domingo, maio 23

dinâmica do trabalho


Minha gerente me mandou fazer isso e não quis aceitar porque eu não tinha passado pro computador ainda. Como eu prometi a ela, estou publicando no blog:


-Momentos Marcantes e o que eu mais gosto de fazer

Acredito que não dê pra enumerar todos os momentos marcantes da minha vida, portanto resolvi pincelar os acontecimentos que foram essenciais pra formação da minha maturidade.

TEATRO – Fiz 3 anos de teatro amador, o que me ajudou a entender um pouco mais as pessoas e respeitá-las na diversidade. Aprendi a ser um pouco menos comedida nas minhas reações e expressar meus pensamentos e idéias nas horas que achar necessário. Abandonei o teatro pouco antes de me mudar pra Porto alegre e pouco depois de ganhar um prêmio de melhor atriz, tinha um namorado ciumento, e gostava dele, às vezes a gente faz concessões das quais se arrepende, mas me ensinou a ser mais cuidadosa com concessões também.

MUDANÇA PRA PORTO ALEGRE - Tomei uma decisão muito importante nessa época, “sempre mudar”, inovar, variar e nunca deixar nada virar algo tedioso. A estagnação é o pior defeito do ser humano.

SEPARAÇÃO DOS MEUS PAIS – Surpresa, o único casal do mundo que funcionava de verdade na minha mente. Perdi um pouco o rumo e o interesse pelas coisas. Me formei com dificuldade no colégio. Não passei na UFRGS. Fui trabalhar.

PRIMEIRO TRABALHO – Flytech. A informática maldita que permeia minha vida. E eu queria distância dos postos que não fossem de usuário. Um pouco mais de um ano de “meu dinheiro” , se eu tivesse que passar pelo mesmo de novo, economizaria um pouco mais. Saí pra fazer o que eu gosto: estudar (com o “apoio” e o aval do meu pai).

FACULDADE – Talvez o mais importante, talvez o personagem principal da minha utopia: “passar o resto da vida estudando”. Eu escolhi a História com 13 anos e a Arqueologia com 11, e isso não mudou. Foi onde eu pude ser eu mesma, escrever tudo o que quero e falar de tudo que penso e fazer por merecer. É o lugar onde a gente descobre que não existe unidade, mas abusamos da mesma pra legitimar nossos atos.

GRAVIDEZ – Pausa no mundo. Pausa nos estudos, no trabalho (não muito agradável nesse momento), nas festas. “Eu vou ser mãe e tenho que aprender mais sobre isso antes que esse feijãozinho cresça e saia correndo daqui de dentro”. Bem, ele saiu, o Vincenzo, e não há nada igual, e é a única magia de verdade no mundo, e busque um dicionário de “Clichês que as mães insistem em eternizar”, porque procede completamente. Fiquei quase 2 anos com ele em casa, amamentei até 1 ano e 3 meses, porque ele quis tomar leite no copo. Mas eu precisava continuar minha jornada, porque ser mãe é tudo, mas não basta.

TRABALHO – Digi Brasil. Recomeço do meu pai depois de muitas dificuldades financeiras. Recomeço pra mim, coloquei a Terra pra girar novamente e saí correndo atrás do que se faz necessário.

MINHA SEPARAÇÃO – Dois super-amigos que viraram namorados, depois casal, depois pai e mãe, depois velhos rabugentos, sem estrutura nenhuma pra consolar. Resolvemos rejuvenescer enquanto é tempo e buscar a estabilidade que a maioria dos jovens de meio século não consegue alcançar nesse século.

VOLTA AO NÚCLEO FAMILIAR: Papai voltou com mamãe, e moramos todos juntos, com meu irmão e meu filho. Eu amo isso, não pela dependência nem pelo comodismo (apesar disso existir), mas o principal é que a minha família tem um convívio maravilhoso, uma harmonia que eu aprendi a reconhecer e respeito mútuo. E na minha opinião, tendo isso em casa, a vida fica mais fácil lá fora.

