segunda-feira, dezembro 25

Cá estamos nós.

Se foi o Natal, tão rápido quanto uma criança rasgando um papel de presente.

A família se reuniu em peso. E quando eu digo em peso, significa todo o clã. Como eu esperava. Crianças berrando, pessoas bêbadas, outras bravas com as pessoas bêbadas, até cachorro latindo...just like in the movies.

Estou feliz...

Mas sentindo uma saudade imensa daqueles que foram minha família nos últimos tempos.

Mas comendo muita coisa gostosa, o que me impede de beber e saborear minha embriaguez tântrica.

Mas não encontrando uma brecha pra sair e me esgotar numa noitada.

Bastante estranhamento. Da vida comum.

Boris me tirou no amigo secreto, pegadinha da Assistência, e me deu Uma Longa Queda, do Hornby. Tentarei esgotá-lo antes do ano novo, simbolicamente. Vale dizer que eu dei o Axis:Bold as Love, do Hendrix, pro meu amigo secreto. Nem o conhecia, mas não tem como haver outro presente melhor pra quem não conhecemos.

Aqui perto de casa tem mil sebos, dos quais eu pesquei uma seleção de contos do Decameron, do Boccaccio, pra ler na temporada paulista também. Fora os de poesia que roubei de mamãe. Quintana e Fernando Pessoa.

E tá tudo assim. Vou fazer um random pra fechar.



Canção de Inverno

O vento assovia de frio
Nas ruas da minha cidade
Enquanto a rosa-dos-ventos
Eternamente despeta-la-se

Invoco um tom quente e vivo
- o lacre de um envelope? –
E a névoa, então, de um outro século
No seu frio manto envolve-me

Sinto-me naquela antiga Londres
Onde eu queria ter andado
Nos tempos de Sherlock – o Lógico
E de Oscar – pobre Mágico...


Me lembro desse outro Mário
Entre as ruínas de Cartago,
Mas só me indago: - Aonde irão
Morar os nossos fantasmas?!

E o vento, que anda perdido
Nas ruas novas da Cidade,
Ainda procura, em vão,
Ler os antigos cartazes...


(Quintana)

sexta-feira, dezembro 22



Vida em SP

A única coisa daqui que me agrada é que a madrugada tem barulho, e me sinto uma cidadã normal.

Algumas programações se encaminham, mas só de pensar em sair no formigueiro já me dá uma tristeza.

Porto Alegre, eu te amo.


domingo, dezembro 17

gone.

embarco pra São Paulo amanhã. férias de tudo e amor da família, o melhor.

e para tal, Guillemots.

"mas o mundo não acabou. ainda."

nada é igual, as pessoas não são mais as mesmas, o lugar não é mais o mesmo. mas comemorar 2 anos de Beco é uma epifania. talvez porque isso acene que daqui a dois meses haverá os 2 anos da Róque Town, e isso me deixa feliz.

ontem mesmo estava falando em matar a Róque Town, tal qual o Sr. Ziggy Stardust: "this is not only the last show of the tour, but this is the last show we will ever do". mas não, já voltei atrás, e o Rocky vai até o VI, nós ainda estamos no II. A revanche do século.

lembrando que em janeiro tem a clássica Sex Town. como diriam os Insanus, prevejo chinelagem.

A versão nova de Annie Let´s Not Wait é a nova Bizarre Love Triangle, anote aí e me agradeça depois.

e nas ruas de São Paulo, Fyfe Dangerfeld grita:

get me a doctor
get me a doctor
who will get rid of my bones

get me a lover
get me a lover
who will leave my head alone

get me a soldier
get me a soldier
who will fight me in this war

get me an exit
i need an exit
i need a window or door

thrown across water
thrown across water
thrown across water like a stone

get me a lawyer
get me a lawyer
who will sue the world for me

get me a person
get me a person
get me a person who isn't me

cuz i'm getting tired
i'm getting tired of my stupid face

cuz i don't belong here
i don't belong here
don't belong in this horse race

sexta-feira, dezembro 15

O analfabetismo político que me compete é conhecido por muitos à minha volta. Mas de vez em quando nem eu consigo ignorar.

Como assim, dobrar o salário, meus camaradas? Como assim? É uma forma de mostrar pro povo que ele realmente é passivo e ignorante?

Cada vez mais eu temo a semelhança com a Paris da segunda metade de XVIII.

Robespierre, tô aguardando.

A lista dos filhos da puta aqui.

