terça-feira, setembro 25
domingo, setembro 23
sexta-feira, setembro 21
Você veio me falar ao ouvido sem nem mesmo saber os efeitos da tua voz. Eu, de bruços, apertei os olhos, inspirei fundo, retesei o tórax, movimento de um suspiro. A euforia e o bem estar presentes ainda após boa dose de relaxante muscular e codeína. Sua voz ficou mais suave e suas mãos reverenciavam o toque como rito. Na vitrola, o poeta diz da dificuldade que é confiar no outro, mas principalmente da avareza pessoal. “I´m not someone on whom to rely”. Eu disse (pensei) que não podia, você nem ligou. Foi bom. Você, imerso no meu colo, sua mão na minha boca, esconde o sorriso infantil de quem consegue um brinquedo. “The effort to be free seems pointless from above”. Não lembro de mais nada. Dos teus olhos, dos teus dentes, quando você sorri ou fala sobre algo que lhe agrada... Fica essa sensação Ginzburguiana de lutar com a memória pra extrair tudo de bonito que resultou de uma única vez. Meu sonho não podia continuar. O corpo fraco, a mente entregue pro surrealismo, e a falta do sujeito na predicância. “Pra mim, tudo que você nunca disse, tudo e de qualquer jeito”. E ele não pára de falar antes que eu pense... Vou correndo agora. Vou voando. Correndo e voando buscar um sujeito pra mim. Que na fatalidade dos fins seja eu. E na brutalidade dos meios pode ser você. Mais que tudo, que seja sereno, um solo limpo, um delay invertido. Bem franco. Grave, com Lá-Menores e Ré-Maiores. E um sorriso das ruas que eu seguro. Apesar de não ser a tradução correta. Mas qual vai ser?
(Comecei escrevendo no intuito de criar um conto pra MOJO, com algum álbum do Frusciante. Mas foi impossível pensar num só. Outra hora eu tento.)
sexta-feira, setembro 14
Pra não me estender muito, eu era (sou) do movimento obscuro, com muito orgulho. E Bauhaus é algo como os 12 apóstolos em 4. Isso quer dizer que amanhã eu vou conhecer 3 deles.
A primeira vez que ouvi Spirit, eu imaginei como seria o vídeo. Eu não tenho como favorita nem Bela Lugosi, nem Flat Fields, nem Telegram Sam, mas Spirit, uma música que fica lá no fim dos cd’s. Spirit é a perfeição transfigurada em sons. O fato é que quando eu vi o vídeo, fiquei atônita. Sim, era exatamente o que eu pensava. O teatro vazio. Spirits on tonight. We Love our audience.
Can’t stop the spirits when they need you!
sábado, setembro 8
Este tu Hermano
Te está quebrando
Tu cantarillo;
Es esta la causa
Que hay truenos e raios,
Y que estos caem.
Viertes tus aguas
Sobre La tierra
Em forma de lluvia,
Tambiém a veces
Como granizo
O como nieve.
EL hacedor del mundo,
El dios que anima,
El gran Viracocha
Te há escogido
Para este oficio
Y te Dio tu alma.
*
Da série "Contos da cadernetinha mágica"
Um soldado pós-moderno em Sacsayhuamán
Monte o cenário: 1397, o Império em paz, ou o mais próximo do que a palavra pode significar, alguns reparos nas fortalezas, e eis que o conselheiro resolve empreitar uma nova decoração. Convocou todos os artesãos, de Tiahuanaco a Pisac, para que trouxessem um exemplo do que poderiam realizar nas novas muralhas.
Manco era um guerreiro porque seu pai também o foi, e assim o restante de sua árvore genealógica, mas ele não agüentava mais, ele queria poder trabalhar com o barro e os pigmentos, andar com outros artesãos, e inclusive flertar com eles.
É, os artesãos entendiam tudo.
Então resolveu preparar alguma coisa e levar na audição do conselheiro, que cairia justamente no dia de seu descanso. A idéia era simples, transformar o mito de Apocatequil em uma obra palpável, e diferente daqueles desenhos toscos cheios de deuses com pernas curtas e peixes com dentes.
Além de tudo, expressaria através de uma metáfora sua angústia de um sentimento e jeito de viver que não lhe eram possíveis, pois como Cautaguan, a mãe de Apocatequil, era enclausurado no seu próprio mundo, não podia ver nada com os seus olhos.
