano?

Augusto Comte morreu, alguém avisa meus "mestres".