MUDANDO DE NOVO – Família é ótimo, trabalhar com ela é mais difícil. No meu caso, o problema foi me dar conta que precisava fazer algo sem a ajuda deles. Saí da empresa, fiquei 4 meses em casa, pensando em editar um livro, gravar um disco e montar um estúdio de gravação, sem dinheiro, óbvio. Acabou que eu só lavei, cozinhei, cuidei da cria e comecei a mandar currículos de novo. Infelizmente, vivo num mundo que consome e é consumido pelo dinheiro, resolvi mergulhar nele de cabeça, ou de barriga, ainda não sei.

O que eu quero hoje é dinheiro, pra cuidar do meu filho, terminar minha faculdade, ter a minha casa, essas coisas de pessoas normais, fiquei mais imediatista com o passar do tempo, “pero sin perder la ternura, jamás”.


O QUE EU MAIS GOSTO DE FAZER

Escrever, escrever, escrever, ser mãe todos os dias e regar tudo isso com muita música. Quase não falo dela porque ela está subliminar. É a música que me move, que me faz feliz e triste, que me diz o que eu preciso e não preciso ouvir, que me conforta e me agita. Enfim, posso estar sendo visionário, mas sem trilha sonora, nós não teríamos nem oxigênio. Os animais nascem fazendo barulho, e é assim que deve ser pelo resto de suas vidas. Muito barulho pra todos.

terça-feira, maio 18

ressucitando...


seguinte, como a página da frangote morreu, venho trazer novamente a vocês a trilogia róque grande do sul que eu escrevi há alguns milênios atrás, mas vale a pena:

MPG - Parte I - Trilogias são muito legais

Punhetinha de Verão

"bom bom bom faz aquela nêga do outro lado daquela rua...."

E foi assim que os Cascaveletes ficaram conhecidos no resto do País, na trilha sonora de uma novela global (Top Model), e assim ficaram esquecidos no inconsciente coletivo nacional, mas não aqui, nos pampas as coisas são diferentes, principalmente quando se trata de música, principalmente quando se trata de rock and roll..

A história dos "3 ou 4 acordes tocados com vontade" (como diria um amigo meu) no Sul começa há muito tempo atrás, e eu teria que tirar minha carteirinha de bairrista se começasse a discorrer sobre o assunto, como não quero defender, nem ostentar uma região mais do que outra, resolvi falar de algumas bandas importantes para a formação do caráter da MPG (música popular gaúcha ou gaudéria), apelido carinhoso que os músicos daqui deram a esse som característico que muitos ainda tentam levar para o centro do país em vão.

Os Cascaveletes surgiram em 87, a primeira contradição sulista, enquanto o resto do Brasil estava esnobando com letras politizadas cantadas por filhos de diplomatas de um lado, e gritando H. C. do outro, aqui embaixo 4 rapazes levantaram seus topetes e formaram "a maior banda de rock and roll do mundo" , definição do próprio Flavio Basso (a.k.a. Jupiter Maçã, Júpiter Apple, etc...), que acompanhado de figuras como Nei Van Sória, Alexandre Barea e o grande mestre Frank Jorge configurou o que foi uma das maiores bandas de rock do país. Rock and roll RAÍZ, fiel aos anos 50 e 60, e com atitude exclusiva, eles faziam "PORN' A BILLY" !!! Letras engraçadinhas, felizes e explicitamente pornográficas, certamente esse foi o motivo mor da dissolução do TNT (que vai figurar a parte II da trilogia) , Flavio e Nei já no embalo desse som e Charles Master discordando de tudo, mas essa é outra história...

Alguns dirão: tá, e isso leva o ser humano aonde??? Eu digo: a diversão. Por isso que aqueles seres iluminados do passado começaram a distorcer suas guitarras elétricas, pra divertir, simplesmente. O Rock pode ter zilhões de vertentes, e mesmo que seja contra a minha vontade, ele diverte, alucina e faz as pessoas mais felizes. As letras são minimalistas??? Você, leitor, já traduziu alguma vez as coisas que ouve??? Então comece a fazer isso já. Boa lição essa...

