terça-feira, janeiro 30


chora, hetero.
quarta temporada de The L Word.
alegria geral.

Estava eu aqui organizando uns dvds e procurando pelo Vanishing Point, e veja, it has vanished! Não sei onde foi parar, por Zeus, existe uma cópia num lugar seguro.

O fato é que encontrei minha cópia do BE, o show/disco/conceito maior do Pain of Salvation, que gravei antes do meu amigo e companheiro de composições se mandar pra Alemanha (e viver pertinho do POS, e verá em março o show novo deles, iack!). Revi as minhas faixas preferidas, me emocionei às ganhas, e lembrei que não falei nada aqui sobre o Scarsick. Álbum novo dos meninos.

Primeiro porque não tinha ouvido direito, segundo porque aconteceu o que eu temia, eles voltaram pras barulheiras do “metáu” e eu não gostei tanto. Mas merecem os meus comentários.

Não sei se é possível dizer que é um disco mais pop, porque as músicas têm de 5 minutos pra cima, isso até vem a ser normal com um letrista como Daniel Gildenlöw, mas com certeza está mais acessível pros metaleiros “burros”. No sentido de que tem melodias mais retas e pesadonas, e letras diretas, explícitas, fáceis de assimilar.

Acho que no geral é uma continuação à saga do Mr. Money, do BE. O cara vazio e consumista e bla bla bla. Acho tudo muito nobre e político, mas definitivamente, eu prefiro o lado emotivo do Daniel. Sem surpresas, ele acaba de ser pai e não consegue mais escrever letras dramáticas porque gasta tudo isso com o pequeno, sei como é.

Tem uma até acabando com os States (America), mas não consigo, não é algo que espero do Pain of Salvation.

A surpresa e motivo de ódio dos fãs é Disco Queen, que é, bem, disco music! Mais uma sacada contemporânea do meu xará, fala dessas meninas que a gente tá cansado de ver toda noite e de todo esse processo no qual as festas de discotecagem estão mais populares que os shows de rock, maldita new rave. Mas também, não precisava né, amigo. Tu é maior que isso. 8 minutos, OITO, pra um groove! Please, pra isso existe Bootsy Colins.

Onde não é puro metal, ou disco (hehe), há um experimentalismo absurdo, que chega num ponto inaudível. O próprio Pain traindo sua maior qualidade, a de fazer música boa e sofisticadíssima, sem punhetar. Bem, aqui estamos punhetando, e muito. Ma pára de usar o Wah!

Então é assim, vou ficar aqui me lembrando do dia 27.09.2005, onde eu fui uma pessoa mais feliz, ouvi Undertow ao vivo e ganhei beijinho e abraço de um sueco muito humilde que não faz idéia do gênio que é.

Scarsick fica como uma cicatriz na carreira do Pain of Salvation. E que venha o Perfect Element II, com o destino dos personagens de Morning On Earth / Reconciliation, no mínimo. Não vou considerar o Scarsick como a segunda parte. Forget about it.

Só pra lembrar, um pouquinho de Nauticus II, uma segunda parte que merece ser conhecida pelo mundo.

I'm at the line - I see it all
I am Nauticus now
And so much more
I am all you know
I'm at the line - just at the line
An eternity at the blink of an eye
In this place called time
I'm everything
Everywhere
I am all
Omni
"BE"




sábado, janeiro 27

sexta-feira, janeiro 26


Quero estar onde quer que você esteja. Deitada ao seu lado mesmo se você estiver dormindo. Henry, beije meus cílios, ponha seus dedos sobre minhas pálpebras. Morda minha orelha. Empurre meu cabelo para trás. Aprendi a desabotoar a sua roupa com rapidez. Tudo, em minha boca, chupando. Seus dedos. O calor. O frenesi. Nossos gritos de satisfação. Um para cada impacto do seu corpo contra o meu. Cada golpe, uma pontada de prazer. Perfurando numa espiral. O âmago tocado. O útero suga, para a frente e para trás, aberto, fechado. Os lábios adejando, línguas de cobra adejando. Ah, a ruptura - uma célula de sangue explodida de prazer. Dissolução.
(Anaïs Nin)

quarta-feira, janeiro 24

Os ventos que uivam.

Pela primeira vez resolvi fazer um projeto escrito sério. Tomara que a Síndrome-da-Não-Conclusão não me atrapalhe dessa vez.


Portanto quem quiser me ajudar a encontrar um script de TEATRO de Wuthering Heights (O morro dos ventos uivantes), eu agradeço.

“Heathcliff, it´s me, your Cathy, I´ve come home….”

vuuuuuuuuuuuuuuuussssssssssssshhh

http://www.whydoyoublog.com/

responda a pesquisa e concorra a um iPod Shuffle. ou simplesmente responda, é interessante.
Love Lane

Em ritmos compassados escutavam-se os passos daquela ruazinha. Passavam os bardos voltando pra casa, os ímpios procurando cortar caminho pra encontrar outro bar aberto, as meninas chegavam de táxi e pediam pro motorista esperar até que elas ultrapassassem a porta de seus prédios em segurança. Era uma rua estreita, de paralelepípedos que cruzava uma outra principal e finalizava num Beco, com o edifício mais antigo da cidade. Onde os moradores nostálgicos faziam questão de criarem abaixo assinados e brigar com as seguradoras pra nenhuma agência dessas grandes, de construções, acabar com o sopro de história de toda uma era.

Não havia ressarcimento que compensasse o abandono daquela estrutura para que levantassem um condomínio de luxo, desse com 5 quartos, e que em cada quarto mal cabe uma cama. Comum em Porto Alegre, esse era mais um prédio construído por imigrantes com um nome egocêntrico. A diferença é que, ao invés de italianos, alemães e poloneses, o lugar era abarrotado de desertores da Paris enlouquecida de 1845. A pândega que se revezava em reis, imperadores e presidentes por quase um século instaurou uma mentalidade de que a vida poderia ser melhor fora de lá. Mal sabiam eles que chegaram no exato momento em que Porto Alegre fervilhava de ideais visionários, revoltas estaduais e contra um governo grande demais pra dar justa conta de todo seu território. Mas dado as circunstâncias, ainda parecia um recanto menos hostil.

