Fala Fala
"Before you play two notes learn how to play one note - and don't play one note unless you've got a reason to play it." - Mark Hollis (1998)
Às vezes a música parece que forma uma coisa só, uma grande faixa de freqüência, pra onde vão todos os sons. E pra entender isso, nós temos que mergulhar, e quanto mais mergulhamos, mais claro fica o som. Assim, uma grande sinfonia.
Há um tempo atrás eu fazia uma pesquisa sobre álbuns que tratavam ou foram gravados à base de heroína. De preferência os desconhecidos. E me deparei com algumas coisas do Talk Talk. Coloquei pra baixar no torrent e esqueci.
Nesse fim de semana, lotado de preguiça e ócio contra a minha vontade, peguei um zapping rápido da MTV falando a respeito do retorno do No Doubt, e que provavelmente eles já estariam em pré-produção.
No Doubt foi uma banda importante pra mim. Foi o primeiro show que assisti no exato momento em que amava a banda. Gostar de algo contemporâneo e saboreá-lo em todas as suas formas não tem preço.
Mas a viadagem da Gwen Stefani com essa carreira solo passou dos limites. Qualé agora? Tá falindo e quer voltar a trabalhar com músicos de verdade? Penso que isso é palhaçada, que é uma humilhação aos outros integrantes, e que as majors estarão por trás desse novo álbum, cagando em every single compasso.
Esqueçamos disso (por enquanto). O post é pra falar do Talk Talk. Depois de milênios terminou de baixar o Laughing Stock (1991), último disco da banda, e eu me pus a ouvir pra escapar de alguns livros.
Winamp e Google em chamas, me dou conta de que a Talk Talk é a infame progenitora de It´s my life, o último hit-cover do No Doubt. Mas como assim It´s my life e heroína?
É aí que a internet mostra seu serviço. Depois dos três primeiros discos a la New Wave/80s/Duran Duran, o “conjunto comercial” se revoltou, principalmente Mark Hollis (vocalista e band leader), e começaram uma nova era. Imersos no estúdio, experimentalismos, texturas, até os lançamentos de Spirit of Eden (pela Parlophone, que desistiu dos caras rapidinho) e Laughing Stock (Polydor).
As evidências atestam que o usuário de heroína era o irmão de Mark Hollis: Ed Hollis, que produziu The Damned e Stiff Little Fingers. Esta última, queridinha de Bob Forrest e John Frusciante (e assim vamos formando uma grande corrente da “brown sugar” e da música decorrente dela, ou por causa dela).
Apesar de Mark negar o uso de drogas (álcool à vontade) e escrever letras em homenagem ao irmão (que não sobreviveu aos pesados anos 80 – mesmo que fiquem lembrando desta era como se apenas fosse fluorescente e repleta de homens maquiados), a sonoridade dos dois últimos álbuns do Talk Talk é perturbadora. No bom sentido, quero dizer.
Nos anos 80 há coisas boas, verdade, eu juro. Smiths ali, post punk acolá, o combo Joy Division / New Order, alguma coisa mais sincera no hard rock, tem muito mais que não entrarei em detalhes agora, e ali em 88, o Spirit of Eden; estourando a década, vem o Laughing Stock em 91.
Imagino agora se em cada década tem uma banda que vai atingir esse nível, porque o que me vem à cabeça, é que o Talk Talk fez pelos anos 80 e pela pobre New Wave, o que o Television fez pelos 70 e pelo pobre Punk Rock (enquanto música, ambos são pobres; enquanto movimento, ambos transgressores, não venham chorar por causa disso). A fusão de rock e jazz é sempre certeira, e carregada, consequentemente, de melancolia. Mistura-se a isso um bando de jovens que amadureceram e descobriram o prazer de passar horas desafiando até onde a melodia pode chegar.
E provavelmente, muita heroína. Ainda não engoli essa de cara limpa. Lá no início falei que fazia uma pesquisa, certo? O objetivo é descobrir, compreender, constatar, whatever...que existe um som particular que os junkies exploram e é comum a todos. Independente da época, de estar no mainstream ou no submundo. Tem algo ali que se destaca. É como o I-Doser, ele trabalha numa certa freqüência que pressupõe levar ao efeito de tal sensação ou droga. Penso que, sob o efeito da heroína, se atinge uma freqüência cerebral na qual determinadas nuances e harmonias são mais latentes, e agradáveis, e belas.
Por isso é uma pesquisa, porque enquanto não evidenciar nada, é só paranóia minha.
O que importa para todos é o grande achado musical. Um grupo muito bom, subestimado e jogado no limbo. Me atrevo a dizer mais. Um certo Thom Yorke certamente bebeu dessa água, assim como o post rock.
- Pra quem quiser saber mais, tem uma página bem bacana aqui:
http://users.cybercity.dk/~bcc11425/
- Pra quem quiser baixar, procure no isohunt.com. Se encontrar links diretos, me indique.
- Pra quem acredita na NME, um trecho de resenha:
Sobre o Laughing Stock - “The whole thing is unutterably pretentious and looks over its shoulder hoping that someone will remark on its 'moody brilliance' or some such. It's horrible.” David Quantick, NME, September 28, 1991.