A audição se convertia no estupro da Cataguan. De um ato de violência nasceria os seus frutos. Manco iria parir esses ovos dos quais um viria a ser o deus mais temido e honrado de todo Império, adorado e reverenciado, de Quito até Cuzco.
Apocatequil se tornaria tradução da mais pura arte. Cataguan, a menina enclausurada, morreria no parto, pra ressucitar como Mamacatequil, a que liberta o mundo e dá a vida.
No dia da audição, Manco apareceu no prédio central de Sacsayhuamán com um embrulho e um sorriso no rosto. Os artesãos chegavam com lhamas enfeitadas, blocos de pedra cheios de bichos estranhos e bonecos desproporcionais, mantos cravejados de turmalina e ouro (como eles pensavam em botar algo assim numa muralha que serviria de barreira para delinqüentes não pagadores de impostos?).
Enfim, se encontrava frente a frente com Corìacan, o conselheiro da jurisdição. Colocou seu embrulho em uma mesa na frente do púlpito do velho sábio, retirou o linho branco que envolvia o objeto, e deu um passo para trás.
- Mas isso é um ovo! – disse Corìacan.
- Sim – consentiu Manco, firme do seu propósito – é um ovo que representa o nascimento de Apocatequil, do novo tempo, da libertação natural entre os filhos do Sol, da...
- Mas, me diga, filho, como usaremos isso? – interrompe o conselheiro, consternado.
- Ele pode ficar na torre central, e vai deixar nossos inimigos tão intrigados que irão recuar.
Corìacan, místico que era, pensou ser aquele um bom sinal, e aceitou a obra de Manco.
De fato, Sacsayhuamán viveu (mas já não vivia?) tempos de paz. Por longos anos, antes da chegada dos deuses brancos e suas naves. O Ovo da Primeira Torre ficou tão famoso, que vinham gentes de toda parte pra fazer reverência ao deus de todos os males.
Manco se tornou o artesão oficial da corte de Corìacan, e começou a encontrar-se com o guardião do templo constantemente (descobriu que os artesãos são caretas demais).
Seiscentos anos depois, descendentes de Manco tentam processar Salvador Dalí por plágio. Mas não vencem as despesas de honorários jurídicos. As lhamas comem muito.
terça-feira, setembro 4
Fugir de um teste de audiometria é uma das grandes missões da existência, como aqueles velhos que fogem do exame de próstata. Nesse caso, audiometria e exame de próstata são a mesma coisa, você sabe que pode encontrar alguma coisa lá, mas é melhor não mexer com isso até foder de vez.
Eu tô aqui ouvindo essas entrevistas do Frusciante no Youtube (porque basicamente não existe mais nada na internet pra saber dele, e o próximo passo é conseguir uma passagem pra Los Angeles), e achando que o áudio do meu micro tá com problema, porque o volume das caixas está por volta de 75%, e quero continuar achando que o problema é com o micro.
Talvez o meu novo brinquedo experimental, esteja contribuindo bastante para a total desintegração do meu tímpano, talvez seja só uma má fase. Mas vou deixar minha declaração aqui, ele funciona. É possível que seja mais fácil pra quem já é predisposto, não sei. O fato é que é uma boa viagem, em detrimento das limitações. Não dá pra usar o doser e tocar violão e escrever e ouvir uma música ou tomar um vinho, por exemplo. De repente a prática gere resultados mais duradouros.
De qualquer forma os “sons” binaurais não existem só em “doses”, mas em muitas músicas por aí, e acho que o próprio Jimi Hendrix já fazia isso com o panning sem perceber, e provavelmente o Pink Floyd tinha noção com o que estava lidando, e de repente até o marketing da Coca Cola. Vou tentar não falar mais do John, mas por último recomendo que se ouça o Shadows Collide With People com fones de ouvido.
Sábado passado Can´t Stop foi a catarse da pista no Mosh. Eu ia me esconder com medo de represálias, mas acabei quase chorando vendo as pessoas cantando junto. Obrigada, Porto Alegre.
Agora eu vou lá, quinta tem Zefirina Bomba, sexta Róque Town e sábado Pulp Friction. Já existe transplante de ouvido?
*
I take it on the road
Those kilometres and the red lights
I was always looking left and right
Oh, but I'm always crashing in the same car
Jasmine, I saw you peeping
As I pushed my foot down to the floor
I was going round and round the hotel garage
Must have been touching close to 94
Oh, but I'm always crashing
in the same car
domingo, setembro 2
sábado, setembro 1
Es la historia de un tipo fascinado con la música que queda sordo después de años de volumen alto y escaparle a los estudios audiométricos. Entonces, tarda algunos meses en asumir que no va a escuchar más esas canciones y solo se consuela intentando imponer en otros su gusto musical. Ahora que ya no hay música nueva para él, lee las letras de las canciones que escuchó para recordarlas bien y las va silbando o tarareando durante horas por la calle procurando que otros peatones se peguen la canción y así.
(Leopoldo Estol)
*
Se eu fosse da curadoria, não deixaria passar essa.
quarta-feira, agosto 29
terça-feira, agosto 28
Isso aí é uma noite de estudos. Muita gente vai ler isso e gargalhar OUTLOUD, mas eu vou ser mediadora na VI Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Eu já tava de olho, mas quando o curso começou não pude entrar e enfim, mil coisas, agora estou dentro. E sabe, é bacana, e quando não é bacana é antropologicamente divertido.
Acho que fui sortuda e pulei direto pra parte boa, porque o curso teve várias dinâmicas dispensáveis, e agora, com o cais já recheado de obras (mas ainda bem desorganizado, só quero ver isso tudo pronto até segunda), começaram as visitas dos artistas, e eles estão apresentando seus trabalhos para nosotros. A minha primeira impressão é que a história dos processos de produção são muito mais legais do que a obra em si. O que está por trás e na maioria das vezes a gente não vai ter acesso. Mas é isso aí, arte contemporânea, só vamos saber o que presta mesmo daqui a 30 anos. Ou mais. I don’t want to lose Lautrec, já diria o Ronnie.
Eu não vou dar nomes aqui porque acho isso deveras pseudo (nem sei quem é o autor da infame casa rosa da edição passada, a primeira coisa que o Vico lembrou quando eu disse que ia trabalhar lá no cais), mas assim que começarem a pintar os burburinhos em alguma instalação eu falo a respeito.
Entrando no clima eu rabisquei uns pós modernismos na palestra de hoje, graças ao Frusci.
it´s a really
fun thing
to think
that being
is the same
of being
and I am
the same
that I am
in a way
english
becomes so
poor to
my inner
liaisons
with the self
in a way
english is
making a
big deal
of the verbs
and of the subject
which I ain´t
quinta-feira, agosto 23

Eu vivo de obsessões.
A Clarah já falou bem melhor sobre isso do que eu sou capaz, porque ela não tem medo se seus textos vão parecer esnobes, pueris, egomaníacos ou whatever, ela fala. Ou melhor, escreve. Pra entender isso você teria que fazer uma boa viagem no velho, mas sempre legal e talkin’ bout my generation, brazileira!preta. Ela escreveu um texto sobre isso, que se perdeu pela internet, então solicitei o original, e vou fazer uns grifos aqui.
“(...) O que pouca gente enxerga é que a obsessão pode ser algo muito produtivo. Acredito, inclusive, que a arte não sobrevive sem uma obsessão, nem que seja uma obsessãozinha leve (...) O que acontece no mundo moderno, essa porcaria, é que ninguém tem mais dessas obsessões produtivas. As coisas passam batidas, é tudo muito rápido, lê-se um pedaço livrinho aqui, ouve-se um disquinho acolá (ou nem um disco inteiro, uma ou duas musiquetas em mp3) mas nunca além disso, nunca além da superfície. Pouca gente mergulha de verdade em alguma paixão, cria um mundo a partir daquilo tudo. E, o que é pior, todo mundo se acha no direito de opinar, principalmente sobre coisas sobre a qual não sabem porra nenhuma(...)”.
(Saudável Obsessão – C.A. )
O que eu mais gosto na Clarah, é justamente esse lance de mergulhar “até o fim” (invariavelmente ela cita o Bukowiski nessa máxima, o que é lindo, porque hoje tanta gente gosta de Bukowiski, mas poucos conseguem extrair dali a poesia contida no trabalho dele como um todo, eu mesmo não sou uma especialista, li umas 4 publicações, no máximo). Na vida, eu não sou muito dada a ir até o fim, mas ah, com a música é outra história. E até nisso a gente acaba se encontrando, porque gostamos (amamos, idolatramos, morremos) de muitas coisas em comum.