Verushka morava no Saint Ettiene há 4 anos e já simpatizava com os velhinhos que eram contrários a idéia de perder sua morada. Desde que chegou, sempre se encontrou acolhida, não fosse pelos amigos que conheceu ainda em Paris, através da internet, era pelos pequenos detalhes. Uma manhã de sol em que se ouvia da lavanderia comungada tons de Wagner, Berlioz, e os mais contemporâneos como Edith Piaf e Gainsbourg. Sempre em casa, era sempre um conforto estender as roupas lavadas balançando como um pêndulo enquanto ouvia Non Je Ne Regrett.

Não tinha grandes ambições, além de sumir do lugar que morava. Dedicava-se então, à tradução de textos e livros do francês pro português. Sem surpresas, o que lhe rendia o sustento eram as pesquisas acadêmicas, hoje em dia, ninguém quer saber de Victor Hugo, Maupassant, Dumas, Balzac, Flaubert, Valéry, Baudelaire ou Artaud. O negócio é simplesmente copiar e colar o Pacto Social de Rosseau pra crianças da sétima série até a universidade.

Aparte o cerne da subsistência, Verushka era uma mulher noturna. Dormia até meio-dia, realizava suas tarefas, e ao crepúsculo procurava alguma outra atividade no intuito de afirmar que o ser humano era de alguma forma um ser social. Tomava um banho perfumado, se vestia com as melhores roupas e abandonava sua Love Lane para adentrar em algum estabelecimento decente.

O “decente”, pra ela, consistia em boa música e pessoas agradáveis, nada mais. Essa noite bastava um encontro na casa de amigos, e para lá deslocou-se. A casa de Juan era de um colorido sem igual. Ele trazia da família esses caprichos multicores, cheio de tapeçarias latinas, o som no meio da sala como personagem principal, várias almofadas espalhadas pela sala, uma diversidade de fotos da aclamada cultura pop pelas paredes do apartamento. Sentia-se protegida quando estava com Juan. Seu companheiro desde que chegou, ele a fazia rir quando precisava, e ajudava-a a continuar acreditando que uma vida solitária não poderia se bastar por somente.

Rostos familiares e desconhecidos se misturavam na sala de sinuca. Jovens deveriam sempre jogar sinuca. É de um prazer inigualável competir sem competir entre os iguais, porque o que sempre está em jogo é o que se fala durante o jogo e não o jogo em si. Mas ela mesma não parecia cultivar esse hábito, o que esperar dos outros? Divertido era errar enfadonhamente, e olhar pro parceiro e pros adversários e rir, e prosseguir com o assunto.

O rádio chamou a atenção, por já ser alta madrugada e tocar “Je t´aime moi non plus”. A desordem foi psicótica, todos em verborragia coletiva, rindo e ensaiando alguns passos de pilhéria. Lucas foi pro canto da parede e começou a simular um amasso como se estivesse com alguém prensado sob ele, esfregando os braços cruzados nas costas. Renato, um pouco mais desenvolto, arrebatou o gato do anfitrião e simulou algum tipo de cópula bestial cômica.

Verushka, de tanto rir, deixara sua garrafa de cerveja escorregar das mãos. O recipiente espatifou-se em zilhões de partículas. Ao que veio metade da festa ajudar a recolher, ela sentiu vertigem. Os cacos, espalhados pelo chão, revestido de cobertura plástica, em lascas finas e convexas, a fez lembrar ligeiramente de asas de baratas, quando morrem ou estão renovando e deixam seus recursos para trás. Não conseguiu recolher mais nada.

Ricardo postou-se à sua frente, no auxílio da ligeira catástrofe. Sorriu e cumprimentou, querendo dizer o previsível, que esse tipo de coisa simplesmente acontece.

Ele tinha olhos brilhantes, as madeixas em cachos, levemente desorganizadas devido à atividade boêmia que acontecia no recinto. Corpo esguio, charmoso, conforme movimentava seus ombros gerava uma cadência em profusão de músculos, delineados pela falta de carne e excesso de esforço. Suas mãos corriam ágeis, para que o jogo recomeçasse.

O vizinho tocou a campainha, o barulho estava em demasia, precisávamos sair do apartamento pra continuar a diversão. Embora estivesse preocupada por ser o estopim que fez o rabugento reclamar, assentiu com a idéia de ir pro clube que ficava ali perto nas redondezas do bairro.

Barulho e embriaguez, a combinação ideal pra se aproximar mais de Ricardo. “And if you can´t swing, you simply haaaave to…”. Era Mr. Paganini, com Ella Fitzgerald gritando freneticamente na finaleira daquela comemoração. Eles ensaiavam passos sem jeito e riam, riam, sem poder mais.

Era costume do bar encerrar a noite com grandes canções de jazz. Ricardo e Verushka acabaram por se encontrar no meio na multidão de amigos, Ela quase não o conhecia, ele era novo no grupo. E Ella introduziu um:

Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall
Like the drip drip drip of the raindrops
When the summer shower is through
So a voice within me keeps repeating you, you, you
Night and day, you are the one…

“So a voice within me keeps repeating you, you, you…”. Verushska deslizava nos braços de Ricardo. Regozijava enquanto escutava Night and Day, olhava praqueles olhos de cegar qualquer um que preste atenção, e agradecia Cole Porter por escrever essas coisas sabendo que seriam tocadas no final da noite. E que o final da noite às vezes acabava bem e podia durar pra sempre.

segunda-feira, janeiro 22


Trem pro Brasil, agora!

Annie Let´s Not Wait era a música que menos me agradava do Through the Windowpane. Mas isso só prova que pra gostar de alguma coisa você tem que insistir, porque ela vai ficando melhor, e melhor, e melhor.

“It´s getting better all the time”, já diziam os raparigos, aqueles.