- Pra quem quer diversão imediata, temos o You Tube:
I Believe in you, a carro-chefe do Spirit of Eden
"Before you play two notes learn how to play one note - and don't play one note unless you've got a reason to play it." - Mark Hollis (1998)
Às vezes a música parece que forma uma coisa só, uma grande faixa de freqüência, pra onde vão todos os sons. E pra entender isso, nós temos que mergulhar, e quanto mais mergulhamos, mais claro fica o som. Assim, uma grande sinfonia.
Há um tempo atrás eu fazia uma pesquisa sobre álbuns que tratavam ou foram gravados à base de heroína. De preferência os desconhecidos. E me deparei com algumas coisas do Talk Talk. Coloquei pra baixar no torrent e esqueci.
Nesse fim de semana, lotado de preguiça e ócio contra a minha vontade, peguei um zapping rápido da MTV falando a respeito do retorno do No Doubt, e que provavelmente eles já estariam em pré-produção.
No Doubt foi uma banda importante pra mim. Foi o primeiro show que assisti no exato momento em que amava a banda. Gostar de algo contemporâneo e saboreá-lo em todas as suas formas não tem preço.
Mas a viadagem da Gwen Stefani com essa carreira solo passou dos limites. Qualé agora? Tá falindo e quer voltar a trabalhar com músicos de verdade? Penso que isso é palhaçada, que é uma humilhação aos outros integrantes, e que as majors estarão por trás desse novo álbum, cagando em every single compasso.
Esqueçamos disso (por enquanto). O post é pra falar do Talk Talk. Depois de milênios terminou de baixar o Laughing Stock (1991), último disco da banda, e eu me pus a ouvir pra escapar de alguns livros.
Winamp e Google em chamas, me dou conta de que a Talk Talk é a infame progenitora de It´s my life, o último hit-cover do No Doubt. Mas como assim It´s my life e heroína?
É aí que a internet mostra seu serviço. Depois dos três primeiros discos a la New Wave/80s/Duran Duran, o “conjunto comercial” se revoltou, principalmente Mark Hollis (vocalista e band leader), e começaram uma nova era. Imersos no estúdio, experimentalismos, texturas, até os lançamentos de Spirit of Eden (pela Parlophone, que desistiu dos caras rapidinho) e Laughing Stock (Polydor).
As evidências atestam que o usuário de heroína era o irmão de Mark Hollis: Ed Hollis, que produziu The Damned e Stiff Little Fingers. Esta última, queridinha de Bob Forrest e John Frusciante (e assim vamos formando uma grande corrente da “brown sugar” e da música decorrente dela, ou por causa dela).
Apesar de Mark negar o uso de drogas (álcool à vontade) e escrever letras em homenagem ao irmão (que não sobreviveu aos pesados anos 80 – mesmo que fiquem lembrando desta era como se apenas fosse fluorescente e repleta de homens maquiados), a sonoridade dos dois últimos álbuns do Talk Talk é perturbadora. No bom sentido, quero dizer.
Nos anos 80 há coisas boas, verdade, eu juro. Smiths ali, post punk acolá, o combo Joy Division / New Order, alguma coisa mais sincera no hard rock, tem muito mais que não entrarei em detalhes agora, e ali em 88, o Spirit of Eden; estourando a década, vem o Laughing Stock em 91.
Imagino agora se em cada década tem uma banda que vai atingir esse nível, porque o que me vem à cabeça, é que o Talk Talk fez pelos anos 80 e pela pobre New Wave, o que o Television fez pelos 70 e pelo pobre Punk Rock (enquanto música, ambos são pobres; enquanto movimento, ambos transgressores, não venham chorar por causa disso). A fusão de rock e jazz é sempre certeira, e carregada, consequentemente, de melancolia. Mistura-se a isso um bando de jovens que amadureceram e descobriram o prazer de passar horas desafiando até onde a melodia pode chegar.
E provavelmente, muita heroína. Ainda não engoli essa de cara limpa. Lá no início falei que fazia uma pesquisa, certo? O objetivo é descobrir, compreender, constatar, whatever...que existe um som particular que os junkies exploram e é comum a todos. Independente da época, de estar no mainstream ou no submundo. Tem algo ali que se destaca. É como o I-Doser, ele trabalha numa certa freqüência que pressupõe levar ao efeito de tal sensação ou droga. Penso que, sob o efeito da heroína, se atinge uma freqüência cerebral na qual determinadas nuances e harmonias são mais latentes, e agradáveis, e belas.
Por isso é uma pesquisa, porque enquanto não evidenciar nada, é só paranóia minha.
O que importa para todos é o grande achado musical. Um grupo muito bom, subestimado e jogado no limbo. Me atrevo a dizer mais. Um certo Thom Yorke certamente bebeu dessa água, assim como o post rock.
- Pra quem quiser saber mais, tem uma página bem bacana aqui:
http://users.cybercity.dk/~bcc11425/
- Pra quem quiser baixar, procure no isohunt.com. Se encontrar links diretos, me indique.
- Pra quem acredita na NME, um trecho de resenha:
Sobre o Laughing Stock - “The whole thing is unutterably pretentious and looks over its shoulder hoping that someone will remark on its 'moody brilliance' or some such. It's horrible.” David Quantick, NME, September 28, 1991.
- Pra quem quer diversão imediata, temos o You Tube:
I Believe in you, a carro-chefe do Spirit of Eden
After the Flood, uma das 6 obras primas do Laughing Stock
No Doubt tocando It´s my life (é impressionante como ela consegue estragar essa música)