domingo, agosto 5

He who cracks the mirrors, and moves the walls

Queria começar uma história com o zunido dos amplificadores. Aquele ruído bom que a gente escuta antes de começar um show. A expectativa. O êxtase antes de qualquer julgamento, só por estar ali e fazer parte daquilo.

Em casa num sábado à noite, pra aproveitar um pouco da ação inquietante do Vince, e ele pede uma música pra dormir. Na verdade acabo impondo isso pra ver se ele se acalma. A primeira que me vem à cabeça é uma que cantavam pra mim quando eu tinha dezesseis anos e minha vida começava a mudar irreversivelmente. Sleep Now, Peter Hammill.

Não sei quantas vezes já falei dele, mas nunca é demais. Espero que um dia mais pessoas reconheçam o que um homem e sua banda e o homem de novo é capaz de fazer pelo mundo. Em 1996 minha vida mudou quando ouvi Tapeworm e Sleep Now, quando Makis era meu amigo grego que me ensinou a entregar a alma a esse demônio fascinante e vicioso que é a música.

A banda de Peter, o Van Der Graaf Generator (já vale alguma coisa só pelo nome), seria mais uma da leva dos progressivos dos anos 70, se não fosse seu front man, capaz de transformar cada letra num filme, cada compasso numa expressão inesquecível. E como toda a galera dos 70, eles ressuscitaram e estão lá pelo velho mundo arrasando nos shows.

É uma indicação inexorável. Procurem, ouçam. E deixa esse velho Hammill curar suas dores. É algo entre Roxy Music e Pink Floyd e Shakespeare e Byron, com tons de David Lynch se não tivesse o Badalamenti como parceiro. Aliás, acho que o “Badá” ajoelharia na frente do VDGG. Em suma, se David Bowie fosse Obi Wan Kenobi, Peter Hammill seria o Darth Vader, o que me parece irresistível. E tem toda essa coisa do oboé e sopros dissonantes que me deixa atormentada, as melhores músicas do mundo tem um oboé ou um teremim, já notou?

Quando ouvi A louse is not a home pela primeira vez, tive vontade de escrever um roteiro. Ainda não sou boa com roteiros, mas vamos ver o que dá pra tirar de alguns parágrafos. Na próxima, porque isso aqui já é longo, vá se inteirando.

Coloquei algumas coisas no 4shared (Incluso o Silent Corner and the Empty Stage na íntegra, o melhor álbum solo dele), e uns links do youtube. Pra tentar criar o clima. E a letra traduzida de A Louse...

É comprida ok? É pro-gres-si-vo.

A louse is not a home (tradução)

