sábado, junho 30

Deixa eu contar uma história sobre teatro... - Parte II

- Só tem um problema.
- Qual problema, Jeff?
- Os personagens, quase todos são homens.

Como eu já disse, éramos umas 20 mulheres, e 2 homens. Um deles era um padre que me visitava na cadeia. Meu melhor amigo fazia o padre, era uma cena de chorar, a gente sempre ria, porque ele colocava uma bata, e dividia o cabelo no meio. Vicente. O Vicente estava para mim assim como o Ramiro hoje, o menino doce e inteligentíssimo ao meu lado. Eu me lembro dele recitando trechos de poesias, de romances, e lendo as redações mega elogiadas. Me lembro do seu caminhar, ele tinha um jeito de caminhar jogando a cabeça de um lado pro outro, sempre, sempre sorrindo, e uma gargalhada maravilhosa. Queria ter uma caixinha pra guardar todas as risadas maravilhosas que já ouvi. Então, esse era o Vicente, motivo de brigas alexandrinas entre eu e meu namorado. Depois falo mais disso.

Eu era o Pedro Bala, organizava todo o bando de meninos de rua, e ainda tirava uma de filósofo de favela. A gente forçava o sotaque, “tava na Bahia, no Beaubourg, no Bronx, no Brás e eu e eu e eu e eu a me perguntar: eu sou neguinha?”. Lembro uma vez que uma turma de supletivo de uma escola estadual foi nos assistir, e um grupo de mulheres que eram nordestinas vieram perguntar se a gente tinha feito laboratório para o sotaque. Um exagero, obviamente.

O cenário era uma atração à parte. Era um quebra cabeças de caixas de feira. As caixas de madeira iam se assentando de forma diferente a cada cena, ora uma barricada do Porto da Barra, ora mesinhas de boteco, ora prisão, ora terreiro...e tinham os jogos de luzes também. Pensando agora, era lindo. Por que não existia câmera digital, hein?

Eu providenciava os cigarros, porque já fumava (que merda), comprava Derby, o mais barato, nós precisávamos de bitucas, usamos as mesmas durante várias apresentações, o cheiro já fazia parte da cena. Tinha ainda umas capoeiras, umas lutas, a menina por quem todos se apaixonavam, praticamente um Peter Pan com a realidade baiana de fundo (hmmm, nunca tinha pensado nisso).

A gente era true, usava uns bonés pra esconder o cabelo, eu tinha uma touquinha do Jimmy Cliff (aquele regueiro que canta “I can see clearly” em cima da montanha), não se depilava...Foi quase um semestre!!!

Tinha uma menina que usava a camiseta do Bahia, de quando meu irmão era bem pirralho. O Daniel fazia um dos guris. Ele era muito bom, tomara que tenha continuado. Tinha a música da Dora: “Dora, rainha do frevo, e do maracatuuuuuu...”, e começava com Berimbau, de Vinícius. Acho.

Chegou o festival, eram mais de 20 colégios que participavam, incluindo aquelas peças onde as pessoas são árvores e flores. Sinceramente, tava fácil pra nós, o futuro Gestus Hibris, e o Catarse. A gente fez uma apresentação ótima, sem erros e muito drama. O final que foi massa, as mulheres tiraram seus chapéus sincronicamente, propaganda de Elsève, e a platéia levantou e começou a gritar. Ou eles eram muito imbecis, ou realmente não se ligaram que era um monte de menina no palco.

Haveriam alguns grupos antes da votação, o namorado fazia cara de cú, fui embora com ele. A briga em casa foi absurda. “O teatro ou eu!”, disse o meu Dom Pedro. Eu tava quase respondendo, quando o telefone tocou, era o pessoal, me chamando pra comemorar o prêmio de melhor espetáculo para o Catarse. Ignorei o pequeno Imperador e o arrastei para onde o povo estava. Chegando lá:

- Melhor espetáculo???? ZUMBIIIIII !!! – diziam em coro
- Melhor ator??? XXXXXX !!! – (não lembro o nome dele, mas era o protagonista de Zumbi, acho que era Luís, tenho um amigo na faculdade hoje que se parece muito com ele, bochechas rosadas, cabelos longos, loiro..)
- Melhor atriz??? Daniela Ribeiro !!!

