sexta-feira, setembro 21

Você veio me falar ao ouvido sem nem mesmo saber os efeitos da tua voz. Eu, de bruços, apertei os olhos, inspirei fundo, retesei o tórax, movimento de um suspiro. A euforia e o bem estar presentes ainda após boa dose de relaxante muscular e codeína. Sua voz ficou mais suave e suas mãos reverenciavam o toque como rito. Na vitrola, o poeta diz da dificuldade que é confiar no outro, mas principalmente da avareza pessoal. “I´m not someone on whom to rely”. Eu disse (pensei) que não podia, você nem ligou. Foi bom. Você, imerso no meu colo, sua mão na minha boca, esconde o sorriso infantil de quem consegue um brinquedo. “The effort to be free seems pointless from above”. Não lembro de mais nada. Dos teus olhos, dos teus dentes, quando você sorri ou fala sobre algo que lhe agrada... Fica essa sensação Ginzburguiana de lutar com a memória pra extrair tudo de bonito que resultou de uma única vez. Meu sonho não podia continuar. O corpo fraco, a mente entregue pro surrealismo, e a falta do sujeito na predicância. “Pra mim, tudo que você nunca disse, tudo e de qualquer jeito”. E ele não pára de falar antes que eu pense... Vou correndo agora. Vou voando. Correndo e voando buscar um sujeito pra mim. Que na fatalidade dos fins seja eu. E na brutalidade dos meios pode ser você. Mais que tudo, que seja sereno, um solo limpo, um delay invertido. Bem franco. Grave, com Lá-Menores e Ré-Maiores. E um sorriso das ruas que eu seguro. Apesar de não ser a tradução correta. Mas qual vai ser?



(Comecei escrevendo no intuito de criar um conto pra MOJO, com algum álbum do Frusciante. Mas foi impossível pensar num só. Outra hora eu tento.)

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