segunda-feira, outubro 2

Momento "ao mestre, com carinho"

Nosso Nosferatu contemporâneo. Ele usa no crachá um telefone de emergência, caso tenha um piripaque no meio dos corredores da Academia. Uma imagem encantadora, a do nosso ancião.

Como nos velhos tempos, poder ouvir a História contada na sua forma original, através da oralidade, da expressão, das curiosidades mais deliciosas. Sem essa de bibliografias, embasamento teórico. Exatamente do jeito que você não esquece nunca mais.

Olhando pra ele agora, emocionado contando do avô que trouxe o primeiro cinematógrafo pro RS, e que o pai viu Sarah Bernhardt, linda, nos palcos como Medéia, porém num cineminha de garagem. Eu fico reivindicando aos deuses: não me deixem esquecer, não me deixem.

Já estudei a Revolução Francesa. De trás pra frente, de ponta cabeça, debaixo do saiote e da plataforma da “guillotine”. Mas é esse senhor com um nome americano, um espanhol, e um italiano, que me conta agora que a 5ª Sinfonia de Bethoven foi “dedicada a Napoleão Bonaparte, o herói da Liberdade”, e que mais tarde, quando da ascensão do Império, o gênio alemão riscou de próprio punho a dedicatória na partitura e a renomeou “A Heróica”. Não sei se gosto mais do Napoleão ou de Ludwig.

Depois o velhinho divagou sobre a Divina Comédia, melhor do que o próprio Dante, e se emocionou de novo ao revelar os dizeres do túmulo do grande homem florentino, que descansa exilado em Ravena: “Pátria Ingrata! Nunca terá meus ossos!”.

Olhando pra ele agora, esse tal de Mestre Harry Rodrigues Bellomo, eu tenho a certeza de que só o conhecimento e a memória salvam a humanidade, tal qual a noção do nosso lugar no universo.

E veja, isso é uma aula de Projeto de Pesquisa I (Fotografias e Gravuras)

Cada vez mais, me inclino a tornar esse blog um diário de fato. Vai ser de muito mais valia para quem estiver procurando descobrir as coisas do “meu tempo”. E pra mim também, em alguns anos.

Não me deixe esquecer, não me deixe.


(a gravura acima, é de Gustave Doré, minha observação: foda)

Um comentário:

Bruno Pommer disse...

não foi a 3ª?
E, hm, parece interessante esse velhinho. como eu não sou teu colega, tem coisas dele publicadas por aí?