O Frusciante é um bom exemplo. Aliás, a história já começa com o Red Hot Chilli Peppers, nos idos e perfeitos anos 90. Eu sabia todas as letras, eu me movia como o Anthony, às vezes eu queria ser o Anthony, às vezes eu queria ser o Mike Patton (Faith no More), eu dançava com o VHS do Hollywood Rock de 93 (morava em Salvador, não pude ir). Esse VHS está guardado até hoje, quem tiver afim (de assistir aqui, porque ele não sairá daqui) é só avisar. O que eu não entendia era que o John já havia abandonado o barco, e logo os Peppers sairiam do meu campo de visão, pra voltar a aparecer, rá, com o Californication (1999, quando o John voltou), e mesmo assim, eu não dava muita bola, eles haviam me traído, ou era mais um caso desses que eu considerei traição quando a coisa toda se revelou um equívoco.
Bem, isso teve um preço. Eu não fui a nenhum dos shows dessa fase, acho que teve uns dois, um inclusive em Porto Alegre. Não fui. “Tô de mal, eles só vão tocar essas modernices”. Burra. Ouvi todos os relatos que eles tocaram o Blood Sugar quase na íntegra e a “old stuff” com uma bola de pêlo na garganta.
Acho que conheci o trabalho solo do John em 2003 e 2004 (por causa da Clarah, e do João Perassolo, que se tornaria meu parceiro fundamental pra realizar a Róque Town). Eu achava lindo, ouvia o Niandra Lades, o To Record Only Water, e o Shadows Collide, e sempre retomava quando precisava (tem momentos que você simplesmente precisa deles), só que não era só isso, e eu só descobri agora, quando precisei muito. Como eu digo pra uma amiga, as músicas são que nem gatos, elas te escolhem (tipo agora que começou a tocar I´m Always, eu vou explodir o contador do Last FM).
Me sinto imortal com a minha coleção semi-completa (porque não baixei os Ataxia ainda, como é um trabalho que envolve outras pessoas, vou deixar pra segunda fase), pesquisando, pesquisando, dissecando a vida dele, tudo que aconteceu enquanto eu estava fora, e até me sinto culpada por não estar lá quando ele precisava. Eu não concordo com quem separa a vida da obra, eu acho um absurdo separar a vida da obra, não dá pra entender um peido do Frusciante se você não mergulhar até o fim na vida dele. E com a música vai ser sempre assim, foda-se a arte contemporânea que descaracteriza todo mundo e acredita num cocô exposto. Até as próprias obras do Frusci (ele pinta, claro), apesar de BasquiaÍSTICAS, fazem todo o sentido, estando onde estão, no ano que estão, no local e no planeta que estão. Tudo deve ter sentido. Até a “vontade de morrer”.
Ele não se arrepende de nada, ele valoriza todos esses fucking years negros, e credita a esse período a evolução de hoje. Culhões. Culhões de ter coragem de dizer “Hey, eu não fugi de porra nenhuma, eu tava me procurando e achei, e a heroína, foi enfim, minha Heroína”.
Não é como um Anthony, no Scar Tissue (livro sobre a vida de adições e loucuras que ele fez ao longo dos anos, até se limpar), que diz “oh, thanks god, eu me livrei de tudo isso e agora sou feliz e limpinho” quando na verdade sabemos que eles não pararam merda nenhuma. Mas apesar disso, o Scar Tissue é genial. Quem gostar deles, ou tiver curiosidade, leia. Muito revival, coisas engraçadas, coisas boas, com aquela linguagem que parece que o Anthony tá do seu lado, tomando uma cerveja contigo.
Quanto à questão da obsessão produtiva, fazer toda essa viagem dentro de um universo que eu já conhecia uma parte, está sendo a coisa mais deliciosa do momento, desde ouvir os discos mais auto-depreciativos do Frusci (Smile from the streets you hold são mil facadas consecutivas no coração) até ouvir um By the way dos Chilli, completamente despojada de preconceitos, e elevando ele ao segundo lugar no pódio (o primeiro é Blood Sugar, foréva), acompanhando todo o processo de gravação do Stadium Arcadium, um John falando de todos os instrumentos, equipamentos e parafernálias que ele usou no álbum, cheio de referências ao Eletric Ladyland do Hendrix, cheio de coisas modernas ao mesmo tempo... Um universo sônico, futurista. Até isso ele fez comigo, e em 24 músicas eu consigo me deixar levar pelo moderno dentro de uma atmosfera que eu amo, que é o funk rock, o original, o freaky stiley dos meus meninos dos olhos de 15 anos atrás. QUINZE!
