quarta-feira, janeiro 10


Sobre Baleias e Tubarões

É oficial, estamos de férias. Você não sente as férias quando vai viajar. Em viagem nós sempre temos ocupações e, até me arrisco a dizer que canso mais em algumas viagens do que no ritmo normal.

O “estamos” engloba: eu, o Vince, e o meu irmão, que agora é um espírito errante na terra. Qualquer dia eu dou mais detalhes sobre ele.

O Vince está de férias, pois pela primeira vez eu não estou dentro de um escritório no verão, e não sei qual será o destino dele. Essa reviravolta de leis sobre ensino me deixou extremamente confusa. Meio confusa. Já decidi que é um estupro botar uma criança de 6 anos na primeira série. Pois agora resta encontrar uma pré-escola que alfabetize. Embora as pedagogas dos grandes colégios espirrem com o sorriso engessado que uma criança não precisa estar lendo quando ingressa na primeira série, eu acho que tem que ler sim. E como ele está se encaminhando pra isso, não vou deixá-lo numa creche meia boca onde a cozinheira faz as vezes de professora. Eu lia com 6 anos, apresentei a formatura e bla bla bla, mas isso envolve o meu instinto de superação que conheci muito cedo. Também é o maior vilão da minha vida, mas essa também é outra história.

O que acontece é que vamos passar janeiro inteiro, os dois, dentro de casa, sem empregada. A segunda feira já mostrou que vai ser o inferno, então fomos pro shopping. Nada de parques e pracinhas pra mim, sorry, tenho pavor da interação que acontece nesses lugares.

Fizemos o roteiro básico Mc Donalds – piscina de bolinhas, com direito a adquirir mais alguns bonecos da promoção. E agora temos o Mac E o Blu. A satisfação é imensa. Eles são os correspondentes contemporâneos ao Calvin e Haroldo, uma das minhas grandes obsessões. Er...os brinquedos são dele, sim.

Então fomos comprar materiais escolares pros dois, cadernos e outras coisas, tudo do Homem Aranha. Afinal, o terceiro está quase aí. O Vince está muito empolgado que vai ter o Venom (nada como pais que ensinam a doutrina Marvel), já eu aguardo ansiosamente por Harry Osbourne, a.k.a. James Franco, meu Jeff Buckley do cinema.

E daí, o nosso templo, Livraria Cultura, parada obrigatória sempre. Eu não sei se existe algum tempo regulamentar pra ficar ali sentado lendo no Dragão, mas certamente se existir nós devemos ser visados. O Vico achou uma enciclopédia de Dinossauros maravilhosa, que trata desde o início das espécies, o CALDO PRIMORDIAL, as amebas, etc...Ele não entendeu muito bem como tudo isso se transformou em animais de 20 metros, mas pelo menos já teve a introdução. Pra falar a verdade, nem os cientistas sabem ao certo como se deu isso.

Enquanto ele escolhia um livro pra ele (uma vez que não dá pra sair de lá de mãos vazias), dei uma olhada na sessão dos clássicos estrangeiros, a intenção era só olhar, e olhei mesmo, várias tentações caríssimas, até encontrar uma edição da Dover do Old Curiosity Shop, de Charles Dickens. Well, viva o VISA e os créditos de cliente preferencial.

Dickens fez parte fundamental no semestre passado, quando fazia um trabalho sobre literatura vitoriana. Não vou mentir, ele pode ser meio chato, meio Machado de Assis. Mas assim como este outro, é uma leitura necessária. Todo mundo aí já deve ter assistido o Grandes Esperanças, certo? Pelo menos aquele com o Ethan Hawke e a Gwineth Paltrow. Então, é dele. Assista a primeira adaptação, é tãããão mais glamour.

A propósito. Eu nunca li um Machado. E não quero ler até que me obriguem. Dane-se a Capitu.