Ia postar outra foto do Fyfe aqui e falar como ele torna a vida das pessoas mais bonita quando me deparei com essa do Magrão. Absolutamente de cair o queixo, não sabia que era ele o responsável por todos os barulhinhos.

Melhor set de pedais ever. E na mão dele, é uma furadeira. Que você pode conferir na prática aqui:



quinta-feira, janeiro 18


dia mundial da humanidade me passar pra trás.

obrigado, Zeus, por criar pessoas tão fracas.

quarta-feira, janeiro 17

what a draaaaaaaaag it is getting old...

Lifes just much too hard today,
I hear every mother say
The pusuit of happiness just seems a bore
And if you take more of those,
you will get an overdose
No more running for the shelter
of a mothers little helper
They just helped you on your way,
through your busy dying day

(m.jagger)

terça-feira, janeiro 16


da série: coisas que acontecem em vários lugares, mas em Porto Alegre é melhor.

Poisé, o que: olha pro sol
Poisé, o que: ta rolando um fenomedo[sic] louco
Dani Hyde: nossa que lindo!
Dani Hyde: é a nave do independence day
Poisé, o que: é
Poisé, o que: auhuhauhauha
Poisé, o que: que louco
Dani Hyde: sim, eu não entendo
Dani Hyde: vou ligar pro ramiro e perguntar o que é
Dani Hyde: ele é astrônomo
Poisé, o que: arrasa
Poisé, o que: =D

(ring....ring...)

- Ramiro?
- Oi Dan, fala.
- Tá ocupado?
- Ahn, não.
(quando a pessoa fala "ahn" é porque está)
- Vai olhar pro céu.
- Não posso agora.
- Você viu?
- Ah! O arco íris? Vi..
- Como um arco íris? Olha lá Ramiro! Não é um arco íris.
- Ah, é sim, só que é raro. Na verdade é mais complicado do que isso, vamos pesquisar aqui daí eu te falo.
-....

(desliga)

Dani Hyde: ai que sem graça. odeio cientistas
Dani Hyde: ele falou que é só um arco íris redondo..
Dani Hyde: mas é raro de acontecer.
Dani Hyde: e que pode ter a ver com um cometa que tá passando e vai ficar visível hoje..
Poisé, o que: ai
Poisé, o que: que chato
Poisé, o que: pensei que minha vida ia mudar
Poisé, o que: uahuhauhauhau
Dani Hyde: ah pode mudar...
Dani Hyde: auto sugestão.
Dani Hyde: acredita na foto, bonita.

mais tarde..

(ring...ring...)

- Dani? Ramiro..
- Oi bee
- Vamos pro gasômetro ver o cometa?
- Mas tá nublado, Ramiro!
- Ah tudo bem, eu sei, vou lá com a Melissa anyway. Mas até o fim da semana você vai?
- Vou Ramiro, vou. Mas eu já vi o Halley!
- Mas esse é muito mais brilhante!

**

Segundo eu já vi por aí, definitivamente não é um arco íris, é um HALO CIRCUNSCRITO, mas aguardarei informações da "base" do Rams.

De qualquer forma, o que importa, não é mesmo? C'est fantastique! Me arrependo de não poder olhar assim, diretamente pra ele (shit eyes).

Pronto, agora só falta uma aurora boreal lá em Macchu Picchu.
Assisti Charlotte´s Web com o Vince e chorei bonito.

Tinha um pai com um filho no Playland comendo repolho. Repolho. Assim, de dentro do saquinho do Zaffari. Cada um com uma folha, como se fossem vacas.

Nojento, odeio vegans.

*

To regravando uns cds que não funcionam mais aqui ( e me deixam puta quando vou tocar e não funcionam) e daí paro pra ouvir algumas pérolas da minha vida.

Late in the day, do Supergrass, me deixa completamente desarmada. É linda demais, e me lembra minha fase “grass extreme”, quando me aproximei mais dos meninos, paguei 100 reais num DVD e não me arrependi, essas coisas. E o solo, deus! É praticamente uma facada no coração. A primeira vez que ouvi, foi, pasme, assistindo MTV de madrugada. O Gas olhando pra mim e falando “Its late in the day / Im thinking of you / Things that you say…..”.

Ah, o amor à primeira vista.

Por que isso só acontece com música agora? Por que a gente tem que se esforçar e ficar arrancando mil máscaras dos outros até achar alguém decente? Isso cansa demais. E cada vez mais, ficamos mais duros, mais exigentes, mais seletivos, mais inflexíveis. O tempo vai passando e ficamos cada vez mais ignorantes no amor.

Eu me assusto com meninas de 16 anos que me dizem que nunca se apaixonaram e nunca querem se apaixonar. Como assim? Oh deus! Eu me apaixonei tantas vezes e me apaixono todo dia por alguma coisa porque é isso que nos dá vida e algumas pessoas simplesmente optam por excluir isso da vida. É certo que é tão mais difícil e raro agora. Mas com algum esforço é possível.

E veja, não sou passadista nesse sentido, isso ainda existe. O Gas é da minha geração e já falou “If you want to go out / Read it in the papers and tell me / What´s all about? / If you want to stay home / Freedom from the papers / All you ever need to know! All you´ve got to do / Oh no!”

“Oh no. Not me.”

Mas ah! Sim. Existe o hino.

God save the unstable
They stand alone

Só Supergrass salva.


*

Finalmente assisti o tão falado “O Albergue”, do Eli Roth. Parece que agora o cinema de horror está mais preocupado com a maquiagem do que com a cena em si. Uma certa competição de quem faz a vítima mais repugnante ou algo do tipo. Tenho que dizer que não achei tanta graça, a não ser pelas locações maravilhosas, terra do meu velho e bom Vlad. Um vampiro ali roubaria o filme sem muito esforço. O melhor do DVD são os extras com cenas do backstage. É ali que a gente vê quem realmente se diverte fazendo esse tipo de filme. O diretor, claro. Por isso que eu resolvi largar a linha de frente. Quem manda sempre se diverte muito mais, participa de tudo e ainda leva créditos. Aparece o Roth até tomando banho no melhor estilo Big Brother. E eu até podia fazer um trocadilho com esse sobrenome, mas ok, nem é tudo isso. O olho da Japa está tão bonito quanto o meu pulso.

