terça-feira, junho 26

Milongueiros

Hoje me sinto meio abichornado
Pastorejando uma inquietude estranha
Meu peito é como um fundo de banhado
No silêncio surdo da campanha
No vento há um cheiro de capim queimado
E na garganta, um amargor de canha...

(Abichornado - Colmar Duarte)

Canção apresentada no I Festival da Canção Popular da Fronteira, e desclassificada porque o compositor começou a chorar e não conseguiu terminá-la.

Acho digno.

O que me leva a pensar numa das definições de “gaúcho”, que Vitor Ramil cita no A Estética do Frio. Ga-ü-che, seria uma expressão indígena que significa “homem que chora cantando”.

É engraçado que a literatura especializada vem dizer que “abichornado” é um termo gaudério, mas eu ouço essa palavra desde a quinta série, com a minha professora de literatura, Mademoiselle Patrícia, muito chique e ilustrada.

Hoje me sinto meio abichornada. Preciso de um show do Vitor urgente, e cantar Sapatos em Copacabana mexendo os ombros. Acho que o que o Vitor sentiu quando escreveu essa música, é o mesmo que sinto aqui em Porto Alegre:

escreverei os meus sapatos na tua idéia
escreverei os meus sapatos na tua postura
escreverei os meus sapatos na tua cara
escreverei os meus sapatos no teu verbo
escreverei os meus sapatos nos teus
Copacabana



ERRATA de china manoteada pelo stress acadêmico: A transcrição da origem indígena de "gaúcho" é "guahú-che" e seu significado "gente que canta triste".

Pela atenção, obrigada, tchê.

Nenhum comentário: