quinta-feira, janeiro 13

Rapidinhas fim de férias

There's the moon asking to stay
Long enough for the clouds to fly me away
Well it's my time coming,
I'm not afraid, afraid to die
My fading voice sings of love,
but she cries to the clicking of time
Oh, time,

Wait in the fire, waiting to burn

And she weeps on my arm
Walking to the bright lights in sorrow
Oh drink a bit of wine we both might go tomorrow
Oh my love...
And the rain is falling and I believe my time has come
It reminds me of the pain I might leave behind...

Wait in the fire, waiting to burn

It reminds me of the pain I might leave, leave behind...

And I feel them drown my name
So easy to know and forget with this kiss
I'm not afraid to go but it goes so slow...

Waiting to burn

(Jeff Buckley - Grace)

Um pouco mais de atenção pra mim

A maré estava baixa e era possível enxergar o salitre no fundo daquelas águas, Nina pensou em molhar os pés, adentrando aquele manto azul ela deixou se levar pelos pensamentos e relembrar das coisas às quais havia renunciado.

"Sonny está morando fora do país há 3 anos, e a casa continua bagunçada, não consigo guardar aqueles papéis, álbuns e pratos. Era pro livro ter terminado, era pra ser um livro, e eu não deixei; aquelas músicas não faziam sentido pra mim, e eu sempre me odiei por não ter aquela mesma percepção que o fazia ficar catatônico às vezes, muito mais embriagado do que quando a gente fazia amor....e aqueles pratos, porra! eram horríveis, não combinavam, faziam barulho o dia inteiro na casa ventilada e enchiam de pó. E claro! Eu que tirava o pó daquelas porcarias, se deixasse a tarefa pra ele eram sempre 3 dias seguidos sem quase se falar, como se aquilo fosse prataria de Marselha, por Deus. E ele amava tanto, aquele amontoado de coisas, de objetos sem vida, eu nem percebi que já estava enciumada de tudo aquilo quando pedi pra ele dedicar um dia só pra mim e esquecer tudo. E nem percebi que fazendo isso eu o mandei embora. Embora eu também não tenha me esforçado em dar atenção a ele que estava contido permanentemente nas suas paixões. Agora ele foi, e são uns amontoados de anos dias e horas que eu passo a limpo os rascunhos, faço coletâneas das minhas canções preferidas e janto cada dia em um prato daqueles. Hoje eu como no prato que cuspi."

Mais uma vez ela não percebeu, e por um leve instante ainda pôde enxergar a luz da lua, numa vista distinta, submersa.

*************

Friday's child is planning to go out for the first time
Says
Don't worry Mum
I won't be out that late
Done me playing those passive games right now
They're out of date
You're awfully sweet
Haven't got the time
Growing up so fast
Got better things to do
You can get what you want
So young and lovely
Kicking around in the centre of the town
Looking in shop windows
Those mannequins
Look far too real at night
Friday's child doesn't know if it's awake
Or if it's dreaming
Says
Don't worry Dad
I'll do my bit
I'll raise the flag
I'll be just like you
You can get what you want
So young and lovely
Don't worry Mum
I'm not that dumb
I'll be just like you
Oh, no, why
Why d'you do it?

Blur - Young and Lovely)


Pra uma juventude perfumada

Festa na sexta feira e Carrie havia se preparado há semanas pra sair com os amigos novos. Comprou roupas novas, brincos, um novo baton e tingiu o cabelo de vermelho. Tinha que ser tudo novo, com cheiro de juventude e efemeridade. Na calçada os rapazes gritavam, entoavam hinos da sua geração, que iam percorrendo pela crueldade do individualismo sobre as pessoas, e a depressão latente na pouca idade.

Ela acenou da porta e saiu correndo em direção a eles. Mamãe ficou olhando pelo pedacinho descoberto de cortina na janela, constatando o momento em que estava lançando sua cria para a caça. Nunca considerou essa situação, foi custoso, desgastante, logicamente materno.

O clube estava cheio, não havia seguranças, fiscalização de tipo algum. Os jovens queriam oportunidades simples para viver emoções fortes, talvez os jovens sempre pensarão dessa maneira. Porém, Carrie sempre desejou o impossível, o não palpável, pra que suas expectativas não virassem frustração nunca, a fim de tornar eternos os sonhos. Ela lotou a noite, bebeu de todos, debruçou-se à mesa para experimentar o alvi-tesouro, foi feliz, conquistou os transeuntes e retornou à mesa novamente, quatro, cinco, seis vezes...mais seis pra multiplicar a euforia, a agonia, o gozo, o efêmero, as luzes, as luzes, apagando acendendo, subindo, descendo, esse cara, na sua frente, ofegante, pra cima, pra baixo, urrando como um guepardo, e era tão bom, tão libertino e libertador, olhos catalisadores, enfim, uma estrela, brilhando, pálida e sorridente.

Pára o tempo, chega mais próximo, um olhar triste fixado, por que tão triste se está tão bom? Ouve-se um burburinho, luzes, são acesas, não há como escapar da vitrine humana. Um brilho metálico no torso daquele conquistador barato. Era sua mãe, ela tremia como um suíno espasmódico em seu assassinato, mais luzes, mais um olhar de tristeza, e seguiu-se o de desprezo, logo após o de asco, e por fim a matriarca aconchega a arma na própria boca e dispara ao escapismo condicional.

Carrie, na fantasia de realizar tudo como um sonho, desperta no dia seguinte, a casa vazia, alguns viventes deitados no chão, tentando achar uma agulha não tão suja para finalizar o restante da beleza notívaga, e ao seu lado, um corpo velho, meio disforme é verdade, numa poça quase plástica de algum fluído viscoso e pardo. sem titubear levantou-se e saiu do estabelecimento destinando-se ao seu lar.

Foi tentar dormir mais um pouco, quando acordou, mamãe havia saído, fazer compras talvez. Não havia café preparado, abriu a geladeira e tomou um pouco de refrigerante, solicitou uma pizza pelo telefone, tomou banho, se alimentou. Uns amigos ligaram pra convidá-la a outra festa imperdível...mas a mãe não havia chegado. Resolveu ser mais madura, vestiu o outro traje que havia comprado, passou o baton novo, e deixou um bilhete:

"Mamãe, fui encontrar o pessoal novamente, não chegarei tarde, fica com Deus, beijos, Carrie"

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