Aliás, hoje eu descobri porque um chef de cozinha usa um avental de mangas compridas. O que eu não sabia até experimentar alguns ml de óleo escaldante ao fritar um bife à milanesa semana passada, que resultou em lindas bolhas de segundo grau. A experiência hoje foi um peixe flambado em azeite de oliva, e logo que percebi o instinto assassino do animal, corri botar uma camisa.


*

Sabe quando você se arrepende de ter conhecido uma pessoa? Se arrepende no sentido de lástima mesmo? Havia a alternativa pra que vocês nunca fizessem contato ocular, e você foi lá e achou que ela podia ser útil de alguma maneira. Me arrependo amargamente, e sei que nunca mais vou me livrar dela. Esse é um dos problemas em acreditar na humanidade. Acreditar que psiquiatras são dispensáveis e que todo mundo tem plena capacidade de se resolver sozinho. Pois é, não tem. 1x0 pra você, Glauco.

Não, o Glauco não é a pessoa. Ele sabe quem ele é.

domingo, janeiro 14

"a spectre is haunting..." (forever?)

incrível como não pensaram nisso antes. dica do träsel.

sábado, janeiro 13


Got to be there,
be there
In the morning
When she says hello to the world
Got to be there,
be there
Bring her good times
And show her that shes my girl

quarta-feira, janeiro 10


Sobre Baleias e Tubarões

É oficial, estamos de férias. Você não sente as férias quando vai viajar. Em viagem nós sempre temos ocupações e, até me arrisco a dizer que canso mais em algumas viagens do que no ritmo normal.

O “estamos” engloba: eu, o Vince, e o meu irmão, que agora é um espírito errante na terra. Qualquer dia eu dou mais detalhes sobre ele.

O Vince está de férias, pois pela primeira vez eu não estou dentro de um escritório no verão, e não sei qual será o destino dele. Essa reviravolta de leis sobre ensino me deixou extremamente confusa. Meio confusa. Já decidi que é um estupro botar uma criança de 6 anos na primeira série. Pois agora resta encontrar uma pré-escola que alfabetize. Embora as pedagogas dos grandes colégios espirrem com o sorriso engessado que uma criança não precisa estar lendo quando ingressa na primeira série, eu acho que tem que ler sim. E como ele está se encaminhando pra isso, não vou deixá-lo numa creche meia boca onde a cozinheira faz as vezes de professora. Eu lia com 6 anos, apresentei a formatura e bla bla bla, mas isso envolve o meu instinto de superação que conheci muito cedo. Também é o maior vilão da minha vida, mas essa também é outra história.

O que acontece é que vamos passar janeiro inteiro, os dois, dentro de casa, sem empregada. A segunda feira já mostrou que vai ser o inferno, então fomos pro shopping. Nada de parques e pracinhas pra mim, sorry, tenho pavor da interação que acontece nesses lugares.

Fizemos o roteiro básico Mc Donalds – piscina de bolinhas, com direito a adquirir mais alguns bonecos da promoção. E agora temos o Mac E o Blu. A satisfação é imensa. Eles são os correspondentes contemporâneos ao Calvin e Haroldo, uma das minhas grandes obsessões. Er...os brinquedos são dele, sim.

Então fomos comprar materiais escolares pros dois, cadernos e outras coisas, tudo do Homem Aranha. Afinal, o terceiro está quase aí. O Vince está muito empolgado que vai ter o Venom (nada como pais que ensinam a doutrina Marvel), já eu aguardo ansiosamente por Harry Osbourne, a.k.a. James Franco, meu Jeff Buckley do cinema.

E daí, o nosso templo, Livraria Cultura, parada obrigatória sempre. Eu não sei se existe algum tempo regulamentar pra ficar ali sentado lendo no Dragão, mas certamente se existir nós devemos ser visados. O Vico achou uma enciclopédia de Dinossauros maravilhosa, que trata desde o início das espécies, o CALDO PRIMORDIAL, as amebas, etc...Ele não entendeu muito bem como tudo isso se transformou em animais de 20 metros, mas pelo menos já teve a introdução. Pra falar a verdade, nem os cientistas sabem ao certo como se deu isso.

Enquanto ele escolhia um livro pra ele (uma vez que não dá pra sair de lá de mãos vazias), dei uma olhada na sessão dos clássicos estrangeiros, a intenção era só olhar, e olhei mesmo, várias tentações caríssimas, até encontrar uma edição da Dover do Old Curiosity Shop, de Charles Dickens. Well, viva o VISA e os créditos de cliente preferencial.

Dickens fez parte fundamental no semestre passado, quando fazia um trabalho sobre literatura vitoriana. Não vou mentir, ele pode ser meio chato, meio Machado de Assis. Mas assim como este outro, é uma leitura necessária. Todo mundo aí já deve ter assistido o Grandes Esperanças, certo? Pelo menos aquele com o Ethan Hawke e a Gwineth Paltrow. Então, é dele. Assista a primeira adaptação, é tãããão mais glamour.

A propósito. Eu nunca li um Machado. E não quero ler até que me obriguem. Dane-se a Capitu.

Vincenzo optou por uma história em quadrinhos do Menino Maluquinho (não achou graça dos clássicos), e esse contém animais, verdadeiro potencializador de escolhas na cabeça do pequeno ativista do Greenpeace. Dei graças por ele deixar o Bob Esponja na prateleira.

Mas foi na sessão de quadrinhos que eu passei vergonha. Eu, o Vico e mais uns 8 garotos de uns 15 anos nos apertávamos numa única estante (por sinal, vamos aumentar isso aí, certo?). Calvin, Garfield, Snoopy, DC, Sandman, Crepax, Manara, Crumb (ops, esses aí ficam no alto), todas edições importadas e longe dos nossos bolsos. Tinha um espaço só do Tintin, e como o Vince não sabia de quem se tratava eu comecei a explicar. Até que ele pegou esse livro e falou:

- Mãe, olha, um tubarão! – ele adora tubarões.
- Hmm, mas isso não é uma baleia?
- Tsc, mãe...Tu não sabe diferenciar? – todos me olhavam.
- Hmm, como se faz isso?
- Mãe, as baleias tem o rabo assiiiiiiiiim – gesticulando na direção horizontal – e os tubarões, assiiiiiiiim!!! – dessa vez, na vertical.

