sábado, setembro 8


Hermosa doncella de sangre real,
Este tu Hermano
Te está quebrando
Tu cantarillo;
Es esta la causa
Que hay truenos e raios,
Y que estos caem.
Viertes tus aguas
Sobre La tierra
Em forma de lluvia,
Tambiém a veces
Como granizo
O como nieve.
EL hacedor del mundo,
El dios que anima,
El gran Viracocha
Te há escogido
Para este oficio
Y te Dio tu alma.

*

Da série "Contos da cadernetinha mágica"

Um soldado pós-moderno em Sacsayhuamán

Monte o cenário: 1397, o Império em paz, ou o mais próximo do que a palavra pode significar, alguns reparos nas fortalezas, e eis que o conselheiro resolve empreitar uma nova decoração. Convocou todos os artesãos, de Tiahuanaco a Pisac, para que trouxessem um exemplo do que poderiam realizar nas novas muralhas.

Manco era um guerreiro porque seu pai também o foi, e assim o restante de sua árvore genealógica, mas ele não agüentava mais, ele queria poder trabalhar com o barro e os pigmentos, andar com outros artesãos, e inclusive flertar com eles.

É, os artesãos entendiam tudo.

Então resolveu preparar alguma coisa e levar na audição do conselheiro, que cairia justamente no dia de seu descanso. A idéia era simples, transformar o mito de Apocatequil em uma obra palpável, e diferente daqueles desenhos toscos cheios de deuses com pernas curtas e peixes com dentes.

Além de tudo, expressaria através de uma metáfora sua angústia de um sentimento e jeito de viver que não lhe eram possíveis, pois como Cautaguan, a mãe de Apocatequil, era enclausurado no seu próprio mundo, não podia ver nada com os seus olhos.

A audição se convertia no estupro da Cataguan. De um ato de violência nasceria os seus frutos. Manco iria parir esses ovos dos quais um viria a ser o deus mais temido e honrado de todo Império, adorado e reverenciado, de Quito até Cuzco.

Apocatequil se tornaria tradução da mais pura arte. Cataguan, a menina enclausurada, morreria no parto, pra ressucitar como Mamacatequil, a que liberta o mundo e dá a vida.

No dia da audição, Manco apareceu no prédio central de Sacsayhuamán com um embrulho e um sorriso no rosto. Os artesãos chegavam com lhamas enfeitadas, blocos de pedra cheios de bichos estranhos e bonecos desproporcionais, mantos cravejados de turmalina e ouro (como eles pensavam em botar algo assim numa muralha que serviria de barreira para delinqüentes não pagadores de impostos?).

Enfim, se encontrava frente a frente com Corìacan, o conselheiro da jurisdição. Colocou seu embrulho em uma mesa na frente do púlpito do velho sábio, retirou o linho branco que envolvia o objeto, e deu um passo para trás.

- Mas isso é um ovo! – disse Corìacan.
- Sim – consentiu Manco, firme do seu propósito – é um ovo que representa o nascimento de Apocatequil, do novo tempo, da libertação natural entre os filhos do Sol, da...
- Mas, me diga, filho, como usaremos isso? – interrompe o conselheiro, consternado.
- Ele pode ficar na torre central, e vai deixar nossos inimigos tão intrigados que irão recuar.

Corìacan, místico que era, pensou ser aquele um bom sinal, e aceitou a obra de Manco.

De fato, Sacsayhuamán viveu (mas já não vivia?) tempos de paz. Por longos anos, antes da chegada dos deuses brancos e suas naves. O Ovo da Primeira Torre ficou tão famoso, que vinham gentes de toda parte pra fazer reverência ao deus de todos os males.

Manco se tornou o artesão oficial da corte de Corìacan, e começou a encontrar-se com o guardião do templo constantemente (descobriu que os artesãos são caretas demais).

Seiscentos anos depois, descendentes de Manco tentam processar Salvador Dalí por plágio. Mas não vencem as despesas de honorários jurídicos. As lhamas comem muito.


2 comentários:

m. disse...

"Manco se tornou o artesão oficial da corte de Corìacan, e começou a encontrar-se com o guardião do templo constantemente (descobriu que os artesãos são caretas demais)."

HAUHAUHUAHEUHAEUHAEUHAUHAUHAUHAU


ai, tá demais. morri rindo. escreva mais coisas assim, sério.

Comentarista Abalizado disse...

Talvez as gentes vindas de longe não fossem ver o tal ovo, mas, procurar o pássaro responsável por aquela obra...

Aliás, o Manco deve ter levado um ovo esperando CHOCAR os críticos, hahahahah, nunca resisto a tentação de emitir tais piadinhas.