Algumas vezes é bem assustador por aqui; algumas vezes é bem triste;
Algumas vezes eu tenho a impressão de que irei desaparecer;
há momentos em que acho que eu já...
Há uma linha serpenteando pelo meu espelho:
Um vidro em pedaços distorce o meu rosto,
E mesmo a luz sendo forte e extraordinária
Ela não consegue iluminar a maioria dos cantos desse lugar.
Há um nobre, ímpar, castelo de Lohengrin nas nuvens
Sim, eu escrevo minhas memórias sombrias lá,
Mas uma sorte negra há sete anos circula por aquele canto
E nas sombras esconde-se o espectro do Desespero.
Um espelho quebrado divide ao meio a beleza da paisagem:
Imagem rachada, compreensão dificultada
Eu estou apenas procurando por um lugar para esconder meu lar ...
Eu morei em casas feitas de vidro
Onde todos os movimentos são mostrados,
Mas agora as telas dos monitores estão negras
E eu não saberia dizer se os olhos silenciosos estão presentes.
As minhas palavras são como aranhas sobre uma página,
Rodopiam além da fé, da esperança e da razão
Mas elas são conhecidas e fiéis, ou são apenas poeira
Reunida debaixo da minha cadeira?
Algumas vezes eu tenho a sensação de que há
Mais alguém presente:
O Observador sem rosto me faz ficar apreensivo,
Eu posso senti-Lo através das tábuas do chão,
E a Sua presença é horripilante
Ele me diz que eu deveria ser expulso ....
O que é aquilo simultaneante do lado de dentro e do lado de fora?
Eu desconheço a natureza da porta que eu atravesso,
Eu desconheço a natureza da naturezaDo que eu resido ....
Eu já vivi em casas feitas de tijolo e cimento
Aonde toda emoção é sagrada,
E se você quiser devorar o fruto
Deve primeiro sentir a fragância
E deitar seu corpo diante do santuário
Com poemas e poesias e papéis ----
Ou, se você tiver o estrategema, você terá de escolher
Ficar, um monge, ou partir, um devasso.
O que é esse lugar que você chama de lar?
Isso é um sermão ou uma confissão?
Esse é o cálice que você usa para proteção?
É esse mesmo o lugar onde você pode ficar?
Isso é um manual ou uma ensinamento?
Isso é uma batida nas mãos de seu Protetor?
Terá o ídolo pés de barro?
Lar é o que você constrói, dizem meus amigos,
Mas eu raramente vejo as casas deles nesses dias negros.
Alguns deles são ermitões e carregam as casas
Em suas costas;
Outros vivem em monumentos que, um dia,
Serão destroços
Eu mantenho meu lar no lugar com fita isolante
E pregos,
Mas eu continuo sentindo que há alguma outra Força aqui:
Ele que quebra os espelhos e derruba as paredes
Permanece olhando através dos olhos nos retratos
Em minha sala;
Ele ronda pela minha biblioteca e grampeia o telefone
Eu, na verdade, nunca O vi,
Mas eu sei que Ele está no meu lar
E se Ele se for,
Eu também não poderei ficar aqui.
Eu acredito er eu acho
Bem, eu não sei...
Eu só fico em uma sala por vez,
Mas todas as paredes são ouvidos, e todas as janelas, olhos ;
O resto é estrangeiro,
'Lar' é o meu canto sem palavras :
Mmmmmaah!
Dê uma chance!
Estou cercado de carne e osso,
Eu sou um templo da vida,
Eu sou um eremita, eu sou um zumbido,
E eu estou construindo um lugar para se estar.
Com coroas secretas sobre minha cabeça
O silêncio sobrenatural é quebrado:
A sala está ficando escura, e na luz completa
Eu posso ver o rosto que eu conheço
Poderia esse ser o cara que nunca mostra
Ao espelho quebrado o que ele está sentindo?
Só há oradores murmurando no chão onde
Ele está ajoelhado :
"Lar é lar é lar é lar é lar é lar é lar sou eu!"
Vocês que estão procurando casas;
Não joguem seus pesos em qualquer lugar, vocês podem
Quebrar seus vidros
E se vocês quebrarem, vocês sabem que não poderão ver
E então como é que vocês iram ver o amanhecer
Do dia?
Dia é só uma palavra que eu uso para manter a escuridão
Afastada,
E as pessoas são imaginárias, nada mais existe
Com exceção da sala em que eu estou sentado,
E, claro, da neblina penetrante
Algumas vezes eu me pergunto se até ela é verdadeira
Talvez eu deva apagar da lousa esse lugar;
Talvez eu deva demolir essa lousa;
Talvez eu viva a minha vida com base em incertezas
Nos confins dessa casa silenciosa.
Algumas vezes é bem assustador por aqui; algumas vezes é bem triste;
Algumas vezes eu tenho a impressão de que irei desaparecer;
algumas vezes eu acho...

Bubble

Lille
Lost
Undecover Man
Darkness (11/11)

http://www.youtube.com/watch?v=WDmhP6YiN6s

Um comentário:

Comentarista Abalizado disse...

Visito seu blog em todos os dias... Mas alguns textos me são incomentáveis!
Beijo.