2ª lição de Miss Hyde = TRADUZA TUDO O QUE VOCÊ OUVE, ALÉM DE APRENDER INGLÊS; É, AQUELE QUE VOCÊ IGNOROU NA ESCOLA; VOCÊ VAI PODER REALMENTE CRITICAR, GOSTAR OU NÃO DE UMA BANDA.

Cronologia Cascaveletiana:

1987 - Lançamento da demo com 15 MÚSICAS, isso mesmo! Aqui se "lança" demos e se coloca qtas músicas quiser nela. Febre total, Cascaveletes está para o Rio Grande do Sul assim como Beatles está para o mundo !

1988 - Lançamento do album, em vinil, a pedido dos fãs, esgota em semanas. Nas rádios, o album rola na íntegra o tempo todo, tradição que , graças ao bom Deus Bagual, continua até hoje, a coisa mais comum do mundo é ligar uma rádio porto alegrense e ouvir um disco todo, delírios...

1989 - Frank Jorge dá bye bye baby e vai reger sua Graforréia Xilarmônica (última e sensacional parte da trilogia, aguardem). Os Cascaveletes lançam Rock'a'ula, album mais glam rock da América "Latrina" , daonde saiu a Nega Bom Bom lá de cima, e a única música realmente séria (na minha opinião) da banda , Lobo da Estepe.

1991 - novos carinhas velhos entram pra trupe, Bluesman nos teclados e Luciano Albo no baixo (que fique registrado que eu tive o privilégio de passar uma noite lá pelos idos de 1998, tocando muito róque e muito David Bowie com o Luciano, num boteco, lá na Oswaldo, claro). Já nos últimos suspiros, mas ainda com tempo de deixar ao mundo o Classicus Maximus "Sob um céu de Blues", nas festas tipicamente gaúchas e roqueiras, pedem pra tocar essa ao invés de Raul (com algumas reclamações, sempre tem os bebuns, não adianta). Enfim, o Nei acaba com tudo.

Pra não perder o costume, aqui vai meu Top 5, incrementado, com alguns trechos, cifrados, óbvio, a maioria aqui nessa porcaria é músico não é???

1. Moto (totalmente, a número um, sempre)

A E D C#m
Deixa eu andar na tua moto
F#m B7 E (riff-intro)
Mas quem vai na frente é você ( eu sento na carona!)


2. Lobo da Estepe

(C Am G F7+/C Am)
Tua casa incendiaram
Tua esposa amaram
Este azar sobre você
Como uma nuvem que não chove


3. Menstruada

C C/B Am
Ela disse hoje não, meu tesão
C C/B Am
Mas eu disse hoje sim, porque não
F G C C/B Am
Além disso eu passei toda tarde estudando pro vestibular
F Fm C (Am G)
E esta noite eu dediquei a te agarrar



4. Sob um Céu de Blues

G C G C Em
Bom dia sol nascente, eu vim prá contar minha triste história
Bm MIm SIm DO Am
Minha garota me abandonou numa estação de trem
G C
Sob um céu de blues
G C
Sob um céu de blues


5. Morte por tesão

(Em Am F(Dm7) Em)
Eu queria ser um vampiro, pra chupar o sangue da gata
eu queria fazer vodu, pra conquistaaar.... tu
Am Em
eu queria ser um demônio e te derreter no meu inferno
D#m Dm Em
eu queria que ela morresse de tanta satisfação
D#m Dm C B
eu queria que ela morresse, morte por tesão


Os Cascaveletes deixaram saudades, deixaram sim, mas nem tanto, sabe por quê? Porque a maioria desses figuraças persistiram, perseveraram e nós somos abençoados por seus novos projetos e trabalhos de tempos em tempos, nós.....aqui no Sul, vocês que se virem, mas corram atrás, porque segundo Bruno Cavalcanti, "os que não conhecem, só saem perdendo por não saberem sobre a banda mais enérgica e empolgada que já subiu num palco desse país".


MPG - Parte II - A missão de superar o "Cascava"

"Entra nessa, e dance o rock´n roll..."