Glup. Engole seco. Pensa em tudo que tinha acontecido até ali. Ali debaixo daquele montinho coletivo, onde não se respirava mais. O choro vem, concluo e falo baixinho no ouvido do Nicolau II: “Só mais uma, depois eu paro”.

Agora o parênteses. Eu tinha uns 16 anos quando isso aconteceu, e este era o meu primeiro namorado, uns 3 anos de muito aprendizado, onde o maior deles foi fazer concessões, mas não bastou aprender, eu fui às ruínas pelas concessões (sendo que hoje o meu maior problema está relacionado a isso). Um ciúmes (dele) que exterminou qualquer esperança de futuro (o que é conveniente lembrar agora), e a música ia segurando na muleta. Não, muleta não, não se reduz um incremento de experiência musical desse jeito. Contudo, não me arrependo do que escolhi, e tivemos diversas sessões de “desculpas” depois de marmanjos e detentores da própria vida.

Ok, nem tudo se dissolve. Mas qual seria a graça então?

O fato é que eu realmente fiz só mais uma peça. E “tcharans”, o namorado participou. A última tentativa de mostrar pra ele como aquilo era importante. Eu era uma santa de alguma coisa (mas ah Maria Ward, tu me mata), claro que não rolava roupa de santa então era um vestido de noiva, motivo suficiente pra todas as freiras do colégio me chamarem de “Noivinha” até o dia que eu fui embora de São Paulo. Era um lance no Nordeste, e na real todos os personagens eram atores mambembes, o que fazia a peça percorrer várias partes do colégio até terminar no palco. Imagine mais de 200 pais correndo atrás dos “atores premiados” do Maria Ward. Sim, uma piada. Napoleão? Ele liderava os músicos (mas sério?) e usava um macacão de corpo inteiro todo de lantejoulas azuis. Lindeza.

A gente apresentou a peça umas 3 vezes. E depois dei tchau pro povo. Depois de uns dias, o Jeff me parou pelos corredores, e disse:

- E o Catarse?
- Não dá. Meu pai falou que nós vamos pra Porto Alegre.


No próximo capítulo, os melhores momentos, as piadas cretinas, e a bijoux na privada. (aee novela).

terça-feira, junho 26

Milongueiros

Hoje me sinto meio abichornado
Pastorejando uma inquietude estranha
Meu peito é como um fundo de banhado
No silêncio surdo da campanha
No vento há um cheiro de capim queimado
E na garganta, um amargor de canha...

(Abichornado - Colmar Duarte)

Canção apresentada no I Festival da Canção Popular da Fronteira, e desclassificada porque o compositor começou a chorar e não conseguiu terminá-la.

Acho digno.

O que me leva a pensar numa das definições de “gaúcho”, que Vitor Ramil cita no A Estética do Frio. Ga-ü-che, seria uma expressão indígena que significa “homem que chora cantando”.

É engraçado que a literatura especializada vem dizer que “abichornado” é um termo gaudério, mas eu ouço essa palavra desde a quinta série, com a minha professora de literatura, Mademoiselle Patrícia, muito chique e ilustrada.

Hoje me sinto meio abichornada. Preciso de um show do Vitor urgente, e cantar Sapatos em Copacabana mexendo os ombros. Acho que o que o Vitor sentiu quando escreveu essa música, é o mesmo que sinto aqui em Porto Alegre:

escreverei os meus sapatos na tua idéia
escreverei os meus sapatos na tua postura
escreverei os meus sapatos na tua cara
escreverei os meus sapatos no teu verbo
escreverei os meus sapatos nos teus
Copacabana



ERRATA de china manoteada pelo stress acadêmico: A transcrição da origem indígena de "gaúcho" é "guahú-che" e seu significado "gente que canta triste".

Pela atenção, obrigada, tchê.

segunda-feira, junho 25

This one´s for you, Cool.
Love
D.

And in 1957 everything turned out just fine.

I was going to Paris to meet Bird, and we´re gonna play some themes at the Blue Note. The first night was swell, full of “strides” and freewheelings. And then was this brunette talking softly with this French accent and uh, I got moved.