Além do fato definitivo, que foi pegar o violão de volta, fazer uma música em 10 minutos, e saber que ainda tenho a capacidade de criar coisas bonitas, mesmo que o mundo real esteja uma merda, difícil de respirar e cheio de dificuldades. É bom saber que tu ainda é capaz.
A música voltou a ser minha prioridade number one, e isso está me trazendo alguns problemas, como uma incrível falta de comprometimento acadêmico, um retorno à ausência maternal, e algumas complicações no convívio familiar. Mas eu preciso disso agora, e espero que um dia eles entendam, não vou abrir mão.
E como disse um amigo ontem: “Não tem heroína no Brasil. Ufa”. Porque cheguei à conclusão que é a única e absoluta droga que eu tomaria. Certamente seria o fim de tudo. Eu não sou o John.
Ainda ontem, a noite foi abençoada com Suck My Kiss num momento catártico e uma constatação de que eu posso tocar Red Hot tranquilamente de novo. E eu fechei o cabaret dançando In Relief com as luzes verdes. Só eu, ele, e as luzes verdes.
Fui dormir over embriagada e feliz ouvindo o The Will to Death.
And the only important moments
(an exercise – j.f.)
Pra encerrar, o último parágrafo do Saudável Obsessão, da minha parceira de obsessões, dona Averbuck:
“Então, amigo leitor, amiga leitora, se a sua vida anda insuportável, meu conselho é: aprofundem-se. Leiam todos os livros de algum autor, comprem todos os discos de alguma banda, leiam biografias, chafurdem no passado, criem mundos a partir disso. Não há nada melhor para fugir do mundo horrível aqui fora do que uma obsessão”.
terça-feira, agosto 21
Depois vocês sabem o que aconteceu com o fenômeno BoB. É sempre amor mesmo que mude.
Fast Foward. 2007. O auge do “beco way of life” fervilhando no mainstream, o electro invadindo nosso espacinho, o mesmo que tocava China Girl do Iggy Pop e todo mundo ficava feliz, mas já não o mesmo que tocou Marquee Moon com 300 pessoas regozijando na pista (e quando 300 pessoas representavam uma festa bombante). Sem falar no público, que vai perdendo o gosto e a sensatez a cada fim de semana. Mas enfim, Róque Town também é resistência, e o que eu falar por aqui é noite de PRT.
Não sei como nem aonde, o Carlos chegou a conhecer a legião dos novos JOVENS ROQUEIROS DA CITY, o fato é que ele começou a aparecer lá no Beco, em igual ou pior estado que os JOVENS ROQUEIROS DA CITY. Festa com eles é sinônimo de dormir tarde, ou quase na hora do almoço, do outro dia, ou nem isso. Logo, eles sempre presenciam as finaleiras, conhecidas como a melhor hora do som, e a pior hora do romance (como diz outro amigo, “a hora da chêpa"); e então teve esse dia que eu tava bem experimental e ouvindo muito BR Nuggets em casa, daí toquei a Renata, do Liverpool, trilha do Marcelo Zona Sul, aquele filme com o Stephan Nercessian (?) e a Françoise Fourton que provavelmente você não assistiu. Tem a história do encontro do Carlinhos com o Stephan, mas isso eu vou deixar pra ele contar um dia, porque é muito emocionante e envolve o pai, e é toda uma coisa bonita estilo Fante.
Me escondi completamente, pra não ver a expressão de desaprovação do Gabriel, nem do Vitor, e de repente o Carlos chega com a mão estendida pra me cumprimentar. Ele é esse cara gigante que eu simplesmente não consigo chamar de Carlinhos, e não to chamando de gordo também. Apesar de que, esses dias ele me contou que viu a mãe dando leite condensado pra Alcione (a cã) e entendeu tudo.
A partir de então ele é uma espécie de sócio honorário da Róque Town, e uma das únicas pessoas que eu faço questão de ficar na pista até o fim do set. Que fique nos registros, ele foi o primeiro a tocar Orgasmo Legal (do cd original) numa festa. E Paralamas do Sucesso numa PRT.