Voltamos um pouco no tempo pra falar de TNT, que foi o berço de alguns seres espe(a)ciais da MPG, e que realmente começou essa onda de "roquezinho descompromissado". Era 1984 quando esses moleques, é moleques mesmo, entre 16 e 18 anos, menores que vocês seus barbados, e fizeram todo aquele rebuliço, mexam-se! Então, no ínicio da década de 80, Flávio Basso (sempre ele, qualquer hora eu falo só dele), Charles Master, Nei Van Sória e Felipe Jotz começaram a compor o que seria o primeiro álbum da banda, letrinhas tranquilas, falando basicamente de mulheres e desilusões amorosas. Mais uma vez eu digo, é bom pensar na situação do país que vivemos, mas quem não gosta de músicas "fáceis de ouvir"?? Quem não gosta de ouvir coisas como:

"Ela fala inglês, eu só falo português
Sei que tem a ver, mas não posso compreender
Encontrei a paz, pode crer que pode ser..."

Os anos que se seguiram foram configurando o que seria o "boom" do Rock Grande do Sul, esse é o nome de uma coletânea que saiu em 86, aonde o TNT se encontrava ao lado de Replicantes, De Falla e Engenheiros do Hawaii, e é um nome bom para definir como o rock é tratado por aqui. Grandes momentos para a cena gaúcha, muitos shows, festas, bebedeiras, ou seja, clichezão sexo, drogas e rock'n roll, muito RÓQUE!

Mas a banda se dissolveu antes do primeiro álbum ser lançado, como já sabemos, Flávio e Nei foram brincar no Cascaveletes, "trocar a terra prometida pelo prazer de caminhar no deserto", segundo o próprio Nei, sacou?? Lobo da Estepe??? yadda yadda yadda... E o dito saiu em 87, ainda com composições da formação original, e diga-se de passagem, o melhor da carreira dessa banda, pérolas definitivas como "Oh!Deby" , "Cachorro Louco" e "Entra Nessa" se encontram no primeiro trabalho.

Depois veio o segundo, em 88, com Luís Henrique "Tchê" Gomes e Márcio Petracco nas substituições, e a questão vem à mente? Será que eles conseguiram sem o cabeção do Flávio Basso?? Sim, conseguiram, não tinha mais o mesmo feeling, havia uma certa sofisticação tanto nas letras como nas linhas melódicas, afinal, os garotos estavam crescendo e de alguma forma a música estava mais madura, na medida do possível dentro da temática utilizada, alguns hits eternos estão aqui também, como "A irmã do Dr. Robert", "Gata Maluca" e "Não Sei", essa última pra mim é um caso a parte, vejo-a de uma forma carinhosamente chupada de Sweet Jane (Velvet Underground), não há como resistir a um medley vocal enquanto alguém toca essa música, pegue a cifrazinha dela lá em algum site e faça o teste!

O meu gosto pessoal prefere o TNT - DOIS, mas o feeling sempre vai estar lá no início, como é comum na história da música. Vale lembrar que nessa altura do campeonato os caras tocaram "A irmã do Dr. Robert" no finado Globo de Ouro, da rede "plim plim", isso é engraçado porque muitos aí não vão saber do que estou falando, mas esse programa era uma piada, bons tempos de jabá...

O único lapso do Nº 2 é que aqui existe uma música intitulada Charles Master, tipo, quem é o canalha do artista que escreve uma música com o seu nome???? Ainda mais estando em um grupo ??? Tsc, tsc Sr. Charles, que coisa mais feia....por isso que os gênios te deixaram de lado, assim como qualquer pessoa que entenda um pouco de música faria. Isso é um aviso para todos:

3ª lição de Miss Hyde: CARA! SE VOCÊ FIZER UMA MÚSICA SOBRE VOCÊ E SUA VIDA, TUDO BEM, MAS NÃO OUSE BOTAR TEU NOME NO TÍTULO NEM NO REFRÃO, POR FAVOR!!! DECADÊNCIA TOTAL !!! L-O-S-E-R !!!!! SE A MADONNA E O MICHAEL JACKSON NÃO FIZERAM ISSO, É PORQUE É MAIS DO QUE RIDÍCULO (me lembrei do Prince, bom, não precisamos nem discutir o assunto, apesar de eu gostar de algumas coisas dele). E SE MESMO ASSIM VOCÊ DESAFIAR ESSA PREMISSA, EU ORGANIZO UMA EQUIPE DE LINCHAMENTO. Parafraseando Cascaveletes: "O dotadão deve morrer" ( se bobear o Flávio escreveu isso para o Charles )

Na moral quem está realmente criando essa rixa entre eles sou eu, os caras até conversam, por favor não levem para o lado pessoal, é só a minha visão sobre as bandas...