E as melhores observações aqui.

terça-feira, dezembro 12


ilustrando
Chagdud Gonpa Khadro Ling - 09.12.2006

segunda-feira, dezembro 11

acredito no coração

Falando sobre outras coisas. Há alguns posts atrás eu jurei que nunca mais entraria numa sanga budista. Não só entrei, como fui até a CONCRETA FORTALEZA do budismo tibetano no Brazil, o bom e velho “gompá” (agora sob o nome de Chagdud Gonpa Khadro Ling, que na minha “época” ainda era Rinponchet, mas o velhinho sábio se foi em 2002
).

Me “animei” a ir pra lá por causa da cerimônia em homenagem ao querido Gabriel Pillar, “dono” do Insanus, que se foi há uma semana num acidente ridículo e filho da puta.

A cerimônia a que me refiro consiste em acender várias, muitas lamparinas (que na verdade são uns potinhos dourados com óleo inflamável e um pavio) para que o ser consiga se elevar e para que nós consigamos transmitir o amor e compaixão que possuímos pelo ente desencarnado, pela família e pelo mundo (tudo no budismo é generalizado, menos a hierarquia luxuosa).

Foi muito bonito, todos que foram se emocionaram bastante. E pra mostrar que uma cerimônia de “passagem” pode ser muito mais legal que a da velha e caquética Igreja Católica Apostólica Romana, a Lama Khadro (sim! o guru máximo nessa linha responsável por toda América Latina é uma mulher), depois do ritual convidou a família e os amigos pra um “café” na casa dela. Veja, a casa dela fica dentro do templo, no último andar, lugar onde nenhum ser comum possui acesso. Tiramos devidamente os sapatos, entramos, eu e minha amiga tivemos um olhar de condescendência do tipo “sim, quero ser monja quando crescer”, tamanha beleza do recanto da Lama, e então nos juntamos aos outros numa refestelância de café, suco, vinho do porto, quiche de brócolis, strudel de frutas e por aí vai.

Khadro pediu que todos se acomodassem em círculo e contassem boas histórias do Gabriel. Isso deveria acontecer em TODAS as situações de luto. TODAS. Foi a coisa mais linda que já vi na minha vida. Parentes e amigos falando de como a pessoa era genial, feliz, divertida, interessante. E na única e última intervenção de tristeza (foi questionado porque uma pessoa tão interessante se vai assim, tão breve), Khadro olhou serenamente e respondeu: Well, he´ll be back.

Simples assim, “he´ll be back”. Nem preciso dizer que foi emocionante encher àquelas pessoas de esperança com uma frase de 3 palavras pronunciadas com tanta espontaneidade, certeza e paz. Como brincamos depois, foi nesse momento que respeitamos Khadro como uma grande Lama.

Aliás, a viagem de ida e volta pra lá foi permeada por muitas e muitas piadas. Tenho certeza que ele adorou. Isso é o que eu mais gosto nesse núcleo de amigos, sempre se tem um motivo pra dar uma boa e alta gargalhada, e pelo que vi e sei, Gabriel era um dos mestres na arte.

Depois do café, ainda demos uma volta pelo templo, tivemos a graça suprema de poder ir ao topo do templo, o lugar mais alto da região (impossível descrever, posso apenas me ater ao fato de que na ante-sala da varanda tem um belo notebook, e agradecemos à Sakyamuni pelos budistas que precisam da internet).

E foi dessa forma, adequada, que nos despedimos de uma pessoa incrível.

Ou não, melhor, a despedida oficial foi na Lancheria do Parque, com sucos, junkie food e uma Polar (agora sim, adequado).


*

Da série músicas que repudiava:

Semáforo – Vanguart

Viciei.
“(...) A culpa não é verdadeiramente do público. Este nunca recebeu, em época alguma, uma boa formação. Está constantemente pedindo à Arte que seja popular, que agrade sua falta de gosto, que adule sua vaidade absurda, que lhe diga o que já disseram, que lhe mostre o que já deve estar farto de ver, que o entretenha quando se sentir pesado após ter comido em demasia, e que lhe distraia os pensamentos quando estiver cansado de sua própria estupidez. A Arte nunca deveria aspirar à popularidade, mas o público deve aspirar a se tornar artístico.(...)”

(O.W. – A alma do homem sob o socialismo)

Oscar Wilde elucidando as conclusões a que chego, depois de quase 2 anos lutando pra trazer educação aos ouvidos das pessoas.