She told me she wanted to sing, and with no spare, I called her at the stage, and we figured it out. It had to be “Let´s get lost”. I remember to stay awake all night long, without the stuff, you know. She drove me mad and I can tell. Man, I loved her.

So, the nights came flashing like a blaze, she wouldn´t come anymore.

I got back to the States, and that emptiness disturbing even my “tramp”. That emptiness, hollow, shadeless. One night after a gig in the Village, I realize my constant abandon, a constant craving that won´t leave me, even if I had, I don’t know, that chicks whose scarfs kept laying down on Howard Hughes’s couch.

As I walked down the street I could see two fancy men at the Heaven’s parking lot, having some beer and, yeah, handing acoustic guitars. Stoped by, took my trumpet and started to follow them. Senses and synergy. My pals, Mr. Declan and “Killer” were from that rock scene, you know… But we played a great session, a lot of blues and swings.

Man, the night was wild! I finally discovered my partner. I´ll get along with the sound.



quarta-feira, junho 20

Versão 2007, com o casting do HD da lan house. Pra provar que eu não manipulei.

“bote todas as músicas no winamp e meta o shuffle. melhor que a Sorte de Hoje do Orkut”

Aquecimento: Mojo Pin – Jeff Buckley


Story of my life?
Title: Never Let Me Down
Artist: David Bowie
Comment: Can you “balivit”???? Juro que não roubei. É isso aí, ele nunca me deixa cair. O engraçado é que a música que simboliza o que ele fez de pior, e mesmo assim tem uma boa letra.

I'll be strong for all it takes

I'll cover your headtill the bad stuff breaks
I'll dance my little dance till it makes you smile
Shaking like this honey doing that
Never let you down

How is my life going?
Title: Esporrei na manivela
Artist: Raimundos
Comment: não sei o que dizer, mas faz sentido nessas últimas semanas de faculdade.


What's the best thing about me?
Title: Liberdade
Artist: Los Hermanos
Comment: o ano passado foi um Los Hermanos, nessa mesma posição

How can I get ahead in life?
Title: Refém de mim
Artist: Zezé di Camargo e Luciano
Comment: “Não tem jeito, já virou paixão”, eles disseram

What's highschool like?
Title: Cara Estranho
Artist: Los Hermanos
Comment: weird is beautiful

What's in store for this weekend?
Title: Fantasma
Artist: Cachorro Grande
Comment: ahm….

What is my signature dancing song?
Title: Worthless
Artist: Dido
Comment: winamp shuffle tirando onda horrores

What do I think my current theme song is?
Title: Bone to Bone
Artist: Aerosmith
Comment: "sixteen years with his boardwalk queen"

What does everyone else think my current theme song is?
Title: You´re still the one
Artist: Shania Twain
Comment: nah

What is my friend's theme song?
Title: Fingi na hora rir
Artist: Los Hermanos
Comment: “pois eeeeeeeeeeeeu, eu só penso em você”

What song will play at my funeral?
Title: Entre agosto e outubro
Artist: Stratopumas
Comment: bah…bah. “Agradeço aos que oferecem as mãos”

What type of men/women do you like?
Title: Last Goodbye
Artist: Jeff Buckley
Comment: o tipo de pessoa que eu gosto. Jeff Buckley. Fazem 10 anos que ele foi embora, semana passada eu estava assistindo o show de Chicago e pensando exatamente sobre isso, sobre como ele personificava um ideal. Mas está morto, o coitado, como diria Gabriel.

What is your day going to be like?
Title: Everything
Artist: Limp Bizkit
Comment: o que esperar de uma música de 16 minutos do Limp Bizkit? Um péssimo dia, de fato.

What song describes my parents?
Title: Tom & Jerry
Artist: Replicantes
Comment: huahauhauhauahuahauhauhaua

What song describes my grandparents?
Title: Have you ever seen the rain
Artist: Emerson Nogueira
Comments: Emerson Nogueira, entende?

Will I die happy?
Title: Vida de Cowboy
Artist: Tião Carreiro e Pardinho
Comments: Versão nacional de Cowgirl in the sand

How does the world see me?
Song: In the summertime
Artist: Totally n.1 hits of the 70s
Comments: do do do doo doo, da de da da da……..