Daí tem o terceiro álbum, o Noite Vem Noite Vai, de 90. Vou ser sincera, ouvi pouquíssimas músicas desse "úrtimo" , mas soa como uma banda cover de Barão Vermelho (c/ o Cazuza claro). Tem a participação do Lulu Santos numa faixa e não preciso dizer mais nada, aqui o som foi descaracterizado totalmente. Então o TNT se perdeu na história....Tem a desculpa de que os caras cresceram e não conseguiam mais fazer aquele som "inocente", mas eu não acredito nisso.

Em 1992, Flávio Basso ainda tentou dar uma ajudinha pra ver se a banda ressucitava, mas não funcionou, só deixou uns legados como "Insano" e "Você me Deixa" (que eu desconfio ser uma música só, mas minhas fontes estão díspares), procurem na coletânea As 15 Mais da rádio gaúcha Ipanema, a rádio dos loucos, ipanêmicos, etc e tal. Acabei de ler em outro lugar "Isso me deixa insano", vai entender... se alguém conhece essa música por favor me esclareça!

Hoje em dia Charles Master continua tentando em vão emplacar sua carreira com um set list puramente TNTeísta (L-O-S-E-R), Flávio continua pelo espaço, Nei grava uns álbuns de vez em quando, mas tem seu sustento com a loja de instrumentos mais massa da cidade (Good Music - aliás, vários músicos fodões da cidade já trabalharam lá), Márcio Petracco está nos Cowboys Espirituais com o Frank e Julio Reny (será que isso ainda existe?), Luís Henrique gravou com o blues group Pura Sangre e eu não sei por onde anda.

E essa é mais uma lembrança boa de Porto dos Casais, e referência total pra bandas presentes e futuras, prova de que anos 80 só foi uma época obscura pra quem não curte música e só lembra de calças semi baggy, blazers com ombreira, roupas fosforecentes e listradas e cabelões pigmaleão.....até do hard rock se aproveita alguma coisa.

Pra finalizar, o Top 5:

1. Oh! Deby
2. Baby, vou morar n'outro planeta
3. Ela me deu o bolo
4. Gata Maluca
5. Entra Nessa

Te controla garoto, meu problema é mental, meu sangue é muito quente e eu tô muito mal, se tu pula fora agora, vai perder a terceira e última parte da trilogia!



MPG - Parte III - Finalíssimo, pero no mucho

"Eu, queria tanto encontrar, uma pessoa como eu, a quem eu possa confessar, alguma coisa sobre mim..."

Eu sei, eu sei que os esquisitozóides pop do Pato Fú usaram isso, e foram muito bem sucedidos (veja bem, chegamos num ponto delicado das crônicas gauchescas de Dani Hyde, pois se eu quiser conservar minha posição de escritora aqui, não posso falar mal do Pato Fú.....que coisa). Mas com todas as controvérsias, eu realmente admito que a versão mineira da música é o máximo, que ALGO que é aquele teremim huh! Já não digo o mesmo de "Nunca Diga”, mas algumas coisas têm que ser omitidas para que eu conserve uma relação amigável e de parceria com meu primo Boris the Billy Magrão Guevara.

A história começa mais ou menos assim, era uma vez, cinco rapazes que viviam em Liverpool...ops...não é isso...um dançarino tosco lá de Memphis...hummm...também não...uns brazucas metidos a roqueiros num país em plena ditadura...nem pensar...