É a ele que presto minha homenagem no final desse ano. Que pretendo encerrar com a leitura do De Profundis (e não dormir sobre ele na cama, o que aconteceu na última noite).

Permita-me dizer que Oscar foi o único que falou sobre o meu caminho estar certo, e que não devo desviar a nenhum custo. Nem que tenha que fazer alguns sacrifícios.

A Arte não tem limites, não é uma linha reta e não se pode andar sobre ela. Só produzir, observar e sentir o efeito que ela causa sobre cada um de nós, sem pré-conceitos.

“(...) Ah, mas se a sua vida não tinha qualquer motivação! Uma motivação é um objetivo intelectual e você tinha apenas apetites. Que você era “muito jovem” quando a nossa amizade começou? Mas se o seu mal não era que soubesse tão pouco sobre a vida, mas que soubesse tanto! Ao me conhecer, já havia deixado pra trás o amanhecer da infância com seu delicado viço, sua luz pura e clara, sua alegre inocência tão plena de esperanças. Com passos rápidos e apressados, havia passado do Romance ao Realismo. O esgoto, e tudo o que nele vive, já tinha começado a exercer sobre você o seu fascínio.(...) O verdadeiro tolo, de quem os deuses zombam e a quem tentam destruir, é aquele que não conhece a si próprio. Durante muito tempo eu fui um deles. Você também: deixe de sê-lo. Não tenha medo. O supremo pecado é a superficialidade. Tudo que é realizado é certo.(...)”

(O.W. – De Profundis)

*

Eu ando citando mais e escrevendo menos, é uma verdade. Mas isso faz parte do aprendizado. Observar.

sábado, dezembro 9

This town called malice - The Jam

Better stop dreaming of the quiet life
Cos its the one well never know
And quit running for that runaway bus
Cos those rosey days are few

And
stop apologising for the things youve never done,
Cos time is short and life is cruel
But its up to us to change
This town called malice.

Rows and rows of disused milk floats
Stand dying in the dairy yard
And a hundred lonely housewives clutch empty milk
Bottles to their hearts

Hanging out their old love letters on the line to dry
Its enough to make you stop believing when tears come
Fast and furious
In a town called malice.

Struggle after struggle
year after year
The atmospheres a fine blend of ice
Im almost stone cold dead
In a town called malice.

A whole streets belief in sundays roast beef
Gets dashed against the co-op
To either cut down on beer or the kids new gear
Its a big decision in a town called malice.

The ghost of a steam train
echoes down my track
Its at the moment bound for nowhere
Just going round and round

Playground kids and creaking swings
Lost laughter in the breeze
I could go on for hours and I probably will
But Id sooner put some joy back
In this town called malice.


Eu ignorei o The Jam sem querer por muito tempo. Até rever On the Edge e ouvir essa música e enlouquecer, eis que baixei uma coletânea de 5 discos e estou me refestelando. The Jam, a banda do mês.

Aliás, a fase é total bandas irlandesas, entrei no universo das bandas "THE" com o maior luxo possível, e nada vai contra minhas teorias de bandas "THE". Ouçam The Walls e The Frames (a banda atual do cara do Commitments).

Alguém já mudou sua vida em algumas horas? A minha sim.

segunda-feira, dezembro 4

Said you'd took a big trip
They said you moved away
Happened oh so quietly, they say

Should've took a picture
Something I could keep
Buy a little frame, something cheap
For you
Everyone says hi

Said you sailed a big ship
Said you sailed away
Didn't know the right thing to say

I'd love to get a letter
Like to know what's what
Hope the weather's good and it's not too hot
For you
Everyone says hi

Everyone says hi

Don't stay in a sad place
Where they don't care how you are
Everyone says hi

(db)
Tudo é tão pequeno, escuro, nojento, vazio. Injusto.
Eu tava esperando o fim de semana que vem pra gente se encontrar de novo. Afinal, o que pode acontecer em uma semana? O que pode acontecer em três dias?
Um de nós morre.
E eu fiquei esperando pra te conhecer.
Esperar é a coisa mais imbecil do mundo.

Vou ficar aqui com o seu sorriso, aquele. O último.

Boa noite, babe. Bons sonhos.

domingo, dezembro 3

Só o timing transforma.

Continuando a questão “provar na hora certa”.

Nesse sábado, dia 2 de dezembro, quebrei meu cofrinho pra ver Caetano Veloso nas primeiras filas.

