2008pra começar o ano uma parte do mais novo conto/novela/whatever que eu ando produzindo. e como anda parado, resolvi largar a preview.“Nothing´s gonna change my world”
(Across the Universe)
Antes de escrever qualquer coisa, pensava que essa parte seria a mais difícil. Por falar de mim e também por ser sobre uma canção dos Beatles. É difícil falar qualquer coisa a mais do que os Beatles sem usar as palavras deles e se tornar um pouco plagiador. Numa reflexão mais profunda, qualquer coisa que passarmos ou sentirmos será um plágio de Beatles. Vou então esclarecer que este excerto da história é uma homenagem aos Quatro Fabulosos, pra não ficar feio nem pobre, nem repetitivo.
Nesses tempos fui ao cinema assistir Across the Universe. Ele tem o início perfeito, com um rapaz chamado Jude cantando Girl e olhando pro espectador. Todas as histórias de amor deveriam começar a serem contadas dessa forma. “Is there anybody going to listen to my story? All about the girl who came to stay. She´s the kind of girl you want so much, it makes you sorry. Still you don´t regret a single day. Oh! Girl”. Fato. O filme é maravilhoso, e eu espero que qualquer pessoa que esteja lendo isso agora, procure assistí-lo. Hey, você do futuro, ultimamente, nesse meu tempo, ninguém faz nada que seja atemporal, e esse filme é uma exceção, por favor, não deixe isso passar!
Mas o que eu queria comentar é que nunca havia prestado atenção em um trecho de If I Fell. Que diz:
I´ve been in love before
And I found that love was more
Than just holding hands
Ou melhor, esse trecho nunca havia tido algum sentido, que não lírico, até então. Houve um episódio em que eu e Henrique tivemos uma boa noite, e posteriormente, quando saímos à rua, automaticamente fui dar minha mão para caminharmos e ele recusou. Seguiu-se uma série de divagações teórico-filosóficas e eu me mantive serena e semi-imparcial (um pouco exaltada, nada absurdo) quando na verdade gostaria de ter uma discussão daquelas em que o casal começa a gritar em público. Eu entendia, os Beatles também, o Henrique ainda não. Não poderia haver circunstância melhor pra descobrir que não estava sozinha do que ali, na frente da tela grande. Chorei sorrindo, aliviada finalmente.
Já teve alguém que falou com muita propriedade das mãos dadas, e é brasileiro por incrível que pareça (ou não, sou defensora de que a língua portuguesa é a única capaz de dizer qualquer coisa por falta de vocábulo nas outras). Drummond disse: “Não nos afastemos, vamos de mãos dadas”. Mãos dadas é o mínimo, e não o máximo. “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”. Pois é...
Falar de mim vai ser sempre assim, vai ser falando dos meus heróis, vai ser dizendo que eles me entendem e que os outros não, vai ser falando das músicas, dos livros, do cinema e da piada que um amigo me contou ontem. Referências. Sou um apanhado de referências. Um peixe grande, pegando tudo que está na frente, sempre com sede, muita água, sempre aumentando pra que fique mais interessante e bonito. Porque a vida não é como ela acontece, mas como você a vive, e como você a descreve. Tudo pode ser verdade, como pode não ser, e ser tão melhor quanto. A vida é o que se cria dentro de você, como um filho, como uma história. Quanto mais seu filho cresce, mais ele fala sobre você, mais ele te representa. Seu filho e sua história, as únicas coisas que são passíveis de continuar sem a sua presença.
Referências. Hoje eu sou mil vezes Race for the prize e todos os seus acordes. A intro mais linda que ouvi em 2007, um dos meus poucos alívios ao final desse ano. A vontade é de botar ela pra tocar aqui e o Wayne Coyne pra girar na bolha... Façam isso por mim.
Two scientists were racing
For the good of all mankind
Both of them side by side
So determined
Veja. Encontrei uma música-tema pra mim e pro Henrique, agora que ele está longe. Obra de um amigo especial. Tenho tantos amigos especiais que a única coisa que posso fazer é agradecer aos deuses por todas as pessoas que me cercam, que ora somos nós, ora são eles. Bem, essa é pra eles.
Agora eu cheguei aqui, numa história que seguia os tons de um disco do Bowie, mas que tem um cover de Beatles, que desvirtua a coisa toda, que me leva pra um filme contemporâneo, que tem um de seus altos momentos numa canção que um amigo gravou em casa em 2005 e me deixou completamente devastada quando vi o filme e descobri seu verdadeiro sentido, e escorrega pro presente onde me arrependo de não estar num festival o ano passado. No fim das contas tudo tem o mesmo fim. Fazer parte da hiper rotatividade de informações necessárias (nem sempre importantes) para a formação de uma única vivência em particular. A minha. Só que estamos no século XXI, e tem milhares de loucos sem-vergonhas como eu por aí. Logo, tudo isso fará sentido pra muitos de vocês. Mas não me parem na rua pra falar que o seu Henrique era igualzinho. Eu sei disso! A vida muda, nós não mudamos, e somos milhares de iguais que serão estudados pelas Ciências Humanas em menos de 50 anos. Tenha sempre isso em mente e pare de tentar agir com exclusividade.
Nada vai mudar meu mundo. Nem o seu.