Will I have a happy life?
Song: Blackout
Artist: Phoebe Buffay
Comments: “New York City has no power / And the milk is getting sour / But to me that is not scary / Cause I stay away from dairy / La-la-la-la-la-la...”

What do my friends really think of me?
Song: Livin´on the edge
Artist: Aerosmith
Comment: *chora*

Do people secretly lust after me?
Song: Champagne Supernova
Artist: Oasis
Comments: Se gostar de Oasis já nem adianta.

How can I make myself happy?
Song: Seven Years in Tibet
Artist: David Bowie
Comments: está nos planos. “I praise to you, nothing ever goes away”

What should I do with my life?
Song: Tea for one
Artist: Led Zeppelin
Comments: "Oh baby this one's for we too"

Why should life be full of so much pain?
Song: Televisão
Artist: Titãs
Comments: procede total

How can I maximize my pleasure during sex?
Song: Kiss
Artist: Danni Carlos
Comments: arrasa Danni Carlos

Will I ever have children?
Song: Assim caminha a humanidade
Artist: Lulu Santos
Comments: respondido

Will I die happy?
Song: Adeus Paulistinha
Artist: Tonico e Tinoco
Comments: que honra!

What is some good advice for me?
Song: Given to fly
Artist: Pearl Jam
Comments: “And he still gives his love, he just gives it away
The love he receives is the love that is saved
And sometimes is seen a strange spot in the sky
A human being that was given to fly”

What is happiness?
Song: So Easy
Artist: Marjorie Estiano
Comments: é. é fácil.

What is my favorite fetish?
Song: Alright
Artist: Jamiroquai
Comments: “we´ll spend the night together”

How will I be remembered?
Song: No place to hide
Artist: Korn
Comments: I have no.


Que hd péssima.

segunda-feira, junho 18

Deixa eu contar uma história sobre teatro... - Parte I

Uns 13 anos, acabo de chegar da minha estadia de 1 ano em Salvador. Toda tropicalista e fresquinha, apesar de manter os cabelos vermelhos, tingidos de papel crepom. Volto pro Maria Ward, a melhor escola que eu já estudei, com os melhores amigos que eu já tive e os professores que formaram meu caráter.

Se você é uma pessoa que acha que estudar é um saco, pode parar de ler por aqui. Os dias mais divertidos da minha infância e adolescência foram embalados pela rotina escolar, meu universo original, senão até hoje. O professor César, História; culpado pela minha escolha profissional, me dizia que ser lixeiro era mais negócio. Ele falava New Deal e BIRD de um jeito muito engraçado. Eu não lembro direito o que é New Deal, coisa lá da América.

Teve uma gincana que cada professor liderava uma turma e criava uma apresentação com determinada música, a coordenadora da minha sala (oitava série) escolheu País Tropical, do Jorge Ben, fui meio contrariada, ok. O César entra com os pequenos da quinta série, todos vestidos de branco, segurando rosas vermelhas, ao som de Sociedade Alternativa. Poucas vezes eu fiquei tão orgulhosa.

Oitava série. Marcos, de Literatura. Entra com um rádio na sala, ia ser aula do modernismo, acho. Liga o rádio, Outras Palavras, do Caetano. Marcos começa a desconstruir aquela música palavra por palavra, e explica todas as nuances e sentido real das “outras palavras”. Eu nunca mais ouviria Caetano da mesma forma. Mas odeio poesia concreta.

O professor de inglês, que eu não lembro o nome. As aulas de inglês no colégio eram mera formalidade, eu tirava 10 em todas as provas. O inglês no colégio é muito atrasado, eles deveriam incluir Beatles no currículo. O professor. Ele só falava em inglês, a aula era na sexta e ele já entrava gritando “Thanx God, It´s Friday!!”, quase um personagem da ACME, ele fazia muitas caretas. O mais legal era pedir pra ele falar o inglês britânico, ele passava por mim e largava um par de frases no meu ouvido. Eu sorria. Não, ele era feio, não pensa besteira.