Sempre fui fã, nunca achei que o valor do ingresso valia o meu amor. Mas quando soube que o show de , além de ter as músicas maravilhosas do álbum novo, tinha canções do Transa, não houve dúvidas.

Valeu. Valeu cada moedinha. Um Caetano enorme num palco mínimo, em grande forma, carisma e urgência. Duvido que a Paula Lavigne consiga assistir esse show. No mínimo sairia de fininho pra não ser reconhecida.

Mais uma vez foi confirmado que um artista só escreve grandes obras quando está com o coração partido. Foi preciso o Caê tomar um belo pé na bunda pra mostrar do que ele é capaz.

Não é um show pra quem gosta de ouvir seus temas de novela (isso é pros tiozinhos que dormiam em partes fundamentais do espetáculo). É pra quem gosta do compositor genial, e claro, pra quem tem certeza que o Transa é sua obra definitiva e foi MUITO revisitada sonoramente no álbum novo.

O destaque vai, bem, pra todas!

Tá, de novo. O destaque vai pra ODEIO com um jogo de luz absurdamente cegante, WALY SALOMÃO, muito muito pesada, o arranjo novo e descompassado de SAMPA com muita fumaça no palco, MUSA HÍBRIDA e o momento Caetano de tanga (não, ele não tava de tanga, é só uma figuração), NÃO ME ARREPENDO e sua carga altamente lírica 60´s, segundo um amigo meu “é pra cantar com o pulso firme e alto, igual Geraldo Vandré”, O HERÓI e a porção política do show, complementada com FORA DA ORDEM, cantada aos coros.

Agora as favoritas. NINE OUT OF TEN foi a quarta música e a primeira a fazer “ola” nos meus pêlos do braço, apesar do arranjo gordinho, a versão do “Velô”. Ela agrada e quando suas ancas começam a se deslocar ela acaba, protesto. Um hino de 2.30 mins tem que ser tocado 5 vezes (ela é maior, mas parece isso).

DEUSA URBANA. A minha top 3 do Cê. Nos sets normais ela estava entre as primeiras, e ele não tocava, não tocava, achei que ia ficar sem. Mas não, ela veio (timing) na hora certa. Chorava, enquanto os tiozinhos mais uma vez se apavoravam com o refrão “mucosa roxa, peito cor de rola...”. Cê toda...ai.

ROCKS encerrou o primeiro ato, foi lindo, tive vontade de ligar pro Vico pra ele ouvir (ele adora o “mó ra-ta co-mi-go”), apesar dos tiozinhos mais uma vez atrapalharem deixando o Pepsi Onstage antes da hora, pra sair sem trânsito. Velhos do caralho!

Caetano parecia um menino de 17 anos no palco, tocando num festival colegial com a primeira banda da sua vida. Correndo de um lado pro outro, subindo nos amplificadores (ai), emocionado pra caramba, principalmente nas músicas do Transa, acho que ele não esperava que o público daqui sonhava com essa parte. Talvez esteja sendo limitada só porque estava acompanhada de dois amigos que como eu sonhavam com essa parte, sei lá.

Eu sabia que o BIS abria com YOU DON´T KNOW ME, vi a movimentação, então mais que breve corri pra frente do palco. Era o que a gente queria, era o que ele queria (antes ele havia manifestado a decepção de ver o lugar organizado em assentos). Ele entrou, nos aplaudiu, pegou aquela guitarra foda que eu não lembro o nome (que timbres meu deus! Que timbres!), e começou, começando, igualzinho quando você bota a faixa 1 do disco. “You don´t know me [pianinho..] better never get to know me...(…) Show me from behind the wall, SHOW ME FROM BEHIND THE WALL!!!”. A guitarra faz o solo do vocal da Gal. Um êxtase completo. Gozo, catarse, dê o nome que quiser, porque não tem nome isso que a gente sente nessas horas.

*chora, muito, esconde, chora mais um pouco, e Caê olha e sorri. morre*

Ainda tem reprise de ODEIO, com mais luzes cegantes ainda. O legal é que ele diz “odeio você”, como se estivesse olhando e dizendo “amo você”, só vendo.

Já que o povo não “redava” o pé, rolou mais uma, ANJO. Não sei, mas acho que é nova, porque a banda estava insegura de tocar. Foi bichisse total ele fazendo anjinho no palco, mas igual foi lindo.

Pra mim só faltou It´s a Long Way, do Transa também (e porque não o Transa inteiro?). E Nine Out of Ten mais 4 vezes.

Caetano é LINDO. E foda-se quem faz disso uma piada.