Eu, não convencida, continuei:

- Mas será que não é só um erro do desenho? - Um erro do Hergé! Deus, bate nessa mulher.
- MÃE!!! – todos olharam com muita atenção – Olha isso aqui! Isso são BRÂNQUIAS!!!
- E baleias não têm brânquias?
- Claro que não! Elas não são peixes!
- Mas elas não são peixes por outras razões... – já assinando o atestado de perdedora.
- Não mãe, elas respiram por aquele buraco na cabeça!
- Hmm, é? – assume – Então tá, depois tu me explica em casa...

Paguei os livros que escolhemos, ainda passamos no supermercado pra comprar uns 5 tipos de chocolate e viemos pra casa. O assunto morreu.

Hoje, enquanto lavava louça, Vincenzo chega pra mim, com expressão de vitória:

- Mãe, o nome do buraco na cabeça da baleia é ESPIRÁCULO.

UPDATE:

Mostrando o post pro Vince:

- Olha só, eu achei o desenho da capa daquele livro, agora eu entendi porque não é uma baleia.
- Você achou que era uma baleia só porque era preto e branco?
- Aham – cabisbaixa, a perdedora.
- Tsc – me olhando com uma expressão de “ah, coitadinha” – isso acontece às vezes...

terça-feira, janeiro 9

David Bowie Day – January, 8th

Fãs do mundo inteiro comemoram esse dia que passou como feriado internacional. Ou mais.

Pra algumas pessoas o nascimento do Sr. David Jones representa mais que o do Sr. JC. Talvez esse seja o meu caso.

Há 20 anos atrás ele entrou na minha vida como Jareth, o Rei dos Duendes que leva os irmãos chatos para o além e se apaixona por ti. Durante a adolescência houve um período de latência previsível no qual nos separamos (sem mencionar o que ele fez de 87 até o início dos anos 90, a idade das trevas). Há 10 anos atrás eu adoeci irremediavelmente. Comprava o álbum Outside, como já relatei a historinha por aqui várias vezes, e depois disso David Bowie se tornou meu amigo, amante, profeta, psiquiatra, exemplo, guru, e por aí vai. Deus.

Na mesma época surgia a Bowie Net, o seu provedor próprio, no qual eu era associada e tinha informações até da cor da cueca que ele usava no dia, tendo coletâneas minhas publicadas no site e respostas do próprio para algumas das minhas perguntas inquietantes (nada interessante pra outras pessoas, por ex. “David, what do you wonder about Peter Hammill’s works e blá blá blá”). Depois de um tempo o Plano Real mostrou a que veio e o sonho de 1 dólar = 1 real acabou, assim como a minha assinatura. Hoje a Bowie Net é uma mega rede com milhões de usuários, e particularmente, eu não pagaria os 64 bucks anuais pra me decepcionar. No início éramos 20, e os que ficaram da época hoje são redatores do site e têm ingressos grátis pra qualquer apresentação. Maldito Brasil e seus problemas econômicos.

Eu havia esquecido, da mesma forma que esqueço os aniversários de todo mundo, menos o meu e o do meu filho (e o da minha mãe, que é no mesmo dia que o dele). Mas a internet é linda e nos deu o Orkut.

Há algum tempo atrás eu descobri que no Rio de Janeiro vários fãs se reúnem e fecham o dia 8 inteiro (da meia noite e um até onze e cinqüenta e nove) de um estúdio pra ficar fazendo jam sessions, bebendo vinho, fumando Marlboro e tocando....hmmm....Bowie. O tempo todo. Já tentei organizar algo parecido por aqui, mas nunca dá certo, faltam músicos e falta organização. Someday, someday.

ELE sempre está presente. E mais do que isso, com a ajuda da Assistência, sempre que acontece algo “that really matters” na minha vida, é só prestar atenção na trilha sonora, que ELE está lá, fazendo sinal de positivo. Garanto que é completamente involuntário e até assustador de vez em quando.

Não sei mais o que falar sobre isso. Minha vida não seria a mesma sem ELE.

Parabéns, London Boy, Karma Man, Madman, Superman, Starman, Ziggy, Aladin, Dory, Bitch, Duke, Sweet Thing, Hot Tramp, Angel, Hero, Dog, Alien, DJ, Nathan, Daddy, Dreamer, Earthling… Enfim, que você tenha a eternidade toda, Wild Eyed Boy.

Keep Swinging!

*

Pra encerrar (óbvio que não consigo parar por aqui sem falar de nenhuma música), fiz um exercício bem conhecido pelos nerds. Botei todos os álbuns no shuffle enquanto escrevia aqui, o que deu uma seleção caótica de 13 músicas, e vou comentá-las brevemente.

01. Dodo / 1984

A primeira eu tive escolher, então introduzo com essa versão especialíssima, ao vivo, que está na edição de aniversário do Diamond Dogs como bonus track. Em todo o trabalho do Bowie, encontramos milhares de referências, mas o Diamond é uma prova concreta do que Orwell fez com a cabeça dele. 1984 é um show de letra e composição. O medley com Dodo só a deixa mais forte ainda. Me lembra os bons tempos de discotecagens intocáveis na Funhouse.

02. We Are Hungry Men

Bowie mod, cabelinho e terninho, tentando imitar a negrada, tem coisas maravilhosas nesse disco (Deram Anthology), mas essa não é das minhas preferidas, mas o refrão já dá o tom: “we are not your friends, we don´t give a damn for what you´re saying, we´re here to live our lives!”

03. The Voyeur of Utter Destruction (As Beauty)

Outside. Falo demais desse disco, então não vou me alongar. Ela só é a melhor do álbum. Começo a ouvir o crescendo e as borboletas do estômago já ficam todas abusadas.