Criou um Império da Lã que abalou Porto Alegre em menos de dois meses, e já decretou o fim da banda. Diz que parou de beber e largou as drogas e agora só vai se dedicar ao shamanismo para finalizar o próximo álbum da BoB, claramente cheio de influências nativo-americanas.
Virou ator. Aguardem OS BÍTOLS!!! O melhor filme já produzido no Brasil (pelo menos pros JOVENS ROQUEIROS DA CITY).
Pior de tudo, virou meu amigo. E me fez isso:
"Quem são seus ídolos do rock no RS?
Pra mim já ta bom, véi. E embora eu não goste muito da expressão, ela dominou a CITY, e o mais apropriado agora é dizer que tu é preza.
p.s. – atentem para o detalhe que eu estou logo após a Suzy Doll, preza de novo.
p.s. 2 – ah sim, quem tiver afim de ler a entrevista toda ali na BIZZ online vai aqui.
p.s. 3 – o modelo da foto ao lado do Carlos é um futuro pediatra da neonatologia.
segunda-feira, agosto 20
É o nome do álbum virtual que eu vou lançar com todas as coisas mais toscas que já gravei, com umas duas músicas novas, e uma do Frusci, claro, acho que vai ser In Relief, é a que eu toco melhor. Ou a I´m Always mesmo, na estileira "estou chapado de heroína, não me venha falar de performance". A capa eu vou desenhar no Paint Brush depois eu posto aqui.
sábado, agosto 18
sexta-feira, agosto 17
I´m Always
Only time can show you Through an invisible door In the bottom of the ocean I threw a bird at the sky, Someone told me that You'd better close your eyes, And I said Don't you wonder sometimes Why I paddle through the clouds In my oversized canoe, But I'm always on your side? Can you feel it? My love flowing out my sides You've been asked to fly I thrust to some lie yeah It's you see my fish needs to thrive As long as I'm alive. Aside from the leaves that fal lYou know it's been justified You gotta take it in your stride Besides the nightmares That lie before you You've always found a reason To stay happy to be alive If you look closely You'll always find signals That make your mind grind But those are just a mind fucker tag line You'll always have control of your life Go with the feeling that's right You know, man, the media may try yeah But my beautiful spirit is glued to my eye. (música do Smile from the streets you hold, disco feito só pra comprar droga)
Desde que vi o Bowie em 1997, e entrei numa maratona de descorar todas as letras e discos e partituras dele até esgotar completamente e virar a maior aluna dele, não tinha mais me obcecado assim por ninguém. Podia gostar, ouvir por dias, mas nunca foi da mesma forma, o mesmo sentimento. Até que comecei a ouvir pela enésima vez o To Record Only Water for Ten Days, sim, o Frusciante de novo.
Ele é aquele sonho que se repete. Dizem que quando um sonho se repete ele está tentando te mostrar algo que tu ainda não viu. Eu tenho vários desses, ou sou lerda, ou tenho sonhos extremamente complexos.
Dessa vez ele me pegou. Um momento difícil, de se reencontrar, reinventar. (You´ll always have control of your life). Me pegou no colo, contou toda sua história, e estamos conectados, de verdade, como é com o Sir David Jones. Existe até uma seita que acha que John é a reencarnação de Jesus (sério), eu prefiro acreditar que é o Espírito Santo (e não discuta que na trindade todos são um, eu não concordo). Ele quebrou toda a hierarquia dos meus ídolos e passou lá pra cima sem pré-requisitos. Cada excerto da vida dele tem relação direta com as coisas que vivi, e o youtube nunca foi tão útil.
Crononologicamente falando:
- Entrevista na época do Blood Sugar, falando sobre suas influências de Jimi Hendrix, com uns 50 vinis do homem na mão, ele escolhe pra tocar justamente o primeiro ensaio de Eletric Ladyland, que é a minha “definitiva” of all times. E ele diz: “that thing is one of the most beautiful things I´ve ever heard”. Primeiro suspiro.
- A queda no Red Hot – apresentação de Under the Bridge no Saturday Night Live, onde John já não aguenta mais o mainstream e “acaba” com a música modificando toda a estrutura e largando uns berros no coro. Impagável a cara de bunda do Anthony.
