terça-feira, fevereiro 20

Gera monstros, monstros, monstros. O adormecer da razão. Não sei o que veio primeiro, o meu terror eterno em dormir à noite, ou a síntese do Goya na minha eternidade. O fato é que é dificílimo deixar a razão à mercê dos meus amiguinhos...

Estávamos nessa casa, que é praticamente a minha casa própria dos sonhos (literalmente, não que, de alguma forma, eu gostaria de ter essa casa, porque espero que ela nem exista). Ela fica num lugar próximo à água, não posso precisar se é doce ou salgada. Não me lembro da entrada dela, mas dos fundos pra dentro. Há um deck espaçoso, em forma de L, onde numa ponta exibe uma piscina média e algumas espreguiçadeiras, a parte central tem uma mureta, que dá visão pra água de fora, que eu não sei o que é, nunca vi a areia, ou ouvi as ondas, e sempre é de noite. Continuando tem uma churrasqueira, dessas meio automáticas que giram espetos com autonomia e etc. No final do L tem um degrau que dá para uma porta de vidro, dessas de correr, pro interior da casa. Entrando por esse espaço tem uma sala de estar, com poltronas confortáveis, almofadas, a iluminação é amarelada, quase que torna tudo sépia ao redor, as pessoas ficam “sépias”, esses ares lúdicos, enfim. No canto esquerdo há uma escada, de uns 10 degraus, que dá para uma varanda sobreposta a uma parte do deck, com um trio de mesinhas, simples, mas com arranjos sobre os centros, de flor branca, acredito ser copo-de-leite. Que tem tudo a ver com sépia. Essa varanda, também com uma porta de correr, mas dá acesso a um aposento, e a parte de dentro é reservada com persianas.

Há escadas por tudo. Passando pela sala de estar do primeiro andar, encontramos um salão, com um bar e uma mesa, o bar maior que a mesa de certo. Que é onde começa a história de hoje.

Eu, Pedro e Vittorio, parados, conversando durante essa festa que acontecia. Sempre acontecem festas na casa. Estávamos precisamente aos pés de uma escadaria interna, que levava ao segundo andar, e se fragmentava em diversos aposentos.

Passa por mim uma pessoa, um homem, com cabelos negros, presos, com uma calça jeans clara e uma camisa azul. Olha pro Pedro e o puxa pela mão. Pedro é homossexual, mas não desprovido de modos e classe (elegância e reserva no porte, diria Lux). Meu amigo repele, o jovem olha por cima do ombro, Pedro com força, repele de novo, numa última tentativa, o desconhecido destila algum outro olhar que faz com que Pedro se retraia até chegar ao chão, agarrado aos joelhos, em prantos.

O rapaz sobe as escadas. Eu subo atrás, cuidadosamente. Ensaia me dar um chute, na altura da face, eu o repreendo e digo pra não fazer. Ele o faz, eu seguro o pé descalço dele, no ar, e minhas mãos atravessam sua carne, como se fosse um monte de massa de modelar. Enquanto destruo o que sobrou das suas pernas, ora arrancando, ora macerando, algo escapa pela sua boca, e some no burburinho.

A festa acaba, todos vão embora, quem não vai se despede de mim e entra em seus respectivos quartos, minha casa é cheia de quartos de hóspedes, e como em qualquer situação como esta, vários hóspedes são vitalícios.

Vou me deitar com meu filho, após me ajeitar, fechar os olhos e dar aquele último suspiro que nos libera pro desfalecimento, algo me envolve o pescoço tentando me sufocar. Não é meu filho, mas sim um pequeno espécime de demônio, com corpo de criança, com rabo e a pele escura, de um cinza chumbo, como se houvesse sofrido queimaduras, escorregadia como a de um réptil. Pego ele pelo corpo e corro pra porta de persianas da varanda, o vento forte faz com que eu me debata por alguns segundos.

“Você não é humano, não é humano, o que é então?”

O demoniozinho dá algumas risadas contidas, se solta de mim, e sai, saltando da varanda para o deck, e do deck para o breu que é lá fora. Só enxergo o brilhante dos olhos se afastando.

Acordo.

O Vince ronca do meu lado com as duas pernas em cima das minhas costas.

Eu levanto e venho escrever. Porque o maior problema de quem possui terror noturno, não é o pesadelo, mas a sensação de horror que fica, por mais que aparentemente já se tenha assimilado o que é ou não real. É preciso voltar completamente pro mundo palpável. Algo que eu não faço por mais de 2 horas diárias.

Um comentário:

Comentarista Abalizado disse...

Eu só fico com medo quando acordo... Prefiro dormir!
Hahahahahah