04. Jean Genie

Também não super faz minha cabeça at all. Mas representa um dos melhores álbuns da história da música (The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars). E no clipe vale conferir a estonteante Cyrinda Foxe, a groupie que mais faturou nos anos 70.

05. Sufragette City

Mesmo álbum, mesmo estilo, mesmo Ziggy enlouquecido.

06. Always Crashing On The Same Car

Uma balada dessas do tipo “a história da minha vida”. Não dá pra ficar imune. Quando se ouve o riff do refrão, é necessário afastar todas as giletes da casa. Fora o fato de figurar o Low, disco da trilogia Berlin, junto com Heroes e Lodger, que pra muitos, é insuperável.

07. China Girl

“I feel tragic like i´m Marlon Brando”. Oh My…sem comentários. Quem escreve isso sabe o que está dizendo.

08. Moonage Daydream

Muito culpada no cartório. Logo no início, quando estava chafurdando tudo sobre o trabalho do Homem, assisti o filme (Ziggy Stardust... – The motion picture). Moonage começa com riffão e um sussurro: “aah...uuuuuuh....uuuuuuuh....”, e abre numa declaração “I´M AN ALLIGATOR, I´M A MAMMA PAPPA COMMING FOR YOU!”, o choque foi sem igual, as pessoas na platéia transtornadas, fazendo coreografias no refrão (“keep your ‘letric eye on me babe / put your raygun to my head / press your spaceface close to my love / freakout in a moonage daydream...oooh yeah”), chorando, e aquele ser no palco, transando com todo mundo através da voz. Elvis? Nah. Beatles? Nah. Mick Jagger? Quase. Era uma persona, além do homem, ele não era real, era muito melhor. E Ziggy Stardust se apresentou pra mim.

09. Sorrow

E lá pelas tantas ele lança um disco só de covers. Pros puristas, é certo que ele arrasou com muitas obras definitivas, mas Sorrow, é uma graça. Brega pra caramba, quase um Cauby Peixoto hetero (ou não). Mas é trimmassa. Está no Pin Ups.

10. Breaking Glass

Também do Low. Todo aquele visual artê pós moderno, menos de 2 minutos de música. Textura forte nas guitarras. Sobre a Berlin Era vale lembrar que Bowie se preocupava demais com texturas, arranjos, etc. Tudo tinha que ser “visível”, "palpável”.

11. New Killer Star

Estrela maior do último disco, Reality. Como sempre o cara usa de um oportunismo sem igual pra gravar. O Reality é o Bowie tentando ser moderninho, uma das lendas da produção é que ele escreveu todas as canções ouvindo Song 2 do Blur. Não tem nada a ver, mas a gente nota aqui e acolá os ares de Albarn e Coxon. Nessa faixa mesmo, escute com atenção e pense naquela caixinha de leite bonitinha. :)

12. Changes

Feliz por ela ter dado o ar da cara. A personificação do homem. Ch-ch-ch-ch-changes!

13. Perfect Day

Hahaha! Então lembra o que eu falei lá em cima. Versão com vários artistas, na qual o Lou (Reed) destinou as melhores linhas (linhas? ãhn? Ãhn? Hahaha) ao nosso aniversariante.

Just a perfect day, you make me forget myself.

*suspira*

segunda-feira, janeiro 8


Black is the color of my true love’s hair é uma canção antiga, de origem celta. Uma das coisas mais perfeitas que já tive a alegria de ouvir. E é cantada por diversas vozes ao longo dos tempos, masculinas e femininas, o que dá uma riqueza sem igual à composição, porque é transposta liricamente para os gêneros de acordo com a ocasião, quando um homem canta, fala sobre ela, quando uma mulher, sobre ele.

As versões mais conhecidas (e mais fortes) ficam por conta de mulheres. E QUE mulheres! Se por acaso você já ouviu falar de “Black is the color...” possivelmente foi por causa de Nina Simone, já podia se bastar por aí! Judy Collins canta o original com a letra completa em sua maestria. Tem ainda a absurda e urgente versão do Twilight Singers, projeto do Greg Dulli, vocalista da extinta Afghan Whigs (Seattle 90s). A minha preferida, e a primeira que ouvi na vida, lá nos idos de 1997, é de Nnenna Freelon, jazzie de primeiríssima, de sair sacolejando pelo assoalho.

As letras cantam sobre o amor dedicado, idealizado, despretensioso. Pra interpretá-lo já basta a adoração. Nada melhor do que adorar. Sem nada em troca, pode até, veja, ser nebuloso, obscuro. Black is the color.

*

I write to you in a few little lines
I´ve suffered death ten thousand times


De noite, quando tudo fica quieto, ela acorda.

Não que não estivesse acordada antes, mas é quando o sol se põe que ela consegue respirar. O cheiro do sereno invade a casa que ficou fechada o dia todo, o fogão é ligado pra esquentar alguma coisa, as crianças dormem. Os livros que parecem empoeirados na estante começam a brilhar, as roupas parecem mais exuberantes, o som se espalha no cômodo, maquiagem em cima da cama. Maria vai sair.

As luzes sobre a cabeça, ela gira, gira, gira, roda errante, errando pela pista e não entende nada. Não entende porque não consegue viver sem aquilo, sem “a música batendo na barriga”*, sem o relógio que separa o que vai tocar, sem as pessoas que abraça sem sentido. Ela precisa ver, o estímulo visual traz a temperança.

Um dia esse moço, Júlio, lhe ofereceu bebida, ela nem ligou. Pra variar, estava cansada do emaranhado de faces sem história. Continuou rodando, rodando, atrás de quem lhe parecia acolhedor. Não aconteceu. A firmeza que se tem quando passa o colorido início de romance, apesar de surtir conforto, vai ficando cada vez mais dura, óbvia, vai perdendo substância, mesmo estando cheia de intimidade e afeição.