O Ano é 1987, tinham esses caras de uma banda estranha chamada Prisão de Ventre, que acabou em função da entrada do guri Frank Jorge nos Cascavelletes, mas devido à camaradagem e a grande empatia que existe entre os músicos sulistas, eles não agüentaram de saudades e o pessoal do Prisão (Frank, Marcelo Birck e Alexandre Ograndi) se juntou ao "sem noção" Carlo Pianta ( De Falla, Colarinhos Caóticos) e resolveram formar uma banda nova; na verdade os registros nos remetem mais aquém e os criadores originais do esquema foram o Alexandre, o Marcelo e o Zé Natálio (ele mesmo, baixista do Papas da Língua, o mundo dá voltas), esse foi o trio que surgiu com o nome da banda, retirado de uma pesquisa em dicionários bem aleatória, tipo mamãe mandou:

Graforréia: doença mental que faz com que o indíviduo tenha compulsão por escrever, o tempo todo, a todo o momento, qualquer coisa. (óbvio que eu não fui pesquisar isso, mas achei tão legal que nem vou procurar saber se é verdade, porque eu entendo as pessoas que possuem esse distúrbio)

Xilarmônica: instrumento musical, tipo xilofone.

O som é complexo, contraditório, eles estavam cansados de um roquezinho fácil e clichê, há a necessidade de se aventurar por melodias dodecafônicas, politonais, atonais e muitos ruídos sem sentido. Todos que tentam definir a Graforréia morrem na praia. Algumas sugestões: "Rock com Jovem Guarda, breguices, nonsense, psicodelia" ou segundo o próprio Birck: "Jovem Guarda fora de controle", eu opto pela segunda. Porém vale lembrar que a maior característica dessa banda é o improviso, alguns acham que a genialidade dos solos fala por si mesma, mas aqui eu desmistifico essa questão, Carlo Pianta era um cara que não ia aos ensaios (sempre tem uns), o que justifica sua performance ser totalmente fora de tempo, tom, espaço, métrica, ritmo e afinação em todas as canções, e como ninguém ousou fazer isso antes, é muito hype, super inovador e já está imortalizado. Palmas pra guitarras desafinadas, mas dentro de um contexto.


Em 88 é lançada a demo tape “Com Amor, Muito Carinho”, gravada no extinto estúdio–produtora-e-tudo-mais-de-bom Vórtex, em Porto Alegre, grande “palco” da história do rock gaúcho. No mesmo ano Birck larga fora para montar a Aristóteles de Ananias Jr., porém o rapaz foi peça essencial nas composições do primeiro álbum, como vocês podem perceber, aqui no sul há uma necessidade muito grande de formar bandas, não importa quantas você já seja integrante, nem a qualidade delas, quanto mais bandas melhor, é um fenômeno inexplicável, que continua se propagando.

Voltando à fitinha, aqui nós temos 25 músicas que são a base dos sucessos dos dois álbuns da banda, a maravilhosa “Eu”, que Frank sonhou que iria tocar em trilhas de novelas , “Amigo Punk”, que sem dúvida é o hino maior do Rock Grande, Frank e Birck conseguiram reunir numa única canção o regionalismo, os petardos do rock gaúcho e uma melodia perfeita, e tudo isso foi feito brincando, o Pianta relata na completíssima bíblia Gauleses Irredutíveis (espécie de Mate-me Por Favor sulista) como os caras gargalhavam escrevendo Amigo Punk “se cagando de rir e fazendo a música, rindo de sair lágrimas”, é o que eu digo, as maiores pérolas surgem do descompromisso, outros sucessos posteriores da fita também seriam “Empregada”, “Grito de Tarzan”, “Pate”, “Hare”, “Baby”, “Eu gostaria de matar os dois” e “Fúlvio Sillas”.

4ª lição de Miss Hyde: Simplesmente não tem lição, simplesmente faça, seja espontâneo, e tudo vai dar certo. Mesmo que o reconhecimento só venha depois da morte. Mesmo assim vale a pena.