O René, de Biologia, passava a manhã toda com o mesmo cigarro. Ele acendia no trajeto entre uma sala e outra, apagava na ponta do pé, e guardava no bolso, até o próximo intervalo. Eu lembro dele TODOS os dias, quando vou ao banheiro. Ele dizia que “é ridículo as pessoas lavarem as mãos depois de usar o toalete, porque nunca lavam antes, e primeiramente, deveriam se preocupar com sua própria saúde”. Eu continuo não lavando antes, e às vezes lavo depois.

Teve um dia que o Jeferson, aquele estranhão que dava Educação Artística pros pequenos, passou nas salas convidando os alunos para uma oficina de teatro. Disse “pra quem for, que usasse uma roupa confortável”. Mais nada. Eu achei bem massa. Fui.

Era uma miríade de alunos, da quinta à oitava série. Eu como representante dos veteranos, achei um inferno. Era no salão da escola, que tinha um palco massa, e era enorme. O Jéferson botou uma música dessas de barulho de mato e passarinhos e mandou a galera rastejar pelo chão, como, duh, animais rastejantes.

- Puta que pariu! – eu pensei. Mas fui. Assim como eu, várias pessoas até falaram alto o “puta que pariu”, e começaram a ir embora. Eu comecei a gostar. Assim que sobraram umas 30 pessoas na sala, o Jeferson mandou o povo parar com aquela besteira, e começamos a conversar.

Tinha horários rígidos, a montagem de uma peça pra participar de um festival em 3 meses, sessões de “tortura” com os mais tímidos, cobrança de verdade, algo que não acontecia na minha vida, além do autoritarismo da minha mãe. Ok, eu sou sonhadora, crio zilhões de filmes diários na minha cabeça, vai ser divertido.

Segunda aula, descobrir o potencial de voz dos remanescentes, agora uns 25. O Jéferson pega uma bíblia e manda abrir no Gênese. As pessoas lêem quase chorando, chega a minha vez, é a minha voz de transexual ecoando no salão, falando sobre as maravilhas que deus criou, horrível, mas era a mais alta. Ganhei o papel principal.

Agora deixa eu explicar, o Maria Ward é um colégio de freiras, havia uma espécie de ditadura, entende. 80% das nossas apresentações tinham algo religioso no meio, mas eu não me importava, contanto que tivesse música e as minhas amigas Dafne e Renata soltando pelo menos uma gargalhada de pomba gira por ensaio. Eu tenho obsessão por pessoas que conseguem provocar um riso que não existe, acho dificílimo, e às vezes até o meu riso normal parece o do Mutley, enfim, continuemos.

Lemos o Gênese. A peça era sobre a criação do mundo. Eu era um tipo de deus-narrador, algo que colaborou bastante pra minha megalomania. Tenho vagas lembranças dessa peça, lembro que amava a música da criação do homem, e ainda hoje quando converso com a Renata (de cem em cem anos), falamos sobre ela e choramos. Era algo assim:

“O quanto tiveres que andar
Quanto caminhar
Para perceber
Que na mesma direção
A mesma voz
Nós fez irmãos....”

Tinha também uma cena em que a gente reproduzia a Pietá de Michelangelo, eu a Nossa Senhora, e uma outra colega, Jesus Cristo. Ela era negra. Eu achava realmente contestador ter uma negra como Jesus Cristo no meu colo. Era uma cena bonita.

Todos, sem exceção, odiavam a cena final. Íamos todos para o palco e ficávamos repetindo Louvado seja meu senhor umas 150 vezes, em acordes diferentes e batendo palminhas. Que ódio dessa cena. As irmãs (freiras) aplaudiram em todas apresentações.

Participamos do primeiro festival, tinha até camarim, a gente se acostumou rápido com essa coisa de se vestir um na frente do outro. Em 22 pessoas, só tinham 2 homens, e 1 deles mais tarde se descobriu gay. Depois eu falo mais dele.

Então teve aquela menininha que entrou no grupo, eu não me lembro o nome, era uma moreninha, havaiana, da quinta série. Ela era muito tímida, então o Jeferson pediu. A “tortura” consistia na imobilização de uma pessoa, não no sentido de amarrar, mas no sentido que ela deveria ficar parada em pé, de olhos abertos e sem se mexer, enquanto todos os outros a tocassem, a encarassem, e fizesse tudo o que estivesse a mão pra transtornar a “vítima”. Acho que todo mundo passou por isso, mas a moreninha, chorava desesperada, até sair correndo do salão. Na aula seguinte, ela voltou, e foi recebida com salva de palmas.

