segunda-feira, novembro 20

Pra quando você estiver me xingando, e já souber ler direito.

É tarde, a gente acabou de brigar porque você não queria limpar o nariz (de novo). Deu tudo certo, agora tu ta aqui roncando, e eu escrevendo no escuro, com a luz do celular, pra tu não ter que soltar meu braço e acordar de novo.

Eu sei que errei em algum ponto por você não conseguir dormir sozinho. Talvez seja pelo fato de que eu nunca consegui também (dei uma boa enganada dos 11 aos 17).

Isso aqui vai ser uma lamentação só, se prepare.

Desculpa por deixar você cair e entortar o dente da frente aos 2 anos, espero que não tenhamos maiores problemas com isso.

Desculpa por ser histérica quando eu brigo. Eu não sei brigar e só faço isso quando precisa muito.

Desculpa por ter deixado você trancado em casa aquele dia que eu desci pra abrir a porta. Você disse “tudo bem” e eu ignorante acreditei.

O que me lembra de me desculpar por te tratar da mesma forma que trato pessoas de 30 anos.

Desculpa por não ser uma “mãe de parque”. Sabe, eu não gosto de rua, ar fresco, essas coisas. Farei o que puder pra compensar com livros, cinema, shopping e fast food.

E música. Bem, tu pode gostar do que quiser, contanto que tu ame.

Desculpa – e essa é a mais doída de hoje, porque você me reclamou igualmente doído – por não conseguir abandonar minha concentração noctívaga, fazer coisas de madrugada e não conseguir ficar acordada pela manhã. Todo dia, quando vou dormir, peço a Deus pra acordar às 9hs, mas o sono, Morfeu filho da puta, me amordaça, me nocauteia, me enche de boletas. São 5.30hs. Eu sei que amanhã vai ser outro dia desses, mas não consigo, não consigo. Me sinto impotente porque sei que isso dificilmente vai mudar. Espero que tu me entenda um dia.

Desculpa se a mãe arranjou uma porra de trabalho que ela ama e perde preciosos fins de semana contigo. Veja, isso sim é temporário. Daqui uns 10 anos, quando você começar a ir pra noite, eu vou estar sentada numa poltrona lendo Finnegan´s Wake*.

Desculpa se eu não consigo cuidar de você, da casa e da minha vida ao mesmo tempo (como a minha mãe fazia, apesar dela ter aberto mão da vida um pouquinho).

Desculpa por botar pessoas na tua vida, que você vai se apegar e, de repente, do nada, nunca mais ver.

Não. Não peço desculpas por isso. Você tem que se acostumar com a impermanência do mundo e das pessoas.

Desculpa pelo cigarro.

Desculpa por te poupar da violência na TV.

Desculpa por não te dar uma família perfeitinha, se eu fizesse isso, seria hipócrita. Mas como a Lilo diz: “é capenga, mas é boa”.

Tudo isso é só pra dizer desculpa pela minha eventual ausência. Eu tento consertar cada tópico desse no dia a dia. Imagine que vários não estão aí porque eu já superei, ou até mesmo nem me dei conta dos próximos.

Desta que nutre o único amor em que acredita.

Mom.
*eu tenho uma lista de livros que só vou ler depois de velha. esse é um deles.

3 comentários:

Comentarista Abalizado disse...

Bons filhos sempre desculpam...
Eu sou o completo exemplo de um filho que ficava finais de semana sem a mãe, uma mãe que tbm trabalha nas noites, eu vivia batendo minha boca e ralando joelhos, detestava dormir sozinho, nem cheguei a usar meu berço, praticamente nem tive família e fui apresentado a pessoas que não permaneceram... Ora, o que se há de fazer?
Desde sempre soube que esta era a melhor mãe que ela podia ser... E hoje trato de ser o melhor filho dentro de minhas possibilidades...
Não, bons filhos não desculpam, eles nem percebem culpas para poder desculpar. Apenas interagem com boas mães. E vc parece ser uma!

Dani Hyde disse...

devia ter te convocado pra comentarista daqui antes.

muito obrigado, mesmo.

Anônimo disse...

quer ser minha mãe 2?