Júlio continuava lá, de olhinhos brilhantes, dizendo tudo que tinha que ser ouvido. Riso franco, concreto. The purest eyes, and the strongest hands. I love the ground on where he stands. É quando se abre espaço, se fornece a oportunidade e as chances pra alguém, que esse alguém consegue ser o que é. Maria o deixou se mostrar, e se gabar, e acreditar que tudo é possível.

Nem precisou fazer nada, ele a seduzia por dois, e por dois ressurgiu em muitos e deixou todas as memórias pra trás. Maria não conseguia decifrar os códigos, tampouco o ritmo em que aquilo acontecia. Ela se deixou levar. His lips are like some rosey fair.

Os egos imponentes deslizaram, direita, esquerda, e repetidamente. And he and I will be as one.

Ele não era de muitas palavras. Olhava, sentia, constatava. Tudo mais fácil pra ele que pros outros rapazes, que tinham que se esforçar pra adquirir a coragem necessária pra se aproximar de alguém que lhe era valoroso. Os rapazes nessa idéia não sabiam transpor absolutamente nada pra esfera palpável, essa era a realidade.

É bem claro que esse transpor não significava nada muito profundo. Uma vez que na linguagem masculina o que importa é mais uma conquista, e se sentir um pouco menos solitário. Alguém que te dê um sorriso, um afago, um olhar de reciprocidade. Ao menos por alguns minutos ou horas. E após, a necessidade de ser um Casanova orgulhoso se manifesta.

If he on earth no more I did see…

As faces ruborizavam-se conforme o ímpeto do amor se fazia crescente. Ela fechava os olhos e se imaginava verdadeira rapisódia, ele, sentia o cheiro dela e visualizava a própria ninfa arfante de Chipre.

Eis então que remetem a um ninho, e o ninho se pressupõe casto, insigne. Não tem luzes piscando, nem a música ensurdecedora, nem os olhares dos passantes e juízes de coisa nenhuma. E os signos se pressupõem benfazejos, promissores.

Ai de ti se pensares o contrário, mas até agora só enxergo os pródigos buscando a liberdade!

Manifesta a balbúrdia atonal, dos diferentes sons, desencontrados suspiros e gemidos num baile de lamentos sobre o que é a vida. O que é o vingar da existência parca e pôr os pés no chão e respirar com vontade.

O solo que grita é pelo sentir de novo, renascer do torpor que a amargura reservou, assumir a sensação nata do prazer que é dividir.

Maria entreabriu os olhos, enxergou o vazio sereno. Não o vazio do abandono. Mas as possibilidades. A tábula rasa pra escrever o momento seguinte e os conseqüentes. The winter is passed and the leaves are green.

Julio mergulhou nas madeixas negras e perfumadas e desejou sonhar por ali mesmo. Pelo menos por enquanto.

Tho’ a finest face, and the neatest hands…


*I´m alive
Vivo muito vivo
Feel the sound of music
Banging in my belly belly belly

Nine out of ten – Caetano Veloso
*

You Tube

Judy Collins (não é das melhores, mas o vídeo tem a letra, qu não vai se encontrar em outro lugar, na íntegra)

Twilight Singers (aproveite e assista o Conjure Me do Afghan que é uma delícia)

quinta-feira, janeiro 4

There´s no place like home. (ou this town called malice, fazendo dancinhas)

Cheguei, e estou satisfeita com o ar que respiro, meu quarto e minhas roupas. E meus sapatos novos, claro, principalmente um rosa cintilante. Minha mãe diz que não é um calçado, é uma fantasia.

Tenho que falar sobre aquisições. Realmente não entendo o consumismo desenfreado que atinge as pessoas quando vão pra São Paulo, comprei algumas coisas, sim. Mas me foquei num sebo que fez muito mais minha alegria do que uma calça jeans nova ou cintos de estampas animais.

A Inconstante – Guy de Maupassant – 10,00

Eu comecei a gostar do Guy no ano passado. Ele conseguiu deixar de lado as revoluções na França e botou a cabeça pra funcionar. Enquanto Zola “germinava” críticas sociais ele falava sobre os problemas das pessoas. Sempre mais importante, e muito mais interessante.

As Noites Revolucionárias – Restif de La Bretonne – 20,00

Quem é um pouquinho revolucionário sabe que Bretonne é um grande nome. Quem gosta de Vitor Ramil sabe que Bretonne é imprescindível. Neste volume ele relata a revolução vista da janela de casa, ou da porta de um boteco. O público pelo privado, adoro.

História da Comuna de 1871 – Prosper / Lissagaray – 20,00

Esse já é mais científico. E sim, eu adoro o processo revolucionário francês. Do início ao fim. É o que fez com que a França se tornasse a melhor nação do mundo. Precisamos de exemplos. A Comuna de Paris é o melhor exemplo de governo ideal já visto em prática.

O Vampiro Armand – Anne Rice – 15,00

Er....eu coleciono.

Decameron – Boccaccio – 15,00

Edição da Abril, em dois volumes, capa dura e impressão dourada. Dá pra resistir?

À Procura dos Mundos Perdidos – Henry-Paul Eydoux – 25,00

Well, ele é considerado a bíblia dos arqueólogos. Tá um pouco amarelado, mas isso só dá mais charme ainda. O maior achado da temporada.

Crazy Cock – Henry Miller – 10,00

Primeiro escrito do homem. Sem maiores apresentações, certo?

*

Enquanto isso, as outras mulheres da família usaram o mesmo dinheiro pra comprar um sutiã.

Ainda sobre livros, terminei o Uma Longa Queda. Na boa, é chato pra caramba. Eu não cheguei a ler o Hi-Fi, mas tenho quase certeza que se for o mesmo tipo de narrativa eu não agüentarei, mesmo com as músicas todas. Nick, você falhou comigo, você é medíocre demais. Acho que é você quem tinha que ter se jogado do Topper´s House.

terça-feira, janeiro 2

Hoje o céu finalmente está cinza, como deveria ser em São Paulo.

O que eu tenho a dizer sobre o ano novo. Bem, ontem eu não tomei banho e dormi quase o dia todo. Não saí, não bebi todas, não dei vexame. Simplesmente estava cansada.

