segunda-feira, julho 7


Oe.

Acabou. Férias por tempo indeterminado e forçadamente. Amo todos ao meu redor. E o John, que tá sempre aqui também. Meu filho tá lindo, grande, maduro, e com um sorriso matador.

California dreamin’, in such winter’s day!

Julho é mês de tirar o violão da capa e chorar batendo corda. Bater tecla por enquanto tá devagar. Fiquem com mais um trecho de Suíte dos Jovens, que tá lindíssimo e eu não sei até que ponto vem pra cá e até que ponto vai ser mandado pra editoras quando terminado. Faltam dois capítulos, sendo que o último foi o que me levou a escrever, e agora parece o mais idiota e sem importância.

Emptiness replace my soul.


IX
Para meu irmão.

Everybody's raised in blindness
Everybody knows it's true
Everybody feels that everything is real,
anybodys' point of of view
(Who can I be now)


Noite rara. Música alta, uma garrafa de vinho vencida, nenhuma preocupação para o dia seguinte. Só o puro e simples ócio, livre pra deixar a realidade em stand by. O que a dez meses seria um rompante de felicidade, hoje é só mais um dia pra passar logo. Eu construí, pra quem achava que era, pra eles, mas a insatisfação de agora é lúgubre. Estou acompanhado do abandono novamente, meu parente mais próximo, e ele nunca percebe que eu queria mesmo era andar sozinho. Sozinho e sem o abandono, é possível? – me pergunto.

Sinto-me em Seattle. Fazia tempo que não acordava e ia dormir com uma mesma chuva. Virou meio que a trilha sonora de hoje, e só sabemos quando muda o ato pelos ventos estrondosos que ladram nas janelas. Gostaria de ver o Guaíba, selvagem, brigando com esse corpo estranho tentando lhe dominar e invadir seu espaço. Essa é a primeira vez que localizo essa história, e agora, no fim, percebo como faz sentido. Porto Alegre não é como qualquer cidade brasileira, pode-se sentir isso nos clichês, ou esperando um ônibus em frente ao shopping, quando sua roupa já está completamente úmida e não adianta mais se esconder da chuva. O que não é melancólico vira nostalgia. E nos sentimos em casa, por mais improvável que seja.

Seattle grita. Não só através da chuva, mas por ser um pedaço que sobrou de alguns anos atrás. Estilhaços no peito de uma vida no máximo volume, sem muitas expectativas, mas insuflada em paixão. A cada gota gelada no rosto, ou na nuca, uma experiência nova estaria por vir. Pois então, não contava que essa série de eventos poderia virar costume, e que a minha cidade imaginária particular fosse se tornar o que outras cidades eram na realidade. Um universo comum, com pessoas e acontecimentos comuns, e problemas que competem a qualquer um resolver.

O que fazer agora com esse composto que foi criado? Esse conjunto complexo de teorias e premissas que não se aplicam, tampouco é assimilado nas conveniências. O que fazer, para que, esse sujeito idealizado com pompas e muito zelo mergulhe dentro do rio e siga os caminhos da corrente, pro lado que for, e na companhia de quem for? Por que se perguntar “quem serei agora?” faz com que milhões de pessoas se entreolhem e continuem a nadar?

Um comentário:

Ronaldo disse...

"O que fazer agora com esse composto que foi criado?" Lindo. Não faria mal me escrever uma linha ou duas qualquer dia desses, durante as tuas "férias", hmm? :)
Saudade, Hyde. Beijo.