Porra! Que gente escrota que nós éramos! Espero que isso não aconteça mais em aulas de teatro.
A minha memória começa a falhar, tem um elo perdido aqui.

Fazemos as esquetes de protesto pela América Latina. Não lembro se tinha nome, eram cenas desconexas, que davam estatísticas de pobreza e misturava umas poesias, mas o mais importante eram as músicas, e a plástica da cena. Começava com uma Promessas de Sol* desesperada, todos nós dentro de uma “caixa” encapada com jornal ou papéis diversos, e conforme a música evoluía ia saindo um braço, uma perna, uma cabeça sofredora, era bem divertido ficar ali embaixo esperando a sua vez. Então começava El Condor Pasa, versão de Violeta Parra, se não me engano, as pessoas que já saíram todas da caixa andam pelo palco, eu acho que tinha umas máscaras, aquelas venezianas, com narizões..eu não lembro o que acontecia nessa hora. Depois toca uma peça barroca, e eu faço um personagem saído diretamente da novela “Que Rei Sou Eu?” , dando um texto sobre Brasil como se falasse sobre uma corte. E no final rolava Guantamera, e todo mundo cantava chorando (putz, a gente chorava pra tudo...) e tinha mais algo que me escapa. Perceba que eu só me lembro das músicas no fim das contas.

Fazemos outras esquetes de personagens-limite, uma é empregada miserável, outra é negra vítima de preconceito, tinha mais uns dois, eu era uma aidética terminal. Usava uma camisola muito linda da minha mãe, que eu enchi de esmalte vermelho e fodi pra sempre, e umas faixas pelo corpo, com umas feridas pintadas. EEEWW! Não sei uma linha do texto, aliás, sim, tinha uma hora que eu saía da casinha e ficava balbuciando “vida”, por algum motivo. Eu lembro que geral aplaudia muito e ficava emocionado, devia ser bom. Ah, lembrei! A entrada no palco dessa personagem era a “Metade” do Oswaldo Montenegro, facinho morrer depois disso. Fora que os meus professores são da escola que “não há teatro brasileiro sem Oswaldo” ou ainda “não há música no teatro brasileiro sem Oswaldo”. Acho que eu também seria dessa escola até hoje, se continuasse.

Como assim “meus”, se só falei do Jeff? Bem, tinha a Cidinha também, que era nossa tocadora de violão oficial, e ajudava nas trilhas. Fazia parte dos projetos artísticos da escola também. E o Marcos, aquele de literatura, nos dava aulas teóricas de história do teatro. Era bom, mas devido a desconstração dessas aulas, eu só tenho 2 parágrafos anotados, em meses.

Dá mais um fast foward aí, e vamos pra superprodução. A esta altura a gente já conhecia o Catarse, o grupo profissional do Jeff, e assistíamos às montagens deles nos sentindo um lixo, óbvio. Tinha a peça sobre o Golpe Militar, que era absolutamente foda e começava com Ponta de Areia, não me lembro o nome, será que era 1964 mesmo? Enfim, e tinha a ZUMBI, que era sobre, ahn, o Zumbi dos Palmares. Eu passava mal com eles, acho que a maioria dali deve ser ator até hoje, eles eram bons demais, e tinham 18, 19 anos.

Então, depois dos dois grupos se tornarem uma espécie de família, decidimos fazer uma peça mais complexa. O Jeff chegou com Capitães de Areia, foi unanimidade nacional. Eu sou muito baiana, benzadeus.

Continua...

sábado, junho 9

Tava lendo na comunidade do orkut do Los Hermanos as considerações sobre os últimos shows (dias 7 e 8). Vi um trecho dO Vencedor noYou Tube também.

Tipo, escorreu uma lágrima e ficou doendinho aqui no peito.

Às vezes a verdadeira pessoa em mim emerge.

Vou ligar pra minha mãe, tchau.