Sinto que rolou a abstinência da febre litorânea. Os últimos finais de ano aconteceram todos à beira da praia, e embora eu não esteja feliz de assumir isso, estou sentindo falta. Da insolação às 7 da manhã, da pele queimada e principalmente da água. A “síndrome de peixe grande”, sabe. A água me faz muita falta, e a do chuveiro não serve. Percebi que meu corpo estava acostumado com esse ritual de revitalização só agora, e talvez seja esse um dos agravantes para que eu não ache graça nenhuma em São Paulo. Lembrando agora, os momentos que desencadearam uma cadência de sorrisos na minha cara foram as corridinhas na garoa.

De repente vou dar mais um par de saídas por aqui. Até a Pinacoteca ver uma exposição de material Mochica (pré-colombianos), e me arriscar a sair outra noite, sem ânimo nenhum.

Me dou conta também que não fiz nenhuma resolução especial. As coisas estão tão legais que não precisei pensar em mudar nada. Só voltar pro boxe, mas era algo esperado, pois só parei por motivos estruturais.

Talvez eu deixe o cabelo crescer de novo...E leia um Dostoievsky.

***

Das coisas escritas antes de 2007.

Dez_2006 – Angatuba – SP

Depois de muitos anos, aqui de novo. Cidade pertinho do fim do mundo, terra da família do João Gordo (não que isso mude algum fato, é só pra ilustrar). Meu habitat nos finais de semana de 1991 a 1994.

Hoje se organizou uma mega festa de aniversário pra minha vó, que celebra 74 anos aturando uma trupe de 6 filhos (e cônjuges), 10 netos, 1 bisneto genético e 1 “torto”, como ela diz. Era uma festa surpresa. Não preciso dizer que quase mataram a velhinha.

Essa casa cheira à adolescência, a minha. A cidade toda, na verdade. Território que eu desbravei, sozinha, acompanhada por muitos, ou por alguns mais especiais. Foi aqui que eu aprendi todas as coisas boas e ruins da juventude. A noite, a cerveja, o som alto, os beijos no meio do mato, um primeiro namoradinho...

Era um baile desses de interior, com uma banda dessas de interior. Já tava de saco cheio de ouvir axé e música sertaneja. Eu tinha 11 anos e gostava do Mike Patton.

Até que vi esse cara, ele era lindo. Olhos amendoados, boca suculenta (ok, com 11 anos eu não usava o termo “suculento”), cabelo bagunçado (os Strokes ainda brincavam de Comandos em Ação), o homem perfeito.

Claro que alguém conhecia ele, todo mundo se conhece aqui. Fomos apresentados. Uma menina rebelde de 11 anos, um “country boy” de 16, esperávamos uma luz. Que não surgiu, é claro, então ele me chamou pra dançar. “Evidências”, do Chitãzinho e Xororó...

Por algum motivo, eu gosto dela até hoje. Acho uma boa música.

Mas olha! Ele era músico! Tocava teclado numa banda cover de U2 e outras coisas desse naipe. Foi nessa época que eu comecei a tocar também, não imagino o porquê.

Porém esse lance de banda era só nos fins de semana, nos dias úteis ele administrava uma fábrica de farinha de milho.

Nunca tive fantasias com mecânicos imundos, mas ainda lembro perfeitamente do James sem camisa e todo enfarinhado, com as bochechas rosadas de vergonha.

O James era lindo. Esse era o nome dele.

A gente se falava pelo telefone, e se via no final de semana, até que, aos poucos eu fui deixando, deixando, e deixando de ir pro interior. Então rolou a ligação do “não dá mais”. A gente chorou, pelo que eu lembro.

O tempo passou, eu voltei pra Angatuba, ele tava namorando uma menina da cidade. Fui de novo, conheci a garota, e até demos algumas risadas juntas. Com direito a ele me puxar de canto em algum momento e dizer: “ela não sabe de nada, não conte, ok?”. E eu consenti, mesmo achando ele mais lindo que nunca, com os cabelos bem longos, com ares de vampiro de Nova Orleans.

(essa deve ter sido a primeira vez que fui solidária com um ex....GOSH...será que eu nunca vou parar com isso?)

Na terceira vez, soube que ela estava grávida. Veja, esse lance de ficar grávida antes dos 20 anos ainda não havia acontecido no meu círculo social. Decidi não encontrá-lo mais. This game, you loose.

De qualquer forma, é só botar os pés nessa cidadezinha que eu penso nele. Será que ele é feliz? Está casado? Dormindo agarradinho com o filho?

Não tinha nada pra fazer, e a única coisa pra ler era a mini-lista telefônica de 10 mil habitantes.

Está lá: ...JAMES..., endereço tal, telefone tal. E o endereço da fábrica de farinha de milho também, ainda com o mesmo número de telefone que eu ligava há 15 anos atrás.

Ainda tenho amanhã pra pensar no que fazer.
*

O Amanhã, narrado depois de 3 dias.

A fábrica ficava na rua da minha vó, então eu fui até o mercadinho pra comprar iogurte pro Vince, com o propósito de passar ali em frente.

Tinha uma criança sentada na escadinha da porta, mas muito velha pra poder ser o filho dele, então ignorei. Lá dentro, um peão que não tinha jeito nenhum de fazer parte da família, os meninos eram muito bonitos (eu devo dizer que algum tempo depois eu tive uns flertes com o irmão dele, que era outro sex symbol da cidade, embora muito, mas muito mais sem vergonha e sem talento).

Eu não entrei, nem fui perguntar por ele, nem liguei, nem nada. Só mencionei o nome pra minha tia, que era amiga dele, mas ela também, morando em outra cidade, nunca mais havia ouvido falar do James. Assim como o marido dela, que também participava das nossas noites loucas no interior, e até me relatou a vida inteira de um outro caso que eu tive por lá.

Me despedi de todo mundo, dei um abração na vó, porque nunca sei se ela vai estar lá da próxima vez. Entrei no carro. Tinha uns 5 pacotes de Farinha Bom Jesus ali no banco.