Vincenzo optou por uma história em quadrinhos do Menino Maluquinho (não achou graça dos clássicos), e esse contém animais, verdadeiro potencializador de escolhas na cabeça do pequeno ativista do Greenpeace. Dei graças por ele deixar o Bob Esponja na prateleira.

Mas foi na sessão de quadrinhos que eu passei vergonha. Eu, o Vico e mais uns 8 garotos de uns 15 anos nos apertávamos numa única estante (por sinal, vamos aumentar isso aí, certo?). Calvin, Garfield, Snoopy, DC, Sandman, Crepax, Manara, Crumb (ops, esses aí ficam no alto), todas edições importadas e longe dos nossos bolsos. Tinha um espaço só do Tintin, e como o Vince não sabia de quem se tratava eu comecei a explicar. Até que ele pegou esse livro e falou:

- Mãe, olha, um tubarão! – ele adora tubarões.
- Hmm, mas isso não é uma baleia?
- Tsc, mãe...Tu não sabe diferenciar? – todos me olhavam.
- Hmm, como se faz isso?
- Mãe, as baleias tem o rabo assiiiiiiiiim – gesticulando na direção horizontal – e os tubarões, assiiiiiiiim!!! – dessa vez, na vertical.

Eu, não convencida, continuei:

- Mas será que não é só um erro do desenho? - Um erro do Hergé! Deus, bate nessa mulher.
- MÃE!!! – todos olharam com muita atenção – Olha isso aqui! Isso são BRÂNQUIAS!!!
- E baleias não têm brânquias?
- Claro que não! Elas não são peixes!
- Mas elas não são peixes por outras razões... – já assinando o atestado de perdedora.
- Não mãe, elas respiram por aquele buraco na cabeça!
- Hmm, é? – assume – Então tá, depois tu me explica em casa...

Paguei os livros que escolhemos, ainda passamos no supermercado pra comprar uns 5 tipos de chocolate e viemos pra casa. O assunto morreu.

Hoje, enquanto lavava louça, Vincenzo chega pra mim, com expressão de vitória:

- Mãe, o nome do buraco na cabeça da baleia é ESPIRÁCULO.

UPDATE:

Mostrando o post pro Vince:

- Olha só, eu achei o desenho da capa daquele livro, agora eu entendi porque não é uma baleia.
- Você achou que era uma baleia só porque era preto e branco?
- Aham – cabisbaixa, a perdedora.
- Tsc – me olhando com uma expressão de “ah, coitadinha” – isso acontece às vezes...

4 comentários:

Bruno Pommer disse...

tubarões têm o focinho mais pontudo. esse desenho engana mesmo, até que se vejam as brânquias e o rabo.
mas, enfim, o que esperar de alguém que não leu machado?
=P

Comentarista Abalizado disse...

Perceba o prestígio que vc tem comigo, eu li este scrap, por maior que ele possa parecer... Logo eu poderei contar para todo mundo que estou lendo livros, afinal, se consegui ler todos estes parágrafos, o que me custa umas páginas a mais.

Mas, sim, o tubarão precisa de um olhar bastante atento para não ser confundido com uma baleia. Na verdade, é um tubarão meio gorduchinho, né?

Tenho um amigo que trabalho com ilustrações, vive recebendo reclamações por conta destes pequenos detalhes que podem confundir quem vê... Acho que o ilustrador deste tubarão teve vida mais fácil e ninguém prestou lá muita atenção...

Eu tbm não li nenhum Machado de Assis, aliás, é o surpreendente não é eu não ter lido, o que surpreende é eu já ter lido partes...

Mas fácil do que eu ler um livro do Machado de Assis seria eu ler uma biografia do jogador Assis...

Boris disse...

meu garoto...

Anônimo disse...

tubarão gordo é mais amigável, assim como as baleias...

achei legal que a gente logo vê a fofisse amigável do barão e enxerga uma baleia enquanto o teu filho viu logo os detalhes e nem deu bola pros quilos a mais do bixo...

espero que eles não cresçam nunca ou estaremos todos obsoletos e inúteis

sou fã do vico