Seguiram-se momentos sublimes de rock and roll, agora apresentado numa roupagem diferente, intrigante. Só pra lembrar do meu protegido, a Graforréia começou a fazer shows quando o Frank ainda estava no Cascava, o Flávio (Basso) se emputeceu porque ele tinha aquela coisa de “homem de uma banda só”, e resolveu sabotar um show do Graforréia, lá foi ele com o Alexandre Barea pro show da G.X. detonar com tudo, mas eles se encachaçaram tanto que mal conseguiram derrubar uns pedestais e dar uns berros desconexos, como dizem esses bahianos de vanguarda, pense num vexame total, conclusão, foram arrastados pra fora do recinto por suas respectivas namoradas.

Situação seguinte, anos 90, a banda termina pela primeira vez, “fome, seca, geada, frio, sombras, escuridão, trevas, morte, Engenheiros do Hawaii”...verdadeiro mal do século para o país todo, menos mal que nesta época nós tínhamos o nosso insight de alienação total com o movimento grunge.

Em 92 a Graforréia retorna às atividades e em 94 assina com a Banguela Records o lançamento do álbum “Coisa de Louco II”, por que 2??? Sei lá, não interessa, mas é meio óbvio. Temos aqui regravações de músicas da demo, e “Você Foi Embora”, e “Minha Picardia”, entre outras escolhidas de um repertório de dezenas de canções, não preciso dizer muito, é só conferir, material de primeira. Então a coisa estoura, muitos festivais, shows nas grandes capitais e esses luxos todos. O fenômeno é reconhecido como “a melhor banda brasileira do mundo” por uns e outros, missão cumprida. Infelizmente o Coisa.. pagou o preço da má distribuição e não fez tanto sucesso como alguns esperavam, mas para delírio do povo cult, a Graforréia se firmou nos nossos corações.


E então vieram as Chapinhas de Ouro em 1998, quarteto de novo, com a entrada de Eduardo Christ nas guitas, mais algumas regravações das antigas e outras totalmente novas, tipo Beethoven, o dilema de um cão quase humano ou um humano quase cão, e temos também o advento da Benga Music no seu auge, não sabe o que é “benga”??? Também não sou eu que vou dizer, corram atrás. O repeteco de “Baby”, tem uma das frases mais rock da banda: “baby eu vou jogar confete no ventilador” e um lickzinho grudento do caramba. Pra finalizar ( o parágrafo, pq é a segunda faixa do álbum ) “Meus Dois Amigos”, adivinha quem é o estopim da trama dessa canção?? Ele mesmo, Sr. Flávio “Júpiter Maçã/Apple” Basso, Frank discorre sobre o “churras” que furou devido a uma ébria noite ao lado do amigo, outro clássico que o turista que estiver passeando pela Oswaldo Aranha vai escutar na boca de algum astronauta de lá, certamente.

O álbum gerou a mini-turnê Vamos Atacar C’os Ovo, um blast de Porto Alegre, porque ao final dela, novamente a Graforréia anuncia sua despedida. Artistas tão brilhantes não conseguem se limitar a um único projeto, então cada um foi trabalhar em cima de suas carreiras-solo , o que nos dá outros panos pra manga, e outras histórias maravilhosas.

A nossa “sinfônica do Bonfim”, como diria o nosso outro amigo Wander Wildner, deixou muitas marcas, cicatrizes, tatuagens e musicalidade por todos os poros, ainda é possível encontrar músicas dispersas em várias coletâneas, um exemplo é “Sei que cê tá loca (pra chupar o meu caralho)” que figura nas 15 + da Ipanema e outras viagens como Chapolin, Gislaine (uma das inspirações para Ana Júlia), Centenas de Gorilas, Sapato Alto, Não Sou Rabugento e muito mais, é só vasculhar que a gente acha alguma piração da G.X. em algum lugar do planeta.

Top 5

1. Grito de Tarzan
2. EU
3. Baby
4. Você foi embora
5. Amigo Punk

Saudades meus amigos, muitas saudades de quando eu cheguei aqui em Porto Alegre e descobri todo esse mundo novo, e que sentido que a minha vida fez! Deixei de ser uma singela rocker wannabe pra então acreditar que também posso deixar minha marquinha na história da música, e isso eu devo tudo a essa gauchada! Seu bando de putos! Amo vocês!


Daniela HYDE *

*mod, rocker, glitter, mãe, empresária de TI e cronista musical nas horas vagas.