- Entrevista em 1994, de um John completamente viciado e em outro mundo. Mas fala coisas importantes sobre conservar a sinceridade da música, escrever pelo amor e não pelo mercado, e bla bla..
- STUFF – curta do Johnny Depp, filmado na casa do John, breve participação do Timothy Leary. Dá pra entender o recado.
- Clipe de Life´s a Bath, de 1997, onde aparece um John semi-morto, que nesse mesmo ano seria internado com 12% do sangue que deveria ter no corpo.
- O retorno em 2001.
- Contando os segredos de Under the Bridge. Que tem riffs roubados de Andy Warhol, do Bowie, e da própria Rip Off, do Marc Bolan. E assim eu vou morrendo...nessa sessão tem Modern Love também, outra pérola, veja nos relacionados e tem My Smile is a Rifle....ah, veja todos desse show! Tem pra baixar em torrent também.
- Going Inside, de Vincent Gallo. (eu acho o Brown Bunny uma porcaria, só valendo pelo blowjob da Chloe Sevigny, mas quem quiser conferir, a trilha é do John)
http://www.youtube.com/watch?v=rJYCny95qog
- Carvel, do Shadows Collide (2004), e um momentum absurdo.
http://www.youtube.com/watch?v=M3YgLNNJjMg
- The Past Recedes, do Curtains (2005), e a casa dos meus sonhos (com tudo dentro).
- E pra não dizer que não falei de Red Hot Chilli Peppers, eu fico com esse vídeo de Can’t Stop (live at Slane), que pra mim é como se fosse o final feliz de um filme triste.
Filme de rock, claro.
segunda-feira, agosto 13
domingo, agosto 5
Queria começar uma história com o zunido dos amplificadores. Aquele ruído bom que a gente escuta antes de começar um show. A expectativa. O êxtase antes de qualquer julgamento, só por estar ali e fazer parte daquilo.
Em casa num sábado à noite, pra aproveitar um pouco da ação inquietante do Vince, e ele pede uma música pra dormir. Na verdade acabo impondo isso pra ver se ele se acalma. A primeira que me vem à cabeça é uma que cantavam pra mim quando eu tinha dezesseis anos e minha vida começava a mudar irreversivelmente. Sleep Now, Peter Hammill.
Não sei quantas vezes já falei dele, mas nunca é demais. Espero que um dia mais pessoas reconheçam o que um homem e sua banda e o homem de novo é capaz de fazer pelo mundo. Em 1996 minha vida mudou quando ouvi Tapeworm e Sleep Now, quando Makis era meu amigo grego que me ensinou a entregar a alma a esse demônio fascinante e vicioso que é a música.
A banda de Peter, o Van Der Graaf Generator (já vale alguma coisa só pelo nome), seria mais uma da leva dos progressivos dos anos 70, se não fosse seu front man, capaz de transformar cada letra num filme, cada compasso numa expressão inesquecível. E como toda a galera dos 70, eles ressuscitaram e estão lá pelo velho mundo arrasando nos shows.
É uma indicação inexorável. Procurem, ouçam. E deixa esse velho Hammill curar suas dores. É algo entre Roxy Music e Pink Floyd e Shakespeare e Byron, com tons de David Lynch se não tivesse o Badalamenti como parceiro. Aliás, acho que o “Badá” ajoelharia na frente do VDGG. Em suma, se David Bowie fosse Obi Wan Kenobi, Peter Hammill seria o Darth Vader, o que me parece irresistível. E tem toda essa coisa do oboé e sopros dissonantes que me deixa atormentada, as melhores músicas do mundo tem um oboé ou um teremim, já notou?
Quando ouvi A louse is not a home pela primeira vez, tive vontade de escrever um roteiro. Ainda não sou boa com roteiros, mas vamos ver o que dá pra tirar de alguns parágrafos. Na próxima, porque isso aqui já é longo, vá se inteirando.
Coloquei algumas coisas no 4shared (Incluso o Silent Corner and the Empty Stage na íntegra, o melhor álbum solo dele), e uns links do youtube. Pra tentar criar o clima. E a letra traduzida de A Louse...
É comprida ok? É pro-gres-si-vo.
A louse is not a home (tradução)
Algumas vezes é bem assustador por aqui; algumas vezes é bem triste;
Lille
http://www.youtube.com/watch